quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Escatologia Geral

I. A Segunda Vinda de Cristo
Enquanto os profetas não distinguem claramente uma dupla vinda de Cristo, o próprio Senhor e os apóstolos deixam mais que claro que à primeira vinda seguir-se-á uma segunda. Jesus se referiu ao Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu retorno mais de uma vez, para o fim do Seu ministério público, Mt 24.30; 25.19, 31; 26.64; Jo 14.3. Ao tempo da Sua ascensão, anjos apontaram para o Seu regresso, At 3.20, 21; Fp 3.20; 1 Ts 4.15, 16; 2 Ts 1.7, 10; Tt 2.13; Hb 9.28.
Vários termos são empregados para denotar este grande evento, dos quais os seguintes são os mais importantes: (1) apocalypsus (desvendamento, revelação), que indica a remoção daquilo que agora obstrui a nossa visão de Cristo, 1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7, 13; 4.13; (2) epiphaneia (aparecimento, manifestação), termo referente à vinda de Cristo, saindo Ele de um substrato oculto com as ticas bênçãos da salvação, 2 Ts 2.8; 1 Tm 6.14; 2 Tm 4.1, 8; Tt 2.13; e (3) parousia (literalmente, presença), que assinala a vinda que precede a presença ou que resulta na presença, Mt 24.3, 27, 37; 1 Co 15.23; 1 Ts 2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Ts 2.1-9; Tg 5.7, 8; 2 Pe 1.16; 3,4, 12; 1 Jo 2.28.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg 699)

A segunda Vinda, um Evento Único.

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10.
Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”. De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ).
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Os grandiosos eventos que precederão a segunda vinda

De acordo com a Escritura, importantes eventos deverão ocorrer antes do retorno do Senhor, e, portanto, não se lhe pode chamar iminente. À luz da Escritura, não de pode afirmar que não há eventos preditos que ainda não devam acontecer antes da segunda vinda. Como se poderia esperar em vista do que foi dito na seção anterior, Frost, a despeito do seu dispensacionalismo, rejeita a doutrina da iminência. Ele prefere falar da vinda de Cristo como “impendente”. Acha-se apoio para a doutrina da iminência da volta de Cristo nas declarações bíblicas de que Cristo virá “dentro de pouco tempo”, Hb 10.37; ou “sem demora”, Ap 22.7; nas exortações para que vigiemos e esperemos por Sua vinda, Mt 24.42; 25.13; Ap 16.15; e no fato de que a Escritura condena a pessoa que diz, “Meu Senhor demora-se” (ou, “retarda a sua vinda”), Mt 24.48. De fato Jesus ensinava que a Sua vinda estava próxima, porém isto não é o mesmo que ensinar que era iminente.
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que, ao falar de Sua vinda, Ele nem sempre está pensando na vinda escatológica. Às vezes Ele se refere à Sua vinda em poder espiritual no dia de Pentecoste; às vezes à Sua vinda em julgamento, na destruição de Jerusalém. Em segundo lugar, Ele e os apóstolos nos ensinam que terão que ocorrer vários eventos importantes antes do Seu retorno físico no ultimo dia, Mt 24.5-14, 21, 22, 29-31; 2 Ts 2.2-4. Portanto, Cristo não poderia descrever com muita propriedade a Sua vinda como iminente. Também é evidente que, quando Ele falava da Sua vinda como próxima, não tencionava retrata-la como imediatamente às portas. Na parábola dos talentos Ele ensina que o senhor dos servos voltou para ajustar contas com eles “depois de muito tempo”, Mt 25.19. e a parábola dos talentos foi contada justamente com o propósito de corrigir a noção de “que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente”, Lc 19.11. Na parábola das dez virgens se faz referência à demora do noivo – “tardando o noivo”, Mt 25.5. Isso está em harmonia com o que Paulo diz em 2 Ts 2.2. Pedro predisse surgiriam escarnecedores dizendo: “Onde está a promessa da sua vinda?” (ou, na versão utilizada pelo Autor, “onde está o dia da sua vinda?”). E ensina os seus leitores a compreenderem as predições da proximidade da segunda vinda conforme o ponto de vista divino, segundo o qual um dia é como mil anos, e mil anos como um dia, 2 Pe 3.3-9. Ensinar que Jesus considerava a segunda vinda como imediatamente às portas seria dizer que Ele errou, visto que já se passaram quase dois mil anos desde aquele tempo.
Agora, pode-se levantar a questão: Como então podemos ser concitados a velar pela vinda? Jesus nos ensina em Mt 24.32, 33 a vigiar por Sua vinda pelos sinais: “quando virdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas”. Além disso, não precisamos interpretar a exortação à vigilância como uma exortação a esquadrinhar os céus em busca de sinais imediatos do aparecimento do Senhor. Antes, devemos ver nela uma admoestação para estarmos despertos, alerta, preparados, ativos na realização da obra do Senhor, para não sermos surpreendidos por repentina calamidade. Os seguintes eventos grandiosos devem preceder a vinda do Senhor.
1. O CHAMAMENTO DOS GENTIOS. Várias passagens do Novo testamento assinalam o fato de que o Evangelho do Reino deverá ser pregado a todas as nações antes da volta do Senhor, Mt 24.14; Mc 13.10; Rm 11.25. Muitas passagens atestam que os gentios entrarão no Reino em grande número, durante a nova dispensação, Mt 8.11; 13.31, 32; Lc 2.32; At 15.14; Rm 9.24-26; Ef 2.11-20, e outras passagens. Mas os textos acima indicados referem-se claramente à evangelização de todas as nações como a meta da história. Ora, dificilmente funcionará dizer que o Evangelho já foi proclamado entre todos os povos, nem tampouco que os labores de um único missionário em cada uma das nações do mundo preenchem todos os requisitos da afirmação de Jesus. Por outro lado, é igualmente impossível sustentar que as palavras do Salvador requerem a pregação do Evangelho a todos os indivíduos das diferentes nações do mundo. Contudo, eles exigem que essas nações, como nações, sejam completamente evangelizadas, de modo que o Evangelho se torne um poder na vida do povo, um sinal que reclama decisão. Deve ser pregado a elas para testemunho, para poder-se dizer que lhes foi dada uma oportunidade para se decidirem pró ou contra Cristo e Seu reino. Essas palavras implicam claramente que a grande comissão deve ser levada a cabo em todas as nações do mundo, a fim de se fazerem discípulos de todas as nações, isto é, dentre o povo de todas as nações. Todavia, elas não justificam a expectação de que todas as nações, de maneira total e completa, aceitarão o Evangelho, mas somente que se encontrarão adeptos em todas as nações e, assim, essa proclamação servirá de instrumento para chegar-se à plenitude dos gentios. No final dos tempos será possível dizer que a todas as nações foi dado conhecer o Evangelho, e o Evangelho testificará contra as nações que não o aceitaram.
Do que acima foi dito se compreenderá prontamente que muitos dispensacionalistas têm um conceito muito diferente desta matéria. Não acreditam que a evangelização do mundo precisa ser, nem que será completada antes da parousia, que é iminente. De acordo com eles, ela realmente começará naquela ocasião. Eles assinalam que o Evangelho indicado em Mt 24.14 não é o Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo, mas o Evangelho do Reino, que é completamente diferente, as boas novas de que o Reino mais uma vez está às portas. Depois que a igreja for removida deste cenário terreno, e com ela retirar-se o Espírito Santo que nela habita – o que realmente significa, após terem sido restauradas as condições do Velho Testamento – só então o Evangelho com o qual Jesus começou o seu ministério tornará a ser pregado. A princípio será pregado pelos que foram convertidos pelo própria remoção da igreja, e mais tarde, talvez por Israel convertido e um mensageiro especial, ou, particularmente durante a grande tribulação, pelo remanescente fiel de Israel. Essa pregação será maravilhosamente eficaz, muitíssimo mais eficaz que a pregação do Evangelho da graça de Deus. Será durante esse período que os 144.000 e a grande multidão que ninguém poderá contar, de Ap 7, se converterão. E dessa maneira se cumprirá a predição de Jesus registrada em Mt 24.14. Devemos lembrar que esta formulação os premilenistas mais antigos não aceitavam, e mesmo agora é rejeitada por alguns dos premilenistas atuais, e, certamente, não se recomenda a nós. A distinção entre um duplo Evangelho e uma dupla vinda do Senhor é insustentável. O Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo é o único Evangelho que salva e que dá entrada no reino de Deus. E é absolutamente contrário à história da revelação, que um regresso às condições do Velho Testamento, incluída a ausência da igreja e do Espírito santo que nela habita, seja mais eficaz que a pregação do Evangelho da graça de Deus em Jesus Cristo e do que o dom do Espírito Santo.
2. CONVERSÃO DO PLEROMA DE ISRAEL. Tanto o Velho Testamento como o Novo falam de uma futura conversão de Israel, Zc 12.10; 13.1; 2 Co 3.15, 16, e Rm 11.25-29 parece relacionar isto com o fim dos tempos. Os premilenistas têm explorado este ensinamento escriturístico para os seus propósitos particulares. Eles afirmam que haverá uma restauração e uma conversão nacionais de Israel, que a nação judaica será restabelecida na Terra Santa, e que isso terá lugar imediatamente antes ou durante o reino milenar de Jesus Cristo. É muito duvidoso, porém, que a Escritura dê base para a expectação de que Israel, nesses tempos finais, será restabelecido como nação,* e, como nação, se converterá ao Senhor. Algumas profecias parecem predizer isso, mas elas devem ser lidas à luz do Novo Testamento. O Novo Testamento justifica a expectação de uma futura restauração e conversão de Israel? Isto não é ensinado, nem sequer implicitamente, em passagens como Mt 19.28 e Lc 21.24, freqüentemente citadas em seu favor.
O Senhor falou com muita clareza da oposição dos judeus ao espírito do Seu reino, e da certeza de que eles, que num sentido podiam ser chamados filhos do Reino, perderiam o seu lugar nele, Mt 8.11, 12; 21.28-46; 22.1-14; Lc 13.6-9. Ele informa os judeus ímpios que o Reino será tirado deles e dado a uma nação que produz frutos dignos do Reino, Mt 21.43. E mesmo quando fala das diversas formas de corrupção que, com o correr do tempo, se insinuariam na igreja, das dificuldades que ela enfrentaria, e da apostasia que finalmente lhe sobreviria, Ele não dá a entender nenhuma prospectiva restauração e conversão do povo judeu. Este silêncio de Jesus é muito significativo. Ora, pode-se pensar que Rm 11.11-32 certamente ensina a futura conversão da nação de Israel. Muitos comentadores adotam esta idéia, mas mesmo que a corrupção dela está sujeita a considerável dúvida. Nos capítulos 9-11 o apóstolo discute a questão sobre como as promessas de Deus a Israel podem ser conciliadas com a rejeição da maior parte de Israel. Primeiramente, ele assinala nos capítulos 9 e 10 que a promessa se aplica, não a Israel segundo a carne, mas ao Israel espiritual; e, em segundo lugar, que Deus ainda tem os seus eleitos no seio de Israel, que ainda há nele um remanescente conforme a eleição da graça, 11.1-10. E mesmo o endurecimento da maior parte de Israel ainda não é o derradeiro fim para Deus, mas, antes, um meio em Suas mão para levar a salvação aos gentios, a fim de que estes, por sua vez, pelo gozo das bênçãos da salvação, provoquem a inveja de Israel. O endurecimento de Israel sempre será parcial, pois, através dos sucessivos séculos, sempre haverá alguns que aceitam o Senhor. Deus continuará reunindo os Seus eleitos remanescentes dos judeus durante toda a nova dispensação, até à plenitude (pleroma, isto é, o número total dos eleitos) dos gentios, e, assim (desta maneira), todo o Israel (seu pleroma, isto é, o número total dos verdadeiros israelitas) será salvo. “Todo o Israel” deve entender-se como um designativo, não da nação toda, mas do número total dos eleitos, do povo da antiga aliança. Os premilenistas tomam o versículo 26 no sentido de que, após Deus ter completado o Seu propósito com os gentios, a nação de Israel será salva. Mas, no início da sua discussão do assunto, disse o apóstolo que as promessas eram para o Israel espiritual; não há evidência de mudança do pensamento na seção intermediária, de sorte que esta viria como uma surpresa em 11.26; e o advérbio houtos não pode significar “depois disso”, mas unicamente “desta maneira” (“assim”). Com a plenitude dos gentios se entraria também na plenitude de Israel.
3. A GRANDE APOSTASIA E A GRANDE TRIBULAÇÃO. Estas duas podem ser mencionadas juntas, porque estão entrelaçadas no discurso escatológico de Jesus, Mt 24.9-12, 21-24; Mc 13.9-22; Lc 21.22-24. As palavras de Jesus indubitavelmente encontraram cumprimento parcial nos dias que precederam a destruição de Jerusalém, mas é evidente que terão cumprimento maior no futuro, numa tribulação que sobrepujará tudo quanto já foi experimentado, Mt 24.21; Mc 13.19. Paulo também fala da grande apostasia em 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5. Ele já via algo desse espírito de apostasia em seus próprios dias, mas se vê claramente que ele quer calcar em seus leitores que essa apostasia assumirá proporções muito maiores nos últimos dias.
Aqui, de novo, os dispensacionalistas dos dias presentes divergem de nós. Eles não consideram a grande tribulação como precursora da vinda de Jesus (paousia), mas acreditam que se dará em seguida à “vinda” e que, portanto, a igreja não passará pela grande tribulação. O que supõem é que a igreja será “arrebatada” para estar com o Senhor, antes de sobrevir a tribulação, com todos os seus terrores, aos habitantes da terra. Eles preferem falar da grande tribulação como “o dia da aflição de Jacó”, visto que será um dia de grande angústia para Israel, e não para a Igreja. Mas os fundamentos que eles aduzem para este conceito não são muito convincentes. Alguns deles extraem toda força que podem da sua própria noção preconcebida de uma dupla segunda vinda de Cristo, e, portanto, não tem nenhum sentido para os que estão convictos de que não há prova dessa dupla vinda na Escritura.
Jesus, por certo, menciona a grande tribulação como um dos sinais da Sua vinda e do fim do mundo, Mt 24.3. É dessa vinda (parousia) que Ele está falando através de todo esse capítulo, como se pode ver pelo emprego repetido da palavra paurosia, versículos 3,37, 39. É simplesmente razoável supor que Ele está falando da mesma vinda no versículo 29, vinda que se seguirá imediatamente à tribulação. Essa tribulação afetará os eleitos também: correrão perigo de extraviar-se, Mt 24.24; por amor deles esses dias serão abreviados, versículo 22; serão reunidos dos quatro cantos do mundo por ocasião da vinda do Filho do homem, vers. 31; e serão encorajados a erguer as cabeças quando virem acontecer essas coisas, visto estar próxima a sua redenção, Lc 21.28. Não há base para limitar esses eleitos de Israel, como fazem os premilenistas. Paulo descreve claramente a grande apostasia como anterior à segunda vinda, 2 Ts 2.3, e lembra a Timóteo o fato de que tempos difíceis sobrevirão nos últimos dias, 1 Tm 4.1, 2; 2 Tm 3.1-5. Em Ap 7.13, 14 se diz que os santos no céu saíram da grande tribulação, e em Ap 6.9 vemos esses santos orando por seus irmãos que ainda estavam sofrendo perseguição.
4. A FUTURA REVELAÇÃO DO ANTICRISTO. O termo antichristos só se encontra nas epístolas de João, a saber, em 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7. No que se refere à forma da palavra, ela pode descrever (a) alguém que toma o lugar de Cristo, neste caso, “anti” é entendido no sentido de “em lugar de”; ou (b) alguém que, embora assumindo a aparência de Cristo, opõe-se a Ele; neste caso, “anti” é empregado no sentido de “contra”. Este último está em maior harmonia com o contexto em que ocorre a palavra. Pelo fato de João empregar o singular em 2.18 sem artigo, fica evidente que o termo “anticristo” já era considerado um nome técnico. É incerto se, ao usar o singular, João tinha em mente um Anticristo superior ou supremo, do qual os outros a que se refere eram apenas precursores, ou se simplesmente quis personificar o princípio incorporado em diversos anticristos, o princípio do mal militando contra o reino de Deus. É evidente que o anticristo representa um certo princípio, 1 Jo 4.3. Se tivermos isto em mente, perceberemos que, embora João tenha sido o primeiro a empregar o termo “anticristo”, o princípio ou espírito indicado por esse termo é claramente mencionado em escritos anteriores. Assim como há na Escritura um desenvolvimento claramente assinalado no delineamento de Cristo e do reino de Deus, também há uma revelação progressiva do anticristo. As representações diferem, mas vão se tornando cada vez mais definidas, conforme avança a revelação de Deus.
Na maioria dos profetas do Velho Testamento vemos o princípio da injustiça operando nas nações ímpias que se mostram hostis para com Israel e são julgadas por Deus. Na profecia de Daniel vemos algo mais específico. A linguagem ali empregada forneceu muitas características da descrição que Paulo faz do homem do pecado em 2 Tessalonicenses. Daniel vê o ímpio, iníquo, encarnado no “pequeno chifre”, Dn 7.8, 23-26, e o descreve com muita clareza em 11.35 e segtes. Ali, nem mesmo o elemento pessoal está faltando, conquanto não seja inteiramente certo que o profeta está pensando nalgum rei particular, a saber, em Antíoco Epifânio, como um tipo de Anticristo. Naturalmente, a vinda de Cristo revela esse princípio em sua forma especificamente anticristã, e Jesus o descreve como encarnado em várias pessoas. Ele fala dos pseudoprophetai e dos pseudichristoi, que tomam posição contra Ele e contra o Seu reino, Mt 7.15; 24.5, 24; Mc 13.21, 22; Lc 17.23. Com o fim de corrigir o conceito errôneo dos tessalonicenses, Paulo chama a atenção para o fato de que o dia de Cristo não pode vir “sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição”. Ele descreve esse homem do pecado como aquele que “se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”, 2 Ts 2.3, 4. Esta descrição nos lembra Dn 11.36 e segtes., e claramente aponta para o Anticristo. Não há boa razão para duvidar da identidade do homem da iniqüidade (ou do pecado) de que fala Paulo, com o Anticristo mencionado por João. O apóstolo Paulo vê “o ministério da iniqüidade” já em ação, mas garante aos seus leitores que o homem da iniqüidade não poderá vir enquanto não for afastado do caminho aquilo ou “aquele que” o detém. Quando esse obstáculo, seja este qual for (há várias interpretações), for retirado, aparecerá o homem do pecado “segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira”, versículos 7-9. Nesse capítulo o elemento pessoal é pressuposto do começo ao fim. O Livro de Apocalipse encontra o princípio ou poder anticristão nas duas bestas que saíram do mar e da terra, Ap. 13. Geralmente se pensa que a primeira se refere a governos, poderes políticos, ou a algum império mundial; a segunda, embora não com a mesma unanimidade, à religião falsa, à falsa profecia e à falsa ciência, particularmente às duas primeiras. A este princípio oponente, ou de oposição, João chama finalmente Anticristo, em suas epístolas.
Historicamente, há diferentes opiniões a respeito do Anticristo. Na igreja antiga, muitos afirmavam que o Anticristo seria um judeu com a pretensão de ser o Messias e governando em Jerusalém. Muitos comentadores são de opinião que Paulo e outros pensavam, equivocadamente, que um imperador romano seria o Anticristo, e, de que, evidentemente, João tinha Nero em mente, ao escrever Ap 13.18, visto que as letras das palavras hebraicas para “imperador Nero” equivalem exatamente a 666, em Ap 13.18. Desde os tempos da Reforma, muitos, entre os quais também eruditos reformados (calvinistas), consideravam a Roma papal e, nalguns casos, até mesmo algum papa em particular, como Anti-Cristo. E, na verdade, o papado revela várias características do Anticristo, como este vem descrito na Escritura. Todavia, dificilmente poderíamos identifica-lo com o Anticristo. É melhor dizer que há elementos do Anticristo no papado. Positivamente, só podemos dizer: (a) que o espírito anticristão já estava em ação nos dias de Paulo e de João, segundo o próprio testemunho deles; (b) que ele alcançará o seu poder supremo nas proximidades do fim do mundo; (c) que Daniel retrata a sua faceta política, Paulo a eclesiástica, e João, em Apocalipse, retrata ambas as facetas: ambas podem ser revelações sucessivas do poder anticristão; (d) que, provavelmente, esse poder afinal se concentrará num só indivíduo, vindo a ser a encarnação da iniqüidade.
A questão do caráter pessoal do Anticristo ainda está sujeita a debate. Alguns afirmam que as expressões “anticristo”, “homem da iniqüidade” (ou “do pecado”), “o filho da perdição”, e as figuras de Daniel e de Apocalipse são apenas descrições do princípio ímpio e anticristão, que se manifesta na oposição do mundo a Deus e a Seu reino, através de toda a história desse reino, oposição ora mais fraca, ora mais forte, mas ainda mais forte nas proximidades do fim dos tempos. Eles não estão em busca de nenhum Anticristo pessoal. Outros acham que é contrário à Escritura falar do Anticristo meramente como um poder abstrato. Estes sustentam que tal interpretação não faz justiça aos dados da Escritura, que não somente fala de um espírito abstrato, mas também de pessoas reais. Segundo eles, “Anticristo” é um conceito coletivo, o designativo de uma sucessão de pessoas a manifestar um espírito ímpio ou anticristão, tais como os imperadores romanos que perseguiram a igreja e os papas que se engajaram numa similar obra de perseguição. Mesmo estes não pensam num Anticristo pessoal que será em si mesmo a concentração de toda a iniqüidade. Contudo, a opinião mais geral no seio da igreja é que, em última análise, o termo “Anticristo” denota uma pessoa escatológica, que será a encarnação de toda a iniqüidade e, portanto, representa um espírito que sempre está presente no mundo, ora mais, ora menos, e que tem diversos precursores ou tipos na história. Este conceito prevaleceu na Igreja Primitiva e, ao que parece, é o conceito escriturístico. Pode-se dizer o seguinte, em seu favor: (a) O esboço do Anticristo em Dn 11 é mais ou menos pessoal, e pode referir-se a uma pessoa definida como um tipo de Anticristo. (b) Paulo fala do Anticristo como “o homem da iniqüidade” e como “o filho da perdição”. Devido ao peculiar emprego hebraico dos termos “homem” e “filho”, estas expressões , em si mesmas, podem não ser conclusivas, mas o contexto favorece a idéia de pessoa. Ele se levanta contra, ostenta-se como se fora Deus, tem uma revelação definida, é o iníquo, e assim por diante. (c) Embora João fale de muitos anticristos como já presentes, fala também do Anticristo no singular, como alguém que ainda virá no futuro, 1 Jo 2.18. (d) Mesmo no Livro de Apocalipse, onde a apresentação é grandemente simbólica, não falta o elemento pessoal, como por exemplo, em Ap 19.20, que fala do Anticristo e seu subordinado como sendo lançados no lago de fogo. E (e), desde que Cristo é uma pessoa, é simplesmente natural entender que o Anticristo também será uma pessoa.
5. SINAIS E PRODÍGIOS. A Bíblia fala de vários sinais que precederão o fim do mundo e a vinda de Cristo. Ela menciona (a) guerras e rumores de guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, coisas descritas como o princípio das dores de parto, sendo que o parto é, por assim dizer, o renascimento do universo por ocasião da vinda de Cristo; (b) a vinda de falsos profetas, que levarão muitos a desviar-se, e de falsos Cristos, que exibirão grandes sinais e prodígios para desencaminhar, se possível, até os eleitos; e (c) terríveis portentos nos céus, envolvendo o sol, a lua e as estrelas, quando os poderes dos céus serão abalados, Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25,26. Dado que alguns desses sinais são tais que ocorrem repetidamente na ordem natural dos acontecimentos, surge naturalmente a questão sobre como poderão ser reconhecidos como sinais especiais do fim. Geralmente se chama a atenção para o fato de que eles serão diferentes das ocorrências anteriores em intensidade e extensão. Mas, por certo, isso não satisfaz inteiramente porque os que vêem esses sinais nunca poderão saber, se não houver outras indicações, se aos sinais que estão testemunhando não se seguirão outros sinais parecidos, de ainda maior extensão e intensidade. Portanto, deve-se chamar a atenção para o fato de que, ao se aproximar o fim, haverá uma extraordinária conjunção de todos esses sinais, e de que as ocorrências naturais serão acompanhadas por fenômenos sobrenaturais, Lc 21.25,26. Disse Jesus: “quando virdes todas estas cousas, sabei que está próximo, às portas”. Mt 24.33.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

A segunda vinda, um evento único

Os dispensacionalistas dos dias atuais distinguem duas vindas futuras de Cristo, embora às vezes procurem preservar a unidade da idéia da segunda vinda falando dela como dois aspectos daquele grande evento. Mas, desde que as duas são, na realidade, apresentadas como dois eventos diferentes, separados por um período de vários anos, cada qual com seu propósito, dificilmente poderão ser consideradas como um evento único. A primeira é a paurosia, ou simplesmente “a vinda”, e resulta no arrebatamento dos santos, às vezes descrito como um arrebatamento secreto. Esta vinda é iminente, isto é, pode ocorrer a qualquer momento, visto que não há eventos preditos que devam preceder sua ocorrência. A opinião dominante é que, nesse tempo, Cristo não descerá à terra, mas permanecerá nas alturas. Os que morrem no Senhor ressuscitarão dos mortos, os santos vivos serão transfigurados, e juntos recolhidos para encontrar-se com o Senhor nos ares. Daí, esta vinda é também denominada “vinda para os Seus santos”, 1 Ts 4.15, 16. Seguir-se-á um intervalo de sete anos, durante o qual o mundo será evangelizado, Mt 24.14, Israel se converterá, Rm 11.26, ocorrerá a grande tribulação, Mt 24.21,22, e o anticristo ou homem do pecado será revelado, 2 Ts 2.8-10.
Depois destes eventos, haverá outra vinda do Senhor com os seus santos, 1 Ts 3.13, chamada “revelação” ou “dia do Senhor”, no qual Ele descerá à terra. Esta vinda não pode ser iminente, porque terá que ser precedida por diversos eventos preditos. Quando desta vinda, Cristo julgará as nações existentes, Mt 25.31-46, e introduzirá o reino milenar. Assim, temos duas vindas distintas do Senhor, separadas por um período de sete anos, das quais, uma é iminente e a outra não, uma é seguida pela glorificação dos santos, e a outra pelo julgamento das nações e pelo estabelecimento do reino. Esta elaboração da doutrina da segunda vinda é muito conveniente para os dispensacionalistas, visto que os habilita a defender a idéia de que a vinda do Senhor é iminente, mas não tem base na Escritura e traz implicações antibíblicas. Em 2 Ts 2.1. 2., 8 as expressões parousia e “dia do Senhor” são empregadas uma pela outra, e de acordo com 2 Ts 1.7-10, a revelação mencionada no versículo 7 não se ajusta sincronicamente à parousia de que fala o versículo 10. Mt 24.19-31 apresenta a vinda do Senhor por ocasião da qual os eleitos serão reunidos como sucedendo imediatamente após a grande tribulação mencionada no contexto, ao passo que, de acordo com a teoria em foco, deverá ocorrer antes da tribulação. E, finalmente, segundo esta teoria, a igreja não passará pela grande tribulação, que é apresentada em Mt 24.4-26 em sincronia com a grande apostasia, mas a descrição bíblica em Mt 24.22; Lc 21.36; 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-5; Ap 7.14 é completamente diferente. Com base na Escritura, deve-se afirmar que a segunda vinda do Senhor será um único evento. Felizmente, alguns premilenistas não concordam com esta doutrina de uma dupla segunda vinda de Cristo, e se referem a ela dizendo que é uma novidade sem fundamento. Diz Frost: “Não é um fato sabido em geral, e, não obstante, é incontestável que a doutrina da ressurreição e do arrebatamento anteriores à tribulação é uma interpretação moderna – sou tentado a dizer, uma invenção moderna”. De acordo com o citado autor, ela tem sua origem nos dias de Irving e Darby. Outro premilenista, a saber, Alexander Reese, apresenta um argumento muito forte contra toda esta idéia em sua obra sobre O Impendente Advento de Cristo (The Approaching Advent of Christ).

(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Conceitos milenistas

Há alguns que relacionam com o advento de Cristo a idéia de um milênio, quer imediatamente antes, quer imediatamente depois da segunda vida. Embora esta idéia não seja parte integrante da teologia reformada (calvinista), não obstante merece consideração aqui, visto haver-se tornado bem popular em muitos círculos. A teologia reformada não pode permitir-se ignorar os generalizados conceitos milenistas dos dias atuais, mas deve definir a sua posição com respeito a esses conceitos. Alguns que esperam um milênio no futuro afirmam que o Senhor voltará antes do milênio e, portanto, são chamados premilenistas; ao passo que outros acreditam que a Sua segunda vinda ocorrerá após o milênio, e, daí, são conhecidos como posmilenistas. Numerosos são, porém, os que não crêem que a Bíblia autoriza a expectação de um milênio, sendo costume falar deles como amilenistas.
Como o nome indica, o conceito amilenista é puramente negativo. Afirma que não há suficiente base para a expectação de um milênio e está firmemente convencido de que a Bíblia favorece a idéia de que à presente dispensação do reino de Deus seguir-se-á imediatamente o reino de Deus em sua forma consumada e eterna. Está ciente do fato de que o reino de Jesus Cristo é apresentado como eterno, e não temporal, Is 9.7; Dn 7.14; Lc 1.33; Hb 1.8; 12.28; 2 Pe 1.11; Ap 11.15; e de que entrar no reino do futuro é entrar num estado eterno, Mt 21.22, é entrar na vida, Mt. 18.8.9 (cf. o contexto anterior), e ser salvo, Mc 10.25, 26. Alguns premilenistas dizem que o amilenismo é um conceito novo e uma das novidades mais recentes, mas o certo é que isso não se harmoniza com o testemunho da história. O nome é de fato novo, mas o conceito ao qual é aplicado é tão antigo como o cristianismo. Teve pelo menos o mesmo numero de defensores que teve o quiliasma* entre os chamados pais da igreja do segundo e do terceiro séculos, tidos como o apogeu do quiliasma. Sempre foi o conceito mais amplamente aceito, é o único que vem expresso ou implícito nas grandes confissões históricas da igreja , e sempre foi o conceito predominante nos círculos reformados.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Pré-milenismo

Visto que o premilenismo nem sempre assume a mesma forma, talvez seja bom indicar resumidamente a forma geralmente assumida no passado (deixando de lado toda sorte de aberrações), e depois prosseguir, dando uma descrição mais pormenorizada da teoria premilenista predominante nos dias atuais.
1. O PREMILENISMO DO PASSADO. a idéia de Irineu pode ser dada como a que reflete a melhor dos primeiros séculos cristãos. O mundo atual durará seis mil anos, correspondentes aos seis dias da criação. Para o fim deste período, os sofrimentos e perseguições dos fiéis aumentarão grandemente, até que, por fim, a encarnação de toda a iniqüidade aparecerá na pessoa do Anticristo. Depois que ele tiver completado a sua obra destruidora e se estabelecer atrevidamente no templo de Deus, Cristo aparecerá em glória celestial e triunfará sobre todos os Seus inimigos. Isto será acompanhado pela ressurreição física dos santos e pelo estabelecimento do reino de Deus na terra. O período de ventura milenar, que portanto durará mil anos, corresponderá ao sétimo dia da criação – ao dia de repouso. Jerusalém será reedificada, a terra dará seu fruto com rica abundância; e prevalecerão a paz e a justiça. No fim dos mil anos, sobrevirá o juízo final, e aparecerá uma nova criação, na qual os remidos viverão para sempre na presença de Deus.
Em seus contornos gerais, esta descrição é típica dos conceitos escatológicos dos primeiros séculos cristãos, por mais que possam diferir nalgumas minúcias. Durante todos os séculos subseqüentes e no século dezenove, o pensamento milenista permaneceu o mesmo, embora ocorrendo estranhas aberrações nalgumas seitas. Estudos continuados, porém, levaram a maior desenvolvimento e a maior clareza na apresentação de algumas das suas particularidades. As principais características do conceito comum podem ser expostas mais ou menos como segue: O vindouro advento de Cristo ao mundo está próximo, e será visível, pessoal e glorioso. Contudo, será precedido por certos acontecimentos, tais como a evangelização de todas as nações, a conversão de Israel, a grande apostasia e a grande tribulação, e a revelação do homem do pecado. Tempos trevosos e penosos estão portanto reservados para a igreja, visto que ela terá que passar pela grande tribulação. A segunda vinda será um evento grandioso, único, extraordinário e glorioso, mas será acompanhado por vários outros, impostos à igreja, a Israel e ao mundo. Os santos que já faleceram serão ressuscitados, e os que vivem serão transformados, e juntos serão trasladados para encontrar-se com o Senhor em Sua vinda. O Anticristo e os seus aliados perversos serão mortos; e Israel, o antigo povo de Deus, se arrependerá, será salvo e será restabelecido na Terra Santa. Então o reino de Deus, predito pelos profetas, será estabelecido num mundo transformado. Os gentios se converterão a Deus, em grande número, e serão incorporados no Reino. Prevalecerá em toda a terra uma condição de paz e justiça. Depois de haver-se expirado o governo terreno de Cristo, os mortos restantes ressurgirão; e esta ressurreição será seguida pelo juízo final e pela criação de novos céus e nova terra. Falando em termos gerais, pode-se dizer que este é o tipo de premilenismo defendido por homens como Mede, Bengel, Auberlen, Christlieb, Ebrard, Godet, Hofmann, Lange, Stier, Van Osterzee, Van Andel, Alford, Andrews, Ellicott, Guinnes, Kellog, Zahn, Moorehead, Newton, Trench e outros. Não esquecendo que estes homens divergem nalguns pormenores.
2. O PREMILENISMO DA ATUALIDADE. No segundo quartel do século dezenove, foi introduzida uma nova forma de premilenismo, sob a influência de Darby, Kelly, Trotter e seus seguidores na Inglaterra e na América, um premilenismo entrelaçado com o dispensacionalismo. Os novos conceitos foram popularizados em nosso país* principalmente pela Bíblia de Scofield, e se disseminaram amplamente por meio de obras de homens como Bullinger, F.W.Grant, Blackstone, Gray, Haldeman, os dois Gaebelein, Brookes, Riley, Rogers e uma hoste doutros mais. Eles apresentam realmente uma nova filosofia da história da redenção, na qual Israel desempenha o papel principal, e a igreja não passa de um interlúdio. Seu princípio orientador os move a dividir a Bíblia em dois livros, o Livro do Reino e o Livro da Igreja. Ao ler as suas descrições dos procedimentos de Deus para com os homens, a gente se perde num desnorteante labirinto de alianças e dispensações, sem o fio de Ariadne que ofereça direção segura. Sua tendência divisiva também se revela em seu programa escatológico. Haverá duas segundas vindas, duas ou três (se não quatro) ressurreições, e também três juízos. Além disso, haverá também dois povos de Deus que, segundo alguns, estarão separados eternamente, Israel habitando na terra, e a igreja no céu.
Os seguintes pontos darão uma idéia do esquema premilenista que goza a maior popularidade hoje em dia:
a. Sua visão da história. Deus trata o mundo da humanidade no transcurso da história com base em diversas alianças e conforme os princípios de sete dispensações diferentes. Cada dispensação é distinta, e cada uma delas representa uma diferente prova para o homem natural; e desde que o homem não consegue vencer nas sucessivas provas, cada dispensação acaba num juízo. A teocracia de Israel, fundada no Monte Sinai, ocupa um lugar especial na economia divina. Ela foi a forma inicial do reino de Deus ou do reino do Messias, e teve a sua idade de outro nos dias de Davi e Salomão. Se seguisse o caminho da obediência, poderia ter crescido em poder e glória, mas, em resultado da infidelidade do povo, foi finalmente derrotado, e o povo foi levado para o exílio. Os profetas predisseram essa derrota, mas também trouxeram mensagens de esperança e inspiraram a expectativa de que nos dias do Messias Israel tornaria ao Senhor com vero arrependimento, o trono de Davi seria restabelecido com inexcedível glória, e até os gentios participariam das bem-aventuranças do reino futuro. Mas quando o Messias veio e se ofereceu para estabelecer o Reino, os judeus deixaram de mostrar o requerido arrependimento. O resultado dói que o Rei não estabeleceu o Reino, mas se retirou de Israel e foi para um país distante, pospondo o estabelecimento do Reino, até o Seu regresso. Contudo, antes de deixar a terra, fundou a igreja, que nada tem em comum com o Reino, e da qual os profetas nunca falaram. A dispensação da lei abriu alas para a dispensação da graça de Deus. Durante esta dispensação, a igreja se compõe de judeus e gentios, e forma o corpo de Cristo, que agora participa dos Seus sofrimentos, mas chegará o tempo em que a noiva do Cordeiro participará da Sua glória. Desta igreja Cristo não é Rei, mas a Cabeça divina. Tem ela a gloriosa tarefa de pregar, não o Evangelho do reino,mas o Evangelho da livre graça de Deus, em todas as nações do mundo, para juntar delas os eleitos e, por cima, ser um testemunho ante elas. Este método se evidenciará um fracasso; não efetuará conversões em grande escala. No fim desta dispensação, Cristo voltará subitamente e efetuará uma conversão muito mais universal.
b. Sua escatologia. A volta de Cristo agora é iminente, isto é, Ele pode vir a qualquer momento, pois não há eventos preditos que devam precede-la. Contudo, Sua vinda consiste de dois eventos distintos, separado um do outro por um período de sete anos. O primeiro deles será a parousia, quando Cristo aparecerá nos ares para encontrar-se com os Seus santos. Todos os justos falecidos ressurgirão então, e os que estiverem vivos serão transformados. Juntos serão arrebanhados nos ares, celebrarão as bodas do Cordeiro e estarão para sempre com o Senhor. A trasladação dos santos vivos é chamada “rapto” ou “arrebatamento”, às vezes, “arrebatamento secreto”. Enquanto Cristo e Sua igreja estiverem ausentes da terra, e mesmo o Espírito presente nos crentes tiver partido com a igreja, haverá um período de sete anos ou mais, com freqüência dividido em duas partes, em que sucederão várias coisas. O Evangelho do reino tornará a ser pregado, principalmente, ao que parece, pelos remanescentes crentes dentre os judeus, e resultarão conversões em larga escala, apesar de muitos continuarem a blasfemar contra Deus. O Senhor retomará as Suas relações com Israel e, provavelmente, nesse tempo (embora alguns digam que será mais tarde), este se converterá.
Na segunda metade desse período de sete anos, haverá um período de tribulação sem igual e cuja duração ainda é assunto em discussão. O Anticristo será revelado e o frasco da ira de Deus será derramado sobre a raça humana. No fim do período de sete anos, dar-se-á a “revelação”, isto é, a vinda do Senhor, agora não para os Seus santos, mas com eles. As nações existentes serão então julgadas (Mt 25.31), e as ovelhas serão apartadas dos cabritos; os santos que morreram durante a grande tribulação serão ressuscitados; o Anticristo será destruído; e Satanás será preso por mil anos. Será estabelecido então o reino milenar, um reino concretamente visível, terrestre e material, reino dos judeus, a restauração do reino teocrático, incluindo o restabelecimento da realeza davídica. Nesse reino os santos reinarão com Cristo, os judeus serão os cidadãos naturais, e muitos gentios serão cidadãos adotivos. O trono de Cristo será estabelecido em Jerusalém, que também voltará a ser o local central de culto. O templo será reconstruído no Monte Sião, e o altar exalará de novo o cheiro do sangue dos sacrifícios, sim, das ofertas pelos delitos e pecados. E conquanto o pecado e a morte ainda reclamem suas vítimas, serão dias de grande frutificação e prosperidade, quando a vida dos homens será prolongada e o deserto florescerá como um roseiral. Nesse tempo o mundo se converterá rapidamente, segundo alguns, pelo Evangelho, mas, segundo a maioria, por meios totalmente diferentes, tais como a aparecimento pessoal de Cristo, a inveja provocada pela bem-aventurança dos santos, e, acima de tudo, grandes e terríveis prejuízos. Após o milênio, Satanás será solto por breve lapso de tempo, e as hordas de Gogue e Magogue juntarão forças contra a cidade santa. Todavia, os inimigos serão devorados pelo fogo do céu, e Satanás será lançado numa cova sem fundo, precedido pela besta e pelo falso profeta. Depois desse curto período de tempo, os ímpios ressuscitarão e comparecerão a juízo, perante o grande trono branco, Ap 20.11-15. e então haverá novos céus e nova terra.
c. Algumas variantes desta teoria. De modo algum os premilenistas estão todos de acordo quanto às particularidades do seu esquema escatológico. Um estudo da sua literatura revela grande variedade de opiniões. Há indefinição e incerteza sobre muitos pontos, o que prova que a sua elaboração minuciosa é de valor muito duvidoso. Embora a maioria dos premilenistas dos dias atuais creia num vindouro governo visível de Jesus Cristo, mesmo na atualidade alguns antecipam apenas um governo espiritual, e não têm em vista uma presença física na terra. Conquanto os mil anos de Ap 20 sejam em geral interpretados literalmente, há uma tendência, da parte de alguns para considera-los como um período indefinido de maior ou menor duração. Alguns acham que os judeus se converterão primeiro, de depois serão levados para a Palestina,* ao passo que outros são de opinião que esta ordem será invertida. Há aqueles que crêem que os meios usados para a conversão do mundo serão idênticos aos empregados agora, mas prevalece a opinião de que esses meios serão substituídos por outros. Também há diferença de opiniões quanto ao lugar em que os santos ressurretos vão habitar durante o seu reinado milenar com Cristo, na terra ou no céu, ou em ambos. As opiniões diferem muito também com respeito à continuidade da propagação da raça humana durante o milênio, ao grau de pecado que prevalecerá nesse tempo, à vigência da morte e a muitos outros pontos.
3. OBJEÇÕES AO PREMILENISMO. Na discussão do segundo advento, o conceito premilenista já foi submetido a pesquisas e críticas especiais, e os subseqüentes capítulos, sobre a ressurreição e o juízo final, oferecerão outra ocasião mais para uma consideração crítica da formulação premilenista desses eventos. Daí, as objeções levantadas neste ponto serão de natureza mais geral, e, mesmo assim, só poderemos dar atenção a algumas das mais importantes.
a. A teoria se baseia numa interpretação literal dos delineamentos proféticos do futuro de Israel e do reino de Deus, o que é inteiramente insustentável. Isso tem sido repetidamente assinalado em obras sobre profecia, como as de Fairbairn, Riehm e Davidson, na esplêndida obra de David Brown sobre O Segundo Advento (The Second Advent), no importante livro de Waldegrave sobre o Milenismo Neotestamentário (New Testament Millennarianism), e nas obras do doutor Aalders, mais recentes, sobre Os Profetas da Velha Aliança, e A Restauração de Israel Segundo o Velho Testamento (De Profeten dês Ouden Verbonds, e Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament). O último citado é dedicado inteiramente a um minucioso estudo exegético de todas as passagens do Velho Testamento que, de algum modo, falam da futura restauração de Israel. É um obra exaustiva, que merece estudo cuidadoso. Os premilenistas afirmam que nada menos que uma interpretação e um cumprimento literais satisfarão as exigências dessas previsões proféticas; mas os próprios livros dos profetas já contêm indicações que apontam para um cumprimento espiritual, Is 54.13; 61.6; Jr 3.16; 31.31-34; Os 14.2; Mq 6.6-8. A alegação de que os nomes “Sião” e “Jerusalém” nunca são empregados noutro sentido que no sentido literal de que o primeiro sempre denota uma montanha, e o segundo uma cidade, é claramente contrária aos fatos. Há passagens nas quais ambos os nomes são empregados para designar Israel, a igreja de Deus veterotestamentária, Is 49.14; 51.3; 52.1,2. E este emprego dos termos passa direto para o Novo testamento, Gl 4.26; Hb 12.22; Ap 3.12; 21.9. É notável que o Novo Testamento, que é cumprimento do Velho Testamento, não contém nenhum tipo de indicação do restabelecimento da teocracia do Velho Testamento por Jesus, nem tampouco uma única predição positiva e incontestável da sua restauração, ao passo que contém abundantes indicações do cumprimento espiritual das promessas feitas a Israel, Mt 21.43; At 2.29-36; 15.14-18; Rm 9.25, 26; Hb 8.8-13; 1 Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10.
Para mais pormenores sobre a espiritualização que se vê na Escritura, pode-se consultar a obra do doutros Wijngaarden sobre O Futuro do Reino (The Future of the Kingdom). O Novo Testamento certamente não favorece o literalismo dos premilenistas. Além disso, esse literalismo os larga em toda sorte de absurdidades, pois envolve a restauração futura de todas as antigas condições históricas da vida de Israel: os grandes poderes mundiais do Velho Testamento (egípcios, assírios e babilônicos) e as nações vizinhas de Israel (moabitas, amonistas, edomitas e filisteus) deverão reaparecer em cena, Is 11.14; Am 9.12; Jl 3.19; Mq 5.5, 6; Ap 18. O templo terá que ser reconstruído, Is 2.2; Mq 4.1,2; Zc 14.16-22; Ez 40-48, os filhos de Zadoque terão que servir de novo como sacerdotes, Ez 44.15-41; 48.11-14, e até as ofertas pelos pecados e delitos terão que ser levadas outra vez ao altar, não para comemoração, (como o querem alguns premilenistas), mas para expiação, Ez 42.13; 43.18-27. E em acréscimo a isso tudo, a situação modificada tornaria necessário a todas as nações visitarem Jerusalém anos após ano, para celebrar a festa dos tabernáculos, Zc 14.16, e mesmo após a semana, para prestar culto a Jeová, Is 66.23.
b. A teoria da posposição, assim chamada, que constitui um elo de ligação no esquema premilenista, é desprovida de toda base escriturística. Segundo ela, João e Jesus proclamaram que o Reino, isto é, a teocracia judaica, estava às portas. Mas, porque os judeus não se arrependeram e não creram, Jesus pospôs o seu estabelecimento até à Sua segunda vinda. O pivô da mudança é colocado por Scofield em Mt 11.20, por outros em Mt 12, e por outros, mais tarde ainda. Antes desse ponto decisivo Jesus não se preocupava com os gentios, mas pregava o Evangelho do Reino a Israel; e depois disso Ele não pregou mais o Reino, mas somente predizia a sua vinda futura e oferecia descanso aos cansados de Israel e dos gentios. Mas não se pode afirmar que Jesus não se preocupava com os gentios antes do suposto ponto decisivo, cf. Mt 8.5-13; Jo 4.1-42, nem que depois Ele deixou de pregar o Reino, Mt 13; Lc 10.1-11. Não há absolutamente prova nenhuma de que Jesus pregou dois evangelhos diferentes, primeiro o do Reino e depois o da graça de Deus; à luz da Escritura, esta distinção é insustentável. Jesus nunca teve em mente o restabelecimento da teocracia veterotestamentária, mas, sim, a introdução da realidade espiritual da qual o reino do Velho Testamento era apenas um tipo, Mt 8.11, 12; 13.31-33; 21.43; Lc 17.21; Jo 3.3; 18.36, 37 (comp. Rm 14.17). Ele não pospôs a tarefa para a qual tinha vindo ao mundo, mas de fato estabeleceu o Reino e se referiu a ele mais de uma vez como uma realidade presente, Mt 11.12; 12.28; Lc 17.21; Jo 18.36, 37 (comp. Cl 1.13).
Toda essa teoria de posposição é uma ficção relativamente recente, e deveras passível de objeção, porque destrói a unidade da Escritura e do povo de Deus de modo injustificável. A Bíblia apresenta a relação entre o Velho e o Novo Testamento como a de tipo e antítipo, de profecia e cumprimento; mas essa teoria sustenta que, embora fosse propósito do Novo Testamento ser o cumprimento do Velho Testamento, veio realmente a ser uma coisa inteiramente diferente. O Reino, isto é, a teocracia do Velho Testamento, foi predito e não foi restaurado, e a igreja não foi predita mas foi estabelecida. Assim, os dois ficam separados, e um deles vem a ser o livro do Reino, e o outro, com exceção dos evangelhos, o livro da igreja. Além disso, temos dois povos de Deus, um natural, e o outro espiritual, um terreno, e o outro celestial, como se Jesus não tivesse falado de “um rebanho e um pastor”, Jo 10.16, e como se Paulo não tivesse dito que os gentios foram enxertados na oliveira, Rm 11.17.
c. Essa teoria também está em flagrante oposição à descrição escriturística dos grandes eventos do futuro, a saber, a ressurreição, o juízo final e o fim do mundo. Como se mostrou anteriormente, a Bíblia apresenta esses grandes eventos como sincronizados. Não há mais a leve indicação de que estão separados por mil anos, à exceção do que se vê em Ap 20.4-6. Está patente que eles coincidem, Mt 13.37-43, 47-50 (separação do bem e do mal no fim, “na consumação do século”, e não mil anos antes); 24.29-31; 25.31-46; Jo 5.25-29; 1 Co 15.22-26; Fp 3.20, 21; 1 Ts 4.15, 16; Ap 20.11-15. Todos eles ocorrem quando da vinda do Senhor, que é também o dia do Senhor. Em resposta a esta objeção, muitas vezes os premilenistas insinuam que o dia do Senhor pode ter mil anos de duração, de maneira que a ressurreição dos santos e o juízo das nações têm lugar na manhã desse longo dia, e a ressurreição dos ímpios e o juízo do grande trono branco ocorrem no entardecer desse mesmo dia. Eles apelam para 2 Pe 3.8 “para com o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia”. Mas, dificilmente isso poderá provar o ponto, pois facilmente o feitiço poderia virar contra o feiticeiro aqui. Poder-se-ia usar a mesma passagem para provar que os mil anos de Ap 20 são apenas um só dia.
d. Não há qualquer fundamento bíblico para o conceito premilenista de uma dupla ou até tripla ou quádrupla ressurreição, como a sua teoria requer, nem para espalhar o juízo final por um período de mil anos, dividindo-o em três juízos. É, para dizer o mínimo, muito duvidoso que as palavras. “Esta é a primeira ressurreição”, em Ap 20.5, se refiram a uma ressurreição física. O contexto não requer, e nem mesmo favorece esta idéia. O que poderia favorecer a teoria de uma dupla ressurreição é o fato de que os apóstolos muitas vezes falam unicamente da ressurreição dos crentes, e de modo nenhum se referem à dos ímpios. Mas isto se deve ao fato de que eles estão escrevendo para as igrejas de Jesus Cristo, aos contextos em que levantam o assunto da ressurreição, e ao fato de que desejam dar ênfase ao seu aspecto soteriológico, 1 Co 15; 1 Ts 4.13-18. Outras passagens falam claramente da ressurreição dos justos e dos ímpios num só fôlego, Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15. Voltaremos a considerar esta matéria no próximo capitulo.
e. A teoria premilenista se enreda em todas as espécies de dificuldades insuperáveis, com a sua doutrina do milênio. É impossível entender como uma parte da velha terra e da humanidade pecadora poderá coexistir com uma parte da nova terra e de uma humanidade já glorificada. Como poderão os santos em corpos glorificados ter comunhão com pecadores na carne? Como poderão os santos glorificados viver nesta atmosfera sobrecarregada de pecado e em cenário de morte e decadência? Como poderá o Senhor da glória, o Cristo glorificado, estabelecer o Seu trono na terra enquanto esta não for renovada? O capítulo vinte e um de Apocalipse nos informa que Deus e a igreja dos remidos tomarão como seu lugar de habitação a terra depois que forem feitos novos céus e nova terra; então, como se pode afirmar que Cristo e os santos habitarão ali mil anos antes dessa renovação? Como poderão os santos e os pecadores na carne manter-se na presença do Cristo glorificado, sabendo-se que mesmo Paulo e João foram completamente esmagados pela visão dele. At 26.12-14; Ap. 1.17? Diz com verdade Beet: “Não podemos conceber misturados no mesmo planeta uns que ainda terão que morrer e outros que já passaram pela morte e não morrerão mais. Tal confusão da era atual com a era por vir é extremamente improvável”. E Brown exclama: “Que confuso estado de coisas é este! Que detestável mistura de coisas totalmente incoerentes umas com as outras!”
f. A única base escriturística para essa teoria é Ap 20.1-6, depois de se ter despejado aí um conteúdo veterotestamentário. É uma base muito precária, por várias razões. (1) esta passagem ocorre num livro eminentemente simbólico e é reconhecidamente muito obscura, como se pode inferir das diferentes interpretações dela feitas. (2) A interpretação literal desta passagem, como dada pelos premilenistas, leva a uma conceituação que não encontra suporte em nenhum outro lugar da Escritura, mas é até contraditada pelo restante do Novo Testamento. Esta é uma objeção fatal. Uma boa exegese requer que as passagens obscuras da Escritura sejam lidas à luz doutras mais claras, e não vice-versa. (3) Mesmo a interpretação literal dos prémilenistas não é coerentemente literal, pois entende a corrente do versículo 1 e também, conseqüentemente, a prisão do versículo 2 figuradamente, muitas vezes concebe os mil anos como um longo mas indefinido período, e transforma as almas do versículo 4 em santos ressurretos. (4) Estritamente falando, a passagem não diz que as classes referidas (os santos mártires e os que não adoraram a besta) ressuscitaram dos mortos, mas simplesmente que viveram e reinaram com Cristo. E se declara que este viver e reinar com Cristo constitui a primeira ressurreição. (5) Não há absolutamente nenhuma indicação nestes versículos de que Cristo e os Seus santos estão exercendo governo na terra. À luz de passagens como Ap 4.4 e 6.9, é muito mais provável que a cena se passa no céu. (6) Também merece nota que a passagem não faz menção nenhuma da Palestina, de Jerusalém, do templo e dos judeus, os cidadãos naturais do reino milenar. Não há nenhuma insinuação de que esses elementos estejam de algum modo relacionados com este reinado de mil anos. Para uma interpretação minuciosa desta passagem, do ponto de vista amilenista, remetemos o leitor a Kuyper, Bavinck, De Moor, Dijk, Greydanus, Vos e Hendriksen.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Pós-milenismo

A posição do pós-milenismo é completamente oposta à tomada pelo premilenismo, respeitante à data da segunda vinda de Cristo. Ele afirma que o retorno de Cristo será depois do milênio, que se pode esperar para durante e no fim da dispensação do Evangelho. Imediatamente após, Cristo virá para introduzir a ordem eterna de coisas. Na discussão do pós-milenismo será necessário distinguir duas formas da teoria, uma das quais espera que o milênio será realizado pela influência sobrenatural do Espírito Santo, e a outra espera que ele advirá por um processo natural de evolução.
1. DIFERENTES FORMAS DE PÓS-MILENISMO.
a. A forma antiga.Durante os séculos dezesseis e dezessete, diversos teólogos reformados (calvinistas) da Holanda ensinaram uma forma de quiliasma agora denominada pós-milenismo. Entre eles havia homens bem conhecidos como Coccejus, Alting, os dois Vitringa, d’Outrein, Witsius, Hoornbeek, Koelman e Brakel, alguns dos quais consideravam o milênio como pertencente ao passado, outros o julgavam presente, e ainda outros o buscavam no futuro. A maioria o esperava para as proximidades do fim do mundo, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Estes homens rejeitavam as duas idéias diretoras dos premilenistas, quais sejam, que Cristo voltará fisicamente para reinar na terra por mil anos, e que os santos serão ressuscitados por ocasião da Sua vinda, e então reinarão com Ele no reino milenar. Embora suas exposições diferissem nalguns pormenores, a idéia predominante era que o Evangelho, que se propagará gradativamente pelo mundo todo, no fim se tornará imensuravelmente mais eficiente do que no presente, e introduzirá um período de ricas bênçãos espirituais para a igreja de Jesus Cristo, uma idade de ouro em que os judeus também compartirão as bênçãos do Evangelho de maneira sem precedentes. Em anos mais recentes, um tipo desse pós-milenismo foi defendido por D. Brown, J. Berg, J.H.Snowden, T.P.Stafford e A.H.Strong. Diz o ultimo teólogo mencionado que o milênio será “um período dos últimos dias da igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires reaparecerá, a verdadeira religião será grandemente revigorada e revivida, e os membros das igrejas de Cristo tomarão tal consciência do seu poder em Cristo que, numa extensão jamais conhecida antes, triunfarão sobre os poderes do mal dentro e fora”. A idade de outro da igreja, segundo se diz, será seguida por um breve período de apostasia, um terrível conflito entre as forças do bem e do mal, e pela ocorrência simultânea do advento de Cristo, da ressurreição geral e do juízo final.
b. A forma recente. Grande parte do pós-milenismo dos dias atuais é de um tipo inteiramente diverso, e tem muito pouco a ver com os ensinos da Escritura, exceto como uma indicação histórica daquilo em que outrora o povo cria. O homem moderno tem pouca paciência com as esperanças milenísticas do passado, com sua completa dependência de Deus. Ele não acredita que a nova era será introduzida pela pregação do Evangelho, acompanhada pela obra do Espírito Santo; nem que será resultado de uma mudança cataclísmica. De um lado, crê-se que a evolução trará aos poucos o milênio, e de outro lado, que o próprio homem introduzirá a nova era, adotando uma política construtiva de melhoramento do mundo. Diz Walter Rauschenbush: “Nosso principal interesse num milênio é o desejo de uma ordem social em que o valor e a liberdade de todos os seres humanos, mesmos do menor deles, sejam honrados e protegidos, em que a fraternidade do homem seja expressa na posse comum dos recursos da sociedade; e em que o bem espiritual da humanidade seja posto muito acima dos interesses de lucro privado de todos os grupos materialistas. . . .Quanto ao modo pelo qual o ideal cristão da sociedade deverá vir – devemos substituir a catástrofe pelo desenvolvimento”.
Shirley Jackson case interroga: “Continuaremos buscando a Deus para introduzir uma nova ordem por meios catastróficos, ou assumiremos a responsabilidade de produzir o nosso próprio milênio, crendo que Deus está operando em nós e em nosso mundo o querer e o fazer para o Seu beneplácito?” E ele mesmo dá a resposta, nos seguintes parágrafos: “O curso da história exibe um longo processo de luta de evolução pelo qual a humanidade como um todo eleva-se cada vez mais na escala da civilização e da consecução, melhorando sua condição de quando em quando mediante sua maior habilidade e engenho. Vista segundo a longa perspectiva das eras, a carreira do homem tem sido de real ascensão. Em vez de piorar, vê-se que o mundo melhora constantemente. ...Desde que a história e a ciência mostram que o melhoramento é sempre resultado de esforços de realização, o homem acaba imaginando que os males ainda não vencidos haverão de ser eliminados por estrênuos esforços e reforma gradual, e não pela intervenção catastrófica da Divindade. ... As moléstias devem ser curadas ou evitadas pela habilidade do médico, os males da sociedade devem ser remediados pela educação e pela legislação, e as desgraças internacionais devem ser impedidas pelo estabelecimento de novos padrões e novos métodos de tratamento medicinal, e não por uma aniquilação repentina”. Estas citações são deverás características de uma grande parte do pós-milenismo dos nossos dias, e não é de admirar que os premilenistas reajam contra ele.
2. OBJEÇÕES AO PÓS-MILENISMO. Há algumas sérias objeções à teoria pós-milenista.
a. A idéia fundamental da doutrina segundo a qual o mundo inteiro será gradativamente ganho para Cristo, a vida de todas as nações será transformada pelo Evangelho no transcurso do tempo, a justiça e a paz reinarão supremas, e as bênçãos do Espírito serão derramadas mais copiosamente que antes, de sorte que a igreja experimentará um período de prosperidade sem par imediatamente antes da vinda do Senhor – não está em harmonia com o retrato do fim do século que se vê na Escritura. Na verdade a Escritura ensina que o Evangelho se espalhará pelo mundo todo e exercerá uma influencia benéfica, mas não nos leva a esperar a conversão do mundo, nem nesta nem numa era vindoura. Ela salienta o fato de que a época imediatamente anterior ao fim será uma época de grande apostasia, de tribulação e perseguição, uma época em que a fé se esfriará a muitos, e em que os que são leais a Cristo serão submetidos a cruéis sofrimentos, e nalguns casos até selarão com seu sangue a sua confissão, Mt 24.6-14, 21, 22; Lc 18.8; 21.25-28; 2 Ts 2.3-12; 2 Tm 3.1-6; Ap 13. Naturalmente os pós-milenistas não podem ignorar por completo o que se diz acerca da apostasia e da tribulação que marcarão o fim da história, mas eles o subestimam e o descrevem como se predissesse uma apostasia e uma tribulação em pequena escala, que não afetarão o fluxo principal da vida religiosa. Sua expectação de uma gloriosa condição da igreja no fim se baseia em passagens que contêm uma descrição figurada, quer da dispensação do Evangelho como um todo, quer da perfeita ventura do reino externo de Jesus Cristo.
b. A idéia correlata de que a presente era não acabará numa grande mudança cataclísmica, mas passará numa transição quase imperceptível para a era vindoura, é igualmente antibíblica. A Bíblia nos ensina de maneira muito explícita que uma catástrofe, ou uma intervenção especial de Deus, dará cabo do governo de Satanás sobre a terra e introduzirá o Reino que não poderá ser abalado, Mt 24.29-31, 35-44; Hb 12.26,27; 2 Pe 3.10-13. haverá uma crise, uma transformação tão grande, que pode ser chamada “regeneração”, Mt 19.28. Assim como os crentes não se santificam progressivamente nesta existência até estarem praticamente prontos para, sem muita mudança mais, entrar no céu, o mundo também não será purificado gradativamente, aprontando-se deste modo para entrar no estágio subseqüente. Justamente como os crentes ainda terão que submeter-se a uma grande mudança a operar-se na morte, assim o mundo sofrerá uma tremenda mudança quando chegar o fim. Haverá novos céus e nova terra, Ap 21.1.
c. A idéia moderna de que a evolução natural e os esforços do homem no campo da educação, da reforma social e da legislação produzirão gradativamente o reinado perfeito do espírito cristão, entra em conflito com tudo quanto a palavra de Deus ensina sobre este ponto. Não é a obra do homem, mas, sim, a de Deus que introduz o glorioso reino de Deus. Este reino não pode ser estabelecido pelos meios naturais, mas somente por meios sobrenaturais. É o reinado de Deus, estabelecido e reconhecido nos corações do Seu povo, e este reinado jamais o podem tornar efetivos os meios puramente naturais. A civilização sem a regeneração, sem uma transformação sobrenatural do coração, jamais produzirá um milênio, um governo eficaz e glorioso de Jesus Cristo. Dá para ver que as experiências do segundo quartel deste século devem ter imposto esta verdade ao homem moderno. O tão decantado desenvolvimento do homem ainda não nos levou a vislumbrar o milênio.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. Qual é a origem histórica do premilenismo? 2. Foi ele de fato o conceito dominante no segundo e no terceiro séculos? 3. Qual foi o conceito de Agostinho sobre o reino de Deus e o milênio? 4. O reino de Deus e a igreja são distintos ou idênticos na Escritura? 5. Será aquele natural e nacional, e esta espiritual e universal? 6. Lucas 14.14 e 20.35 ensinam uma ressurreição parcial? 7. Será que alguma parte de Israel constitui uma parte da noiva de Cristo? 8. Estará completa a noiva, quando Cristo voltar? 9. Os pós-milenistas são necessariamente evolucionistas? 10. A experiência justifica o otimismo dos pós-milenistas, segundo o qual o mundo está ficando cada vez melhor? 11. A Bíblia prediz progresso contínuo para o reino de Deus, até ao fim do mundo? 12. È necessário presumir uma transformação cataclísmica no fim?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 717-769; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 237-279; Vos, Geref. Dogm. V, Eschatologie, p. 36-40; id., Pauline Eschatology, p. 226-260;Hodge, Syst., Theol. III, p. 861-868; Warfield, The Millennium and the Apocalypse in Biblical Studies, p. 643-664; Dahle, Life After Death, p. 354-418; D. Brown, The Second Advent; Ch. Brown, The Hope of His Coming; Hoekstra, Het Chiliasme; Rutgers, Premillennialism in America; Merril, Second Coming of Christ; Eckman, When Christ Comes Again; Heagle, That Blessed Hope; Case, The Millennial Hope; Rall, Modern Premillennialism and the Christian Hope; Fairbaim, The Prophetic of the Jews (by Pieters); Berkhof, Premillennialisme; Riley, The Evolution of the Kingdom; Bultem, Maranatha; Berkhof, De Wederkomst van Christus; Brookes, Maranatha; Haldeman, The Coming od the Lord; Snowden, The Second Coming of the Lord; Blackstone, Jesus is Coming; Milligan, Is the Kingdom Age at Hand?; Peters, The Theocratic Kingdom; West, The Thousand Years in Both Testaments; Silver, The Lord’s Return; Bullinger, How to Enjoy the Bible; Waldegrave, New Testament Millenarianism; Feinberg, Premillennialism and Amillennialism; Gaebelein, The Hope of the Ages; Hendriksen, More Than Conquerors; Dijk, Het Rijk der Duizend Jaren; Aalders, Het Herstel van Israel Volgens het Oude Testament; Mauro, The Gospel of the Kingdom, e The Hope of Israel; Frost, The second Coming of Christ; Reese, The Approaching Advent of Christ; Wyngaarden, The Future of the Kingdom.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

A ressurreição dos mortos

A discussão do segundo advento de Cristo leva naturalmente a uma consideração dos seus concomitantes. O primeiro deles é a ressurreição dos mortos, ou, como às vezes se lhe chama, “a ressurreição da carne”.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Doutrina bíblica da ressurreição na história

No tempo de Jesus havia uma diferença de opiniões entre os judeus, a respeito da ressurreição. Enquanto que os fariseus criam nela, os saduceus não criam, Mt 22.23; At 23.8. Quando Paulo falou a seu respeito em Atenas, enfrentou zombaria, At 17.32. Alguns dos coríntios a negavam, 1 Co 15, e Himeneu e Fileto, considerando-a como algo puramente espiritual, asseveravam que ela já era coisa pertencente à história, 2 Tm 2.18. Celso, um dos mais antigos opositores do cristianismo, fazia especialmente desta doutrina objeto de escárnio; e os gnósticos, que consideravam a matéria como inerentemente má, naturalmente a rejeitavam. Orígenes defendeu a doutrina contra os gnósticos e contra Celso, mas todavia, não acreditava que é o corpo depositado no túmulo que ressuscita. Ele descrevia o corpo ressureto como um corpo, purificado e espiritualizado. Embora alguns dos chamados pais cristãos primitivos compartilhassem o seu conceito, a maioria deles acentuava a identidade do corpo atual com o da ressurreição. Já na sua Confissão Apostólica, a igreja expressou a sua crença na ressurreição da carne (sarkos).
Agostinho a princípio estava inclinado a concordar com Orígenes, mas posteriormente adotou o conceito predominante, embora não julgasse necessário crer que as atuais diferenças de forma e estatura continuarão na vida por vir. Jerônimo insistia vigorosamente na identidade do corpo atual com o futuro. O Oriente, representado por homens como os dois Gregórios, Crisóstomo e João de Damasco, manifestava a tendência de adotar um conceito mais espiritual da ressurreição do que o Ocidente. Os que acreditavam num milênio futuro falavam de uma dupla ressurreição, a dos justos no princípio do reino milenar, e a dos ímpios no fim dele. Durante a Idade Média, os escolásticos especulavam muito sobre o corpo ressureto, mas as suas especulações são sumamente fantasiosas e de pequeno valor. Principalmente Tomaz de Aquino parecia especialmente informado sobre a natureza do corpo ressureto, e sobre a ordem e o modo da ressurreição. Os teólogos do período da Reforma geralmente estavam de acordo em que o corpo da ressurreição será idêntico ao atual. Todas as grandes confissões da igreja apresentam a ressurreição geral como simultânea com a segunda vinda de Cristo, o juízo final e o fim do mundo. Elas não fazem separação entre quaisquer desses eventos, tais como entre a ressurreição dos justos e a dos ímpios, e entre a vinda de Cristo e o fim do mundo, com um período de mil anos. Por outro lado, os premilenistas insistem em tal separação. Sob a influência do racionalismo e com o avanço das ciências físicas, acentuaram-se algumas das dificuldades que pesavam sobre a doutrina da ressurreição, e, como resultado, o “liberalismo” religioso moderno nega a ressurreição da carne e explica as descrições que dela faz a Escritura como sendo uma representação figurada da idéia de que a personalidade humana completa continuará a existir após a morte.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)

Prova Bíblica da Ressurreição

1. NO VELHO TESTAMENTO. Às vezes se diz que o Velho Testamento nada sabe da ressurreição dos mortos, ou só mostra algum conhecimento dela nos seus últimos livros. É deveras comum a opinião de que Israel tomou por empréstimo dos persas a sua crença na ressurreição. Diz Mackintosh: “Forte evidência existe em favor da hipótese de que a idéia da ressurreição entrou na mente hebraica vinda da Pérsia”. Brown fala em tom algo similar: “A doutrina da ressurreição individual aparece pela primeira vez em Israel depois do cativeiro, e pode ser que se deva à influência persa”. Salmond também menciona essa idéia, mas afirma que ela não é justificada suficientemente. Diz ele: “A doutrina veterotestamentária de Deus é, de si mesma, suficiente para explicar toda a história da concepção veterotestamentária de uma vida futura”. De Bondt chega à conclusão de que não há um só povo, dentre aqueles com os quais Israel teve contato, que tivesse uma doutrina da ressurreição que pudesse servir de modelo para a apresentação dela que era corrente entre os israelitas; e de que a fé na ressurreição que acha expressão na religião do Velho Testamento não se baseia nas religiões dos gentios, mas, sim, na revelação do Deus de Israel. É verdade que não encontramos declarações claras a respeito da ressurreição dos mortos antes do tempo dos profetas, embora Jesus fosse de parecer que já estava implícita em Ex 3.6; cf. Mt 22.29-32, e o escritor de Hebreus dá a entender que até mesmo os patriarcas anelavam à ressurreição dos mortos, Hb 11.10, 13-16, 19. O certo é que não faltam provas de que havia uma crença na ressurreição muito antes do cativeiro. Essa crença está implícita nas passagens que falam numa libertação do sheol, Sl 49.15; 73.24, 25; Pv 23.14. Ela encontra expressão na declaração de Jó 19.25-27. Sobretudo a vemos ensinada claramente em Is 26.19 (passagem tardia, segundo os críticos), e em Dn 12.2, e provavelmente está implícita igualmente em Ez 37.1-14.
2. NO NOVO TESTAMENTO. Como se podia esperar, o Novo Testamento tem mais que dizer sobre a ressurreição dos mortos do que o Velho Testamento, porque coloca o clímax da revelação de Deus sobre este ponto na ressurreição de Jesus Cristo. Contra a negação dos saduceus, Jesus argumenta em favor da ressurreição dos mortos com base no Velho Testamento, Mt 22.23-33 e paralelas; cf. Ex 3.6. Além disso, Ele ensina essa grande verdade com muita clareza em Jo 5.25-29; 6.39, 30, 44, 54; 11.24, 25; 14.3; 17.24. A passagem clássica do Novo testamento para a doutrina da ressurreição é 1 Co 15. Outras passagens importantes são: 1 Ts 4.13-16; 2 Co 5.1-10; Ap 20.4-6 (de interpretação dúbia), e 20.13.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática)