sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Objeções à Doutrina da Imortalidade Pessoal e Seus Modernos Substitutos

1. A PRINCIPAL OBJEÇÃO. A crença na imortalidade da alma sofreu declínio por algum tempo, sob a influencia de uma filosofia materialista. O principal argumento contra ela foi forjado nas oficinas da psicologia fisiológica, e corre mais ou menos como segue: A mente ou a alma não tem existência substancial independente, mas é simples produto ou função da atividade cerebral. O cérebro humano é a causa produtora dos fenômenos mentais, exatamente como o fígado é a causa produtora da bílis. A função não pode persistir quando o órgão decai. Quando o cérebro deixa de agir, o fluxo da vida mental pára.
2. SUBSTITUTOS DA DOUTRINA DA IMORTALIDADE PESSOAL. O desejo de imortalidade está implantado tão profundamente na alma humana que, mesmo os que aceitam os ditames de uma filosofia materialista, procuram algum tipo de substituto para a rejeitada noção da imortalidade pessoal da alma. Sua esperança quanto ao futuro assume uma das seguintes formas:
a. Imortalidade racial. Há os que se consolam com a idéia de que o individuo continuará a viver nesta terra em sua posteridade, em seus filhos e netos, até gerações intermináveis. O individuo busca compensação para a sua falta de esperança numa imortalidade pessoal na noção de que ele contribui com sua parte para a vida da raça e continuará vivendo nela. Mas a idéia de que o homem continua a viver em sua progênie, seja qual for a porção de verdade que contenha, dificilmente poderá servir de substituto da doutrina da imortalidade pessoal. Certamente não faz justiça aos dados da Escritura, e não satisfaz aos anseios mais profundos do coração humano.
b. Imortalidade de comemoração. De acordo com o positivismo, esta é a única imortalidade que devemos desejar e buscar. Cada qual deve ter em vista fazer alguma coisa para estabelecer um nome para si mesmo e que passe para os anais da história. Se o fizer, continuará a viver nos corações e mentes de uma posteridade agradecida. Isso também fica aquém da imortalidade pessoal que a Escritura nos leva a esperar. Além disso, é uma imortalidade da qual uns poucos participam. Os nomes da maioria dos homens não ficam registrados nas páginas da história, e muitos dos que estão registrados nas páginas da história, e muitos dos que estão registrados logo são esquecidos. E numa grande extensão se pode dizer que os melhores e os piores participam igualmente dela.
c. Imortalidade de influencia. Esta se relaciona de perto com a imediatamente anterior. Se o homem deixar sua marca na vida e realizar alguma coisa de valor duradouro, sua influencia continuará por muito tempo depois de sua partida. Jesus e Paulo, Agostinho e Tomaz de Aquino, Lutero e Calvino – todos eles estão bem vivos na influencia que até hoje exercem. Embora isto seja perfeitamente verdadeiro, esta imortalidade de influencia é apenas um pobre substituto da imortalidade pessoal. Todas as objeções levantadas contra a imortalidade de comemoração aplicam também a este caso.
3. RECUPERAÇÃO DA FÉ NA IMORTALIDADE. No presente, a interpretação materialista do universo está dando caminho a uma interpretação mais espiritual: e o resultado é que a fé na imortalidade pessoal voltou a obter apoio. Embora o doutor William James subscreva a fórmula, “O pensamento é uma função do cérebro”, nega que isto nos force logicamente a descrer da doutrina da imortalidade. Ele sustenta que esta conclusão dos cientistas se baseia na equivocada noção de que a função da qual aquela fórmula fala é necessariamente uma função produtiva, e assinala que também pode ser uma função permissiva ou transmissiva. O cérebro pode simplesmente transmitir, e na transmissão da cor, o pensamento, justamente como um vidro colorido, um prisma ou uma lente refratária, pode transmitir luz e ao mesmo tempo pode determinar sua cor e direção. A luz existe independentemente do vidro ou da lente; assim também o pensamento existe independentemente do cérebro. James chega à conclusão de que, pela estrita lógica, é possível crer na imortalidade. Alguns evolucionistas agora baseiam a doutrina da imortalidade condicional na luta pela existência. E cientistas como William James, Sir Oliver Lodge e James H. Hyslop, atribuem grande significação às supostas comunicações com os mortos. Com base nos fenômenos psíquicos, o primeiro inclinou-se a crer na imortalidade, enquanto que os outros dois a abraçaram como um fato estabelecido.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. A doutrina da imortalidade se acha no Pentateuco? 2. Que explica a relativa escassez de provas em seu favor no Velho Testamento? 3. Em que Platão baseou sua crença na imortalidade da alma? 4. Como Kant julgava os argumentos naturais comumente usados em prol da doutrina da imortalidade? 5. Há algum lugar para a crença na imortalidade pessoal, quer no materialismo, quer no panteísmo? 6. Por que a doutrina da “imortalidade social”, assim chamada, não satisfaz? 7. A imortalidade da alma, no sentido filosófico, é a mesma coisa que a vida eterna? 8. Como devemos julgar as supostas comunicações espíritas com os mortos?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 645-655; Kuyper, Dict. Dogm., De Consummatione Saeculi, p. 3-24; Hodge, Syst., Theol. III, p. 713-730; Dabney, Syst. and Polem. Theol., p. 817-823; Dick, Lect. On Theol., Lectures LXXX, LXXXI; Litton, Introd. to Dogm. Theol., p. 535-548; Heagle, Do the Dead Still Live?; Dahl, Life After Death, p. 59-84; Salmond. Christian Doctrine of Immortality, cf. Índice; Mackintosh, Immortality and the Future, p. 164-179; Brown, The Christian Hope, cf. Índice; Randall, The New Light on Immortality; Macintosh, Theology as an Empirical Science, p. 72-80; Althaus, Die Letzten Dinge, p. 1-76; A.G. James, Personal Immortality, p. 19-52; Rimmer, The Evidences for Immortality; Lawton, The Drama of Life After Death; Addison, Life Beyond Death, p. 3-132.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg 681)

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