sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

AS DOUTRINAS DO EXTINCIONISMO E DA IMORTALIDADE CONDICIONAL

a. Exposição destas doutrinas. De acordo com estas doutrinas, não há existência consciente, se é que há alguma existência, dos ímpios após a morte. Ambas estão unidas em sua concepção do estado dos ímpios após a morte, mas divergem num par de pontos fundamentais. O extincionismo ensina que o homem foi criado imortal, mas que a alma, que continua em pecado, está privada, por um ato positivo de Deus, do dom da imortalidade e, finalmente, é destruída, ou (segundo alguns), para sempre é despojada da consciência, o que equivale praticamente a ser reduzida à não existência. Por outro lado, segundo a doutrina da imortalidade condicional, a imortalidade não é um dote natural da alma, mas um dom de Deus em Cristo aos que crêem. A alma que não aceita a Cristo, finalmente deixa de existir, ou perde toda a consciência. Alguns dos defensores destas doutrinas ensinam uma duração limitada de sofrimentos conscientes para os ímpios na vida futura, e, assim, conservam algo da idéia de punição positiva.
b. Estas doutrinas na história. A doutrina do extincionismo foi ensinada por Arnóbio e pelos primeiros socinianos, como também pelos filósofos Locke e Hobbes, mas não foi popular em sua forma originária. No século anterior ao nosso, porém, a antiga idéia da aniquilação foi revivida com algumas modificações, com o nome de imortalidade condicional, e em sua nova forma encontrou considerável apoio. Foi defendida por E. White, J. B. Heard, pelos prebendados Constable e Row, na Inglaterra, por Richard Rothe na Alemanha, por A. Sabatier em França, por E. Petavel e Ch. Secretan na Suíça, e por C. F. Hudson, W. R. Huntingon, L.C. Baker e L.W. Bacon em nosso país (Estados Unidos da América), e, portanto, merece atenção especial. Nem todos colocam a doutrina na mesma forma, mas todos concordam na posição fundamental de que o homem não é imortal em virtude da sua constituição original, mas é feito imortal por um ato ou dom especial da graça. No que se refere aos ímpios, alguns afirmam que eles conservam mera existência, embora com total perda da consciência, enquanto outros asseveram que eles perecem completamente, como os animais, conquanto isto possa ocorrer depois de períodos mais longos ou mais curtos de sofrimento.
c. Argumentos aduzidos em favor desta doutrina. Acha-se suporte para esta doutrina, em parte na linguagem de alguns dos chamados pais primitivos da igreja, que parece também nalgumas das mais recentes teorias da ciência, que negam que haja alguma prova científica da imortalidade da alma. Contudo, o principal suporte para ela é procurado na Escritura. O que se diz é que a Bíblia: (1) ensina que somente Deus é inerentemente imortal, 1 Tm 6.16; (2) nunca fala da imortalidade da alma em geral, mas apresenta a imortalidade como um dom de Deus aos que estão em Cristo Jesus, Jo 10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; e (3) ameaça os pecadores com a “morte” e com “destruição”, afirmando que eles “perecerão”, termos que devem ser entendidos no sentido de que os descrentes serão reduzidos à não existência, Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16; Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9.
d. Consideração destes argumentos. Não se pode dizer que os argumentos em favor desta doutrina são conclusivos. A linguagem dos chamados pais primitivos da igreja nem sempre é exata e coerente, e admite outra interpretação. E, no geral, o pensamento especulativo dos séculos tem sido favorável à doutrina da imortalidade da alma, ao passo que a ciência não tem sucesso ao reprová-la. Os argumentos escriturísticos podem ser respondidos em ordem, como segue: (1) Deus é de fato o único ser que tem imortalidade inerente. A imortalidade do homem é derivada, mas isto não é o mesmo que dizer que ele não a possui em virtude da sua criação. (2) No segundo argumento, a mera imortalidade ou existência continuada da alma é confundida com a vida eterna, quando esta constitui um conceito muito mais rico. A vida eterna é, na verdade, dom de Deus em Jesus Cristo, dom que os ímpios não recebem, mas isto não significa que eles não continuarão existindo. (3) O último argumento pressupõe arbitrariamente que os termos “morte”, “destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. Só o literalismo mais cru pode afirmar isto, e, neste caso, unicamente em conexão com algumas das passagens citadas pelos defensores desta teoria.
e. Argumentos contra esta doutrina. A doutrina da imortalidade condicional é claramente contraditada pela Escritura onde esta ensina: (1) que os pecadores, como os santos, continuarão a existir para sempre, Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10; (2) que os ímpios sofrerão punição eterna, o que significa que estarão para sempre cônscios de uma dor que reconhecerão como seu justo prêmio, e, portanto, não serão aniquilados, cf. as passagens recém-mencionadas; e (3) que haverá graus na punição dos ímpios, enquanto que a extinção do ser ou da consciência não admite graus, mas constitui uma punição igual para todos, Lc 12.47, 48; Rm 2.12
As seguintes ponderações também são decididamente opostas a esta doutrina particular: (1) A aniquilação seria contrária a toda analogia. Deus não aniquila a Sua obra, por mais que possa mudar-lhe a forma. A idéia bíblica da morte não tem nada em comum com a aniquilação ou extinção. A vida e a morte são opostos exatos na Escritura. Se a morte significasse a continuação destes; mas o fato é que significa muito mais que isso, cf. Rm 8.6; 1 Tm 4.8; 1 Jo 3.14. O termo tem uma conotação espiritual, o mesmo acontecendo com a palavra morte. O homem está espiritualmente morto antes de cair presa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1 Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1. (2) Dificilmente se pode dizer que a aniquilação é uma punição, desde que esta implica consciência de sofrimento e demérito, ao passo que, quando termina a existência, cessa também a consciência. Poder-se-ia dizer, no máximo, que o medo da aniquilação é uma punição, mas esta punição não seria proporcional à transgressão. E, naturalmente, o medo do homem que nunca teve dentro de si a centelha da imortalidade, jamais será igual ao daquele que tem a eternidade em seu coração, Ec 3.11. (3) Muitas vezes sucede que as pessoas consideram a extinção do ser e da consciência uma coisa muito desejável, quando se cansam da vida. Para elas, essa punição seria na realidade uma bênção.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg 695)

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