sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Relação Entre o Pecado e a Morte

Os pelagianos e os socinianos ensinam que o homem foi criado mortal, não meramente no sentido de que ele poderia cair presa da morte, mas no sentido de que ele, em virtude da sua criação, estava sob a lei da morte, e, no transcurso do tempo, estava destinado a morrer. Isto significa que Adão não era somente suscetível de morte, mas estava realmente sujeito à morte antes de cair. Os defensores deste conceito eram movidos primariamente pelo desejo de fugir da prova do pecado original extraída do sofrimento e morte das crianças. A ciência dos dias atuais parece dar apoio a essa posição acentuando o fato de que a morte é lei da matéria organizada, visto que esta traz consigo a semente da decadência e da dissolução. Alguns dos chamados pais primitivos da igreja e alguns teólogos mais recentes, como Warbuton e Laidlaw, assumem a posição de que Adão de fato foi criado mortal, isto é, sujeito à lei da dissolução mas que, no caso dele, a lei só foi efetiva porque ele pecou. Se tivesse comprovado a sua obediência, teria sido exaltado a um estado de imortalidade. Seu pecado não produziu nenhuma mudança em seu ser constitucional, nesse aspecto, mas, sob a sentença de Deus, fê-lo sujeito à lei da morte e o privou da dádiva da imortalidade, que poderia ter tido sem experimentar a morte.
Naturalmente, neste conceito a entrada fatual da morte continua tendo caráter penal. É um conceito que encaixaria muito bem na posição supralapsária, mas não é exigido por esta. Na realidade, essa teoria procura apenas enquadrar os fatos revelados na Palavra de Deus nos pronunciamentos da ciência, mas mesmo estes não a consideram imperativa. Suponhamos que a ciência provasse conclusivamente que a morte reinava no mundo vegetal e animal antes da entrada do pecado; mesmo então não se seguiria necessariamente que ela também prevalecia no mundo dos seres racionais e morais. E ainda que ficasse estabelecido sem sombra de dúvida que todos os organismos físicos, os humanos inclusive, trazem dentro de si as sementes da dissolução, isto ainda não provaria que o homem não foi uma exceção à regra, antes da Queda. Diremos nós que o absoluto poder de Deus, pelo qual o universo foi criado, não era suficiente para manter o homem com vida indefinidamente? Além disso devemos ter em mente os seguintes dados da Escritura: (1) O homem foi criado à imagem de Deus, e isto, em vista das perfeitas condições em que a imagem de Deus existiu originariamente, por certo exclui a possibilidade de que trouxesse consigo as sementes da dissolução e da mortalidade. (2) A morte física não é apresentada na Escritura como resultado natural da continuidade da condição original do homem, devido ao seu fracasso em não conseguir subir às alturas da imortalidade pelo caminho da obediência; mas, sim, como resultado da sua morte espiritual, Rm 6.23; 5.21; 1 Co 15.56; Tg 1.15. (3) As expressões bíblicas certamente indicam a morte como uma coisa introduzida no mundo da humanidade pelo pecado, e como uma punição positiva pelo pecado, Gn 2.17; 3.19; m 5.12, 17; 6.23; 1 Co 15.21; Tg 1.15. (4) A morte não é descrita como algo natural na vida do homem, mera falha de um ideal, e sim assaz decisivamente como algo alheio e hostil à vida humana: é uma expressão da ira divina, Sl 90.7, 11, um julgamento, Rm 1.32, uma condenação, Rm 5.16 e uma maldição, Gl 3.13, e enche os corações dos filhos dos homens de temor e tremor, justamente porque é tida como uma coisa antinatural.
Tudo isso não significa, porém, que não poderia ter havido morte nalgum sentido da palavra no mundo da criação inferior, independentemente do pecado, mas, mesmo ali, é evidente que a entrada do pecado trouxe um cativeiro de corrupção que era estranho à criatura, Rm 8.20-22. Por estrita justiça, Deus poderia ter imposto a morte ao homem no mais completo sentido da palavra imediatamente após a sua transgressão, Gn 2.17. Mas, por Sua graça comum, restringiu a operação do pecado e da morte, e, por Sua graça especial em Cristo Jesus, venceu estas forças hostis, Rm 5.17; 1 Co 15.45; 2 Tm 1.10; Hb 2.14; Ap 1.18; 20.14. A morte realiza agora plenamente a sua obra só nas vidas que recusam a libertação do seu jugo, libertação oferecida em Cristo Jesus. Os que crêem em Cristo estão livres do poder da morte, foram restaurados à comunhão com Deus, e foram revestidos de uma vida sem fim, Jo 3.36; 6.40; Rm 5.17-21; 8.23; 1 Co 15.26, 51-57; Ap 20.14; 21.3, 4.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg 673)

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