quarta-feira, 22 de junho de 2011

CREDOS E CONFISSÕES

O Credo Apostólico Este credo é chamado apostólico, não porque foi escrito pelos apóstolos, mas porque contém a doutrina que eles ensinavam. Este credo é muito antigo e passou por várias modificações. A sua forma atual data do século IV. I 1. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra; II 2. e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; 3. que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; 4. padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao reino dos mortos; 5. no terceiro dia ressurgiu dos mortos; 6. subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso; 7. donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. III 8. Creio no Espírito Santo; 9. na santa igreja universal de Cristo, a comunhão dos santos; 10. na remissão dos pecados; 11. na ressurreição da carne 12. e na vida eterna. Amém. Credo Atanasiano Atanásio foi um ministro fiel que tomou uma posição firme contra as heresias de Ário. Ele defendeu o ensino bíblico sobre a Trindade e sobre a encarnação de Cristo que ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Na sua forma atual o Credo Atanasiano data do século VI. Qualquer um que quer ser salvo, antes de tudo deve seguir a fé universal: aquele que não a guardar integral e intata, sem dúvida perecerá eternamente. A fé universal é esta: que adoremos o único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundindo as Pessoas, nem separando o Ser. Pois, uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo; mas o Pai e o Filho e o Espírito Santo possuem uma só divindade, igual glória e igual majestade eterna. Assim como é o Pai, assim é o Filho, assim é também o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo; imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo; eterno é o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; contudo, eles não são três eternos, mas um só eterno; como não são três incriados nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso. igualmente o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso; contudo eles não são três todo-poderosos, mas um só todo-poderoso. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; contudo eles não são três deuses, mas um só Deus. Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; contudo eles não são três Senhores, mas um só Senhor. Pois assim como nós somos compelidos, pela verdade cristã, a confessar cada Pessoa singular como Deus e Senhor, assim nos é proibido, pela fé universal, falar de três deuses ou três Senhores. O Pai não foi feito por ninguém, nem criado, nem gerado. O Filho não foi feito, nem criado, mas gerado, somente pelo Pai. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e Filho, mas está procedendo dEles. Então, um só Pai, não três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espírito Santos. E nesta Trindade não há nada anterior ou posterior, nem maior ou menor, mas todas estas três Pessoas têm a mesma eternidade e igualdade. Por isso, como já foi dito, seja venerada, em tudo, a Unidade na Trindade, assim como a Trindade na Unidade. Portanto, quem quer ser salvo, deve reconhecer assim a Trindade. Mas é necessário para a salvação eterna, crer também fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo. Então, a verdadeira fé é que cremos e confessamos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é igualmente Deus e homem. Ele é Deus da substância do Pai, gerado antes de todos os tempos, e Ele é homem da substância da mãe, nascido no tempo; perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de alma racional e carne humana; igual ao Pai, visto a natureza divina; menor que o Pai, visto a natureza humana. Ele, mesmo sendo Deus e homem, não é dois mas um só Cristo. Ele é um, não por ser convertida a Divindade em carne, mas porque Deus assumiu a natureza humana; Ele é um, não por confusão da substância, mas pela unidade de uma Pessoa. Pois assim como a alma racional e a carne são uma Pessoa, assim Deus e homem são um só Cristo. Ele padeceu por nossa salvação, desceu ao reino dos mortos, ressurgiu dos mortos no terceiro dia, subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai, Todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos: com a vinda dEle todas as pessoas vão ressurgir com seus corpos e dar contas de seus próprios atos; os que tiverem feito o bem, entrarão na vida eterna, os que tiverem feito o mal no fogo eterno. Esta é a fé universal: quem não crer nela fielmente e firmemente, não poderá ser salvo. Credo Niceno O Credo Niceno foi adotado pela Igreja de Cristo como resposta contra vários ensinos falsos, como os de Ário que negou a divindade de Jesus Cristo. A heresia dele foi condenada no Concílio de Nicéia no ano 325. A forma atual deste credo se desenvolveu alguns anos mais tarde. I. Cremos em um só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. II. Cremos em um só Senhor Jesus Cristo, o único Filho de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, luz de luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus; gerado, não criado, de igual substância do Pai; por Ele todas as coisas foram feitas. Por nós, homens, e por nossa salvação, Ele desceu do céu e se fez carne, pelo Espírito Santo, da virgem Maria, e se tornou homem. Também por nós, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressurgiu no terceiro dia, conforme as Escrituras. Subiu ao céu, está sentado à direita do Pai e de novo há de vir, com glória, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim. III. Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou através dos profetas. E numa só igreja, santa, universal e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém. Confissão Belga O primeiro dos padrões doutrinários da Igrejas Reformadas é a Confissão de Fé. É chamado normalmente de Confissão Belga, pois é originário da região sul dos Países Baixos, conhecida hoje como Bélgica. O seu principal autor, Guido de Brès, um prega- dor das Igrejas Reformadas dos Países Baixos, foi martirizado por causa da Fé no ano de 1567. Durante o Século XVI as igre- jas desse país estavam sujeitas às mais terríveis perseguições por parte do governo católico-romano. De Brès preparou essa con- fissão no ano de 1561 para protestar contra essa cruel opressão e provar aos seus perseguidores que os adeptos da Fé Reformada não eram rebeldes, como haviam sido acusados, mas cidadãos dentro da lei que professavam a autêntica doutrina cristã, segun- do as Sagradas Escrituras. No ano seguinte, um seu exemplar foi enviado ao rei Felipe II juntamente com uma petição em que os signatários declaravam estar prontos a obedecer o governo em todas as coisas legítimas, mas que estavam prontos “a oferecer as suas costas aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas às mordaças e o seu corpo inteiro às chamas” ao invés de negarem as verdades expressas nessa Confissão. Embora não haja logrado o propósito imediato de assegu- rar a libertação da perseguição, e o próprio de Brès tenha caído com um dos milhares que selaram a fé com as próprias vidas, o seu trabalho tem perdurado e continuará a resistir por séculos. Ao compor a Confissão, o seu autor valeu-se, numa certa me- dida, da Confissão das Igrejas Reformadas da França, escrita principalmente por João Calvino e publicada dois anos antes. Contudo, a obra de de Brès não é uma mera revisão do trabalho de Calvino, mas uma composição independente. Ela foi ime- diata e alegremente recebida pelas igrejas dos Países Baixos e adotada pelos Sínodos Nacionais convocados nas últimas três décadas do Século XVI. Depois de uma criteriosa revisão, nãode conteúdo mas textual, o grande Sínodo de Dort de 1618/1619 a adotou como um dos padrões doutrinários da Igreja Reforma- da, à qual se requer a subscrição de todos os seus oficiais eclesi- ásticos. É amplamente reconhecida a sua excelência como uma das melhores declarações simbólicas da fé reformada. A CONFISSÃO BELGA Contendo a síntese da doutrina de Deus e da salvação eterna do homem ARTIGO 1 Só existe um Deus Todos nós cremos com o coração, e confessamos com a boca,1 que só existe um Deus,2 que é um Ser espiritual e sim- ples;3 Ele é eterno,4 incompreensível,5 invisível,6 imutável,7 infi- nito,8 onipotente,9 perfeitamente sábio,10 justo,11 bom12 e a fonte transbordante de todo o bem.13 1. Rm 10.10; 2. Dt 6.4; 1Co 8.4; 1Tm 2.5; 3. Jo 4.24; 4. Sl 90.2; 5. Rm 11.33; 6. Cl 1.15; 1Tm 6.16; 7. Tg 1.15; 8. 1Rs 8.27; Jr 23.24; 9. Gn 17.1; Mt 19.26; Ap 1.8; 10. Rm 16.27; 11. Rm 3.25, 26; Rm 9.14; Ap 16.5, 7; 12. Mt 19.17; 13. Tg 1.17. ARTIGO 2 Como Deus se faz conhecido a nós Nós o conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, preservação e governo do Universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico dos livros,1 no qual todas as criaturas grandes e pequenas são como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente “os atributos in- visíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Rm 1.20. Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis. Segundo: Ele se faz conhecer mais clara e plenamente através da Sua Santa e Divina Palavra2 — tanto quanto para nós é necessário nesta vida — para a Sua glória e nossa salvação. 1. Sl 19.1-4; 2. Sl 19.7, 8; 1Co 1.18-21. ARTIGO 3 A Palavra de Deus Confessamos que a Palavra de Deus não foi enviada nem produzida pela “vontade humana; entretanto, homens santos fa- laram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como afirma o apóstolo Pedro (2Pe 1.21). Após isto Deus, em Seu es- pecial cuidado por nós e nossa salvação, ordenou que os profetas e os apóstolos, Seus servos, registrassem por escrito a Sua Pala- vra revelada;1 tendo Ele mesmo escrito com os próprios dedos as duas tábuas da lei.2 É por isso que chamamos esses escritos de Sagradas e Divinas Escrituras.3 1. Êx 34.27; Sl 102.18; Ap 1.11, 19; 2. Êx 31.18; 3 2Tm 3.16. ARTIGO 4 Os livros canônicos Cremos que as Sagradas Escrituras constituem-se de duas partes: o Velho e o Novo Testamentos, que são canônicos e con- tra os quais nada se pode pretextar. Esta é a relação dos livros reconhecidos pela igreja de Deus: • Os livros do Velho Testamento são: Cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio; Doze livros históricos: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester; Cinco livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos; Quatro profetas maiores: Isaías, Jeremias (com Lamentações), Ezequiel e Daniel; Doze profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Oba- dias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofo- nias, Ageu, Zacarias e Malaquias. • Os livros do Novo Testamento são: Quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João; Os Atos dos Apóstolos; As treze cartas do apóstolo Paulo: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossen- ses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito e Filemon; A carta aos Hebreus; As outras sete cartas: Tiago, I e II Pedro, I, II e III João e Judas; E a revelação do apóstolo João: Apocalipse. ARTIGO 5 A autoridade das Sagradas Escrituras Recebemos1 todos esses livros — e eles somente — como sagrados e canônicos para regular, fundamentar e confirmar a nossa fé.2 Cremos, sem dúvida nenhuma, em tudo o que eles contêm, não tanto porque a igreja assim os recebe e aprova, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos co- rações que eles vêm de Deus,3 como eles mesmos provam; pois até os cegos podem perceber que as coisas preditas neles estão a se cumprir.4 1. 1Ts 2.13; 2. 2Tm 3.16, 17; 3. 1Co 12.3; 1Jo 4.6; 1Jo 5.7; 4. Dt 18.21, 22; 1Rs 22.28; Jr 28.9; Ez 33.33. ARTIGO 6 A diferença entre os livros canônicos e os livros apócrifos Distinguimos esses livros sagrados dos apócrifos, que são os seguintes: III e IV Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiás- tico, Baruc, os acréscimos aos livro de Ester e Daniel (o cântico de Azarias na fornalha, o cântico dos três jovens na fornalha, a estória de Suzana, Bel e o Dragão), a oração de Manassés e I e II Macabeus. A igreja pode ler e tirar deles instrução até onde concordarem com os livros canônicos. Mas não têm nenhum poder nem autoridade que possam confirmar pelo seu testemunho qualquer artigo da fé ou da religião cristã; muitos menos podem diminuir a autoridade dos livros sagrados.“Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas” (2Jo 1.10). 1. 2Tm 3.16, 17; 1Pe 1.10-12; 2. 1Co 15.2; 1Tm 1.3; 3. Dt 4.2; Pv 30.6; At 26.22; 1Co 4.6; Ap 22:18, 19; 4. Sl 19.7; Jo 15.15; At 18.28; 20.27; Rm 15.4; 5. Mc 7.7-9; At 4.19; Cl 2.8; 1Jo 2.19; 6. Dt 4.5, 6; Is 8.20; 1Co 3.11; Ef 4.4-6; 2Ts 2.2; 2Tm 3.14, 15. ARTIGO 7 A suficiência da Sagrada Escritura Cremos que a Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e que ensina suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para ser salvo.1 Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de adoração que Deus requer de nós. Por isso, não é lícito a ninguém, nem mesmo a apóstolos, nada ensinar que seja diferente daquilo que agora nos ensina a Sagrada Escritura;2 sim, nem que seja “um anjo vindo do céu”, como afirma o apóstolo Paulo (Gl 1.8). A proibição de acrescentar ou retirar qualquer coisa da Palavra de Deus (Dt 12.32),3 é evidência que a doutrina nela contida é perfeitíssima e completíssima em todos os sentidos.4 Não nos é permitido considerar quaisquer escritos de ho- mens, por mais santos que tenham sido, como de igual valor ao das Escrituras Divinas; nem devemos considerar que costumes, maiorias, antiguidade, sucessão de tempos e de pessoas, concí- lios, decretos ou estatutos tenham o mesmo valor da verdade de Deus, porque a verdade está acima de tudo. Pois todos os homens são em si mesmos mentirosos e “mais leves que a vaidade” (Sl 62.9). Por isso, rejeitamos de todo o coração tudo aquilo que discorde dessa regra infalível,6 conforme nos ensinou o apóstolo: “provai os espíritos se procedem de Deus” (1Jo 4.21), e também: "Se alguém vew ter convosco e nâo traz esta doutrina, nâo o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas" (2Jo 1.10). 1. 2Tm 3.16, 17; 1Pe 1.10-12; 2. 1Co 15.2; 1Tm 1.3 3. Dt 4.2; Pv 30.6; At 26.22; 1Co 4.6; Ap 22:18, 19; 4. Sl 19.7; Jo 15.15; At 18.28; 20.27; Rm 15.4; 5. Mc 7.7-9; At 4.19; Cl 2.8; 1Jo 2.19; 6. Dt 4.5, 6; Is 8.20; 1Co 3.11; Ef 4.4-6; 2Ts 2.2; 2Tm 3.14, 15. ARTIGO 8 Trindade — Deus é um em essência, contudo distincto em três pessoas De acordo com essa verdade e a Palavra de Deus, cremos em um só Deus,1 uno na essência, em quem há três pessoas dis- tintas — de modo real, verdadeiro e eterno — conforme os Seus atributos incomunicáveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.2 O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis.3 O Filho é a Palavra, a sabedoria, e a imagem do Pai.4 O Espírito Santo é a força e o poder eternos que procedem do Pai e do Filho.5 Deus, contudo, não está divido em três, pois as Sagradas Escrituras nos ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo cada um tem Sua própria pessoa diferençada por Seus atributos, mas de tal modo que as três pessoas são apenas um único Deus. É evidente, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; e também que o Espírito Santo não é o Pai nem, o Filho. Todavia essas pessoas distintas não estão divididas, nem misturadas entre si; pois o Pai não assumiu a nossa carne e san- gue, nem também o Espírito Santo, mas somente o Filho. O Pai jamais existiu sem Seu Filho6 ou sem Seu Espírito Santo, pois os três, em uma única e mesma essência, são iguais em eternidade. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um em ver- dade, poder, bondade e misericórdia. 1. 1Co 8.4-6; 2. Mc 3.16, 17; Mt 28.19; 3. Ef 3.14, 15; 4. Pv 8.22-31; Jo 1.14; 5.17-26; 1Co 1.24; Cl 1.15-20; Hb 1.3; Ap 19.13; 5. Jo 15.26; 6. Mq 5.2; Jo 1.1, 2. ARTIGO 9 O testemunho da Escritura sobre a Trindade Tudo isso sabemos tanto pelo testemunho da Sagrada Escritura1 quanto pelas obras de cada uma das três Pessoas e es- pecialmente por aquelas que percebemos em nós mesmos. Os testemunhos da Escritura que nos ensinam a crer na Trindade Santa estão registrados em muitos lugares no Velho Testamento. Não é necessário citá-los todos, basta selecionar criteriosamente a alguns deles. No livro de Gênesis 1.27 e 26, Deus diz: “Façamos o ho- mem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança .... Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Assim também em Gênesis 3.22: “Eis que o homem se tornou como um de Nós”. Quando Deus diz: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança, evidencia-se que existe mais do que uma Pessoa Divina; e ao dizer: Criou Deus, demonstra-se que só existe um único Deus. É verdade que não se diz quantas Pessoas são, mas aquilo que no Velho Testamento parece um tanto obscuro, no Novo Testamento fica totalmente claro. Pois quando o nosso Senhor foi batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai que disse: “Este é o meu Filho amado” (Mt 3.17), enquanto o Filho foi visto na água e o Espírito Santo desceu sobre Ele na forma corpórea de uma pomba.2 Além disso Cristo prescreveu a seguinte fórmula para o batismo de todos os crentes: “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). No Evangelho segundo Lucas o anjo Gabriel assim diz a Maria, mãe do nosso Senhor: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altís- simo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). E de modo semelhante: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.14). Em todas essas referências somos amplamente ensinados que existem três Pessoas em uma única essência. Embora tal doutrina ultrapasse o entendimento humano, na vida presente cremos nela alicerçados na Palavra de Deus, e esperamos gozar de seu pleno conhecimento e fruto no céu porvir. Temos, acima de tudo, que observar os ofícios e as obras distintos dessas três Pessoas para conosco. O Pai é chamado nosso Criador por Seu poder; o Filho, nosso Salvador e Redentor por Seu sangue; o Espírito Santo, nosso Santificador, porque ha- bita em nossos corações. A doutrina da Santa Trindade sempre tem sido mantida na verdadeira igreja, dos dias apostólicos até o presente, contra os judeus, os mulçumanos, e contra os fal- sos cristãos e os hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário, e outros, que foram condenados de modo justo pelos pais ortodoxos. Quanto a essa doutrina, por- tanto, aceitamos de boa vontade os três credos: o Apostólico, o Niceno, e o Atanasiano; bem como o que os pais antigos estabe- leceram em concordância com estes credos. 1. Jo 14.16; Jo 15.26; At 2.32, 33; Rm 8.9; Gl 4.6; Tt 3.4-6; 1Pe 1.2; 1Jo 4.13, 14; 1Jo 5.1-12; Jd 20,21; Ap 1.4,5; 2. Mt 3:16. ARTIGO 10 Jesus Cristo: eterno e verdadeiro Deus Cremos que Jesus Cristo é, segundo a Sua natureza Divi- na, o Filho Unigênito de Deus,1 gerado desde a eternidade, não feito nem criado — senão seria uma criatura — mas é da mesma substância e co-eterno com o Pai, “é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3) e em tudo igual a Ele.2 Ele é o Filho de Deus não somente desde que assumiu a nossa natu- reza, mas desde a eternidade,3 conforme nos ensina a compara- ção dos seguintes testemunhos: Moisés afirma que Deus criou o mundo;4 o apóstolo João diz que tudo foi criado pelo Verbo, ao qual chama Deus.5 A Carta aos Hebreus diz que Deus criou o mundo por meio do Seu Filho;6 igualmente o apóstolo Paulo afirma que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo.7 Portanto, conclui-se necessariamente que Àquele a quem cha- mam de Deus, de Verbo, de Filho e de Jesus Cristo, existia de fato já no tempo em que todas as coisas foram criadas por Ele. Por isso é que Ele pôde dizer: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58), e pôde orar: “glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5). Logo, Ele é o Deus Verdadeiro e Eterno, o Onipotente a quem invocamos, adoramos e servimos. 1. Mt 17.5; Jo 1.14, 18; Jo 3.16; Jo 14.1-14; Jo 20.17, 31; Rm 1.4; Gl 4.4; Hb 1.2; 1Jo 5.5, 9-12; 2. Jo 5.18, 23; Jo 10.30; Jo 14.9; Jo 20.28; Rm 9.5; Fp 2.6; Cl 1.15; Tt 2.13; Hb 1.3; Ap 5.13; 3. Jo 8.58; Jo 17.5; Hb 13.8; 4. Gn 1.1; 5. Jo 1.1-3; 6. Hb 1.2; 7. 1Co 8.6; Cl 1:16. ARTIGO 11 O Espírito Santo: eterno e verdadeiro Deus Cremos e confessamos também que o Espírito Santo pro- cede do Pai e do Filho desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; pode-se afirmar apenas que Ele procede de ambos.1 Ele é, pela ordem, a Terceira Pessoa da Trindade, de igual substância majestade e glória com o Pai e o Filho, verda- deiro e eterno Deus, conforme nos ensina as Sagradas Escritu- ras.2 1. Jo 14.15-26; Jo 15.26; Rm 8.9; 2. Gn 1.2; Mt 28.19; At 5.3, 4; lCo 2.10; 1Cor 3:16; 1Co 6.11; 1Jo 5.7. ARTIGO 12 A criação de todas as coisas, especialmente dos anjos Cremos que o Pai criou por Sua Palavra — isto é, por meio de Seu Filho o Verbo — o céu, a terra e todas as criaturas do nada, quando bem Lhe aprouve,1 e que, a cada uma delas, con- cedeu o ser, a forma, e a aparência, e a cada uma a própria fun- ção específica para servirem ao seu Criador. Cremos que Ele também continua a sustentá-las e a governá-las segundo a Sua providência eterna, pelo Seu poder infinito, para que sirvam ao homem, a fim de que o homem possa servir ao seu Deus. Ele também criou os anjos bons, para serem Seus mensa- geiros e servirem a Seus eleitos.2 Da posição de exaltação em que foram criados por Deus, alguns deles caíram na perdição eterna,3 tendo os demais, pela graça de Deus, permanecido fir- mes em seu estado original. Os demônios e os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem.4 Ficam de espreita como assassinos para, com todas as suas for- ças, arruinarem a igreja e a todos os seus membros e para tudo destruírem com os seus artifícios malignos.5 Por isso, pela pró- pria malignidade deles, estão condenados à perdição eterna e aguardam a cada dia os seus horríveis tormentos.6 Assim, abominamos e rejeitamos o erro dos Saduceus, que negam a existência de espíritos e de anjos;7 e também os erros dos Maniqueístas, que dizem que os demônios não foram cria- dos, mas que têm origem em si mesmos e que não se corrompe- ram, sendo malignos pela própria natureza. 1. Gn 1.1; Gn 2.3; Is 40.26; Jr 32.17; Cl 1.15, 16; lTm 4.3; Hb 11.3; Ap 4.11; 2. Sl 103.20, 21; Mt 4.11; Hb 1.14; 3. Jo 8.44; 2Pe 2.4; Jd 6; 4. Gn 3.1-5; lPe 5.8; 5. Ef 6.12; Ap 12.4, 13-17; Ap 20.7-9; 6. Mt 8.29; Mt 25.41; Ap 20.10; 7. At 23.8. ARTIGO 13 A Providência de Deus Cremos que o bom Deus, depois de haver criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao destino ou aca- so,1 mas segundo a Sua santa vontade Ele as rege e governa de tal modo que no mundo nada acontece sem a Sua determina- ção.2 Deus, contudo, não é o autor nem é culpável dos pecados que se cometem,3 pois Seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis que Ele ordena e faz a Sua obra de modo mais excelente e justíssimo, ainda que os demônios e os ímpios ajam com injustiça.4 E quanto àquilo que Ele faz que ultrapassa o entendimento humano, não queremos investigar curiosamente além da nossa capacidade de entender. Mas adoramos com toda humildade e reverência os justos juízos de Deus, que nos estão ocultos.5 Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, que de- vem aprender apenas o que Ele nos ensina em Sua Palavra, sem transgredir esses limites.6 Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando nos ensina que nada nos acontece por acaso, mas somente pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cuida de nós com zelo paternal, guardando as Sua criaturas de tal modo que debaixo do Seu poder que nem mesmo um cabelo da nossa ca- beça — pois estão todos contados — ou um pardal cai por terra sem o consentimento do nosso Pai (Mt 10.29, 30). Nisso confia- mos, pois sabemos que Ele reprime o maligno e todos os nossos inimigos para que não possam nos ferir sem a Sua permissão ou vontade.7 Por isso rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que afirmam que Deus não se importa com nada, mas tudo entrega ao acaso. 1. Jo 5.17; Hb 1.3. 2. Sl 115.3; Pv 16.1, 9, 33; Pv 21.1; Ef 1.11, 12; Tg 4.13-15. 3. Tg 1.13; 1Jo 2.16. 4. Jó 1.21; Is 10.5; Is 45.7; Am 3.6; At 2.23; At 4.27,28. 5. 1Rs 22.19- 23; Rm 1.28; 2Ts 2.11. 6. Dt 29.29; 1Co 4.6. 7. Gn 45.8; Gn 50.20; 2Sm 16.10; Rm 8.28, 38, 39. ARTIGO 14 A criação e queda do homem e a sua incapacidade de realizar o que seja verdadeiramente bom Cremos que Deus criou o homem do pó da terra1 e o fez e o formou à Sua imagem e semelhança: bom, justo e santo.2 A 22 sua vontade ajustava-se à vontade de Deus em tudo. Mas quando o homem estava naquele estado sublime, ele não o compreendeu nem reconheceu a sua posição excelente, mas acolheu as pala- vras do diabo e sujeitou-se por livre vontade ao pecado e, assim, à morte e à maldição.3 Transgrediu o mandamento de vida que recebera, e por seu pecado apartou-se de Deus, que era a sua vida verdadeira, corrompendo toda a sua natureza e tornando-se, pois, merecedor da morte física e espiritual.4 Havendo se tornado ímpio e perverso, corrupto em todas as suas práticas, perdeu todos os dons excelentes5 que havia re- cebido de Deus. Nada lhe restou disso senão uns poucos ves- tígios, suficientes para torná-lo indesculpável.6 Logo, qualquer luz que há em nós transformou-se em trevas,7 como nos ensina a Escritura: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não pre- valeceram contra ela” (Jo 1.5). Aqui o apóstolo João chama a natureza humana de “trevas”. Rejeitamos, portanto, todo ensinamento sobre o livre-arbí- trio que seja contrário a isso, porque o homem não passa de es- cravo do pecado (Jo 8.34) e ninguém “pode receber coisa algu- ma se do céu não lhe for dada” (Jo 3.27). Pois, quem é que ousa vangloriar-se de poder por si mesmo fazer algum bem, quando Cristo afirma que: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44)? Quem se gloriará da sua von- tade própria, depois de compreender que “o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8.7)? Quem pode falar do seu entendimento, quando “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.14)? Em resumo, quem é que ousa reivindicar, seja o que for, quando entende que não somos ca- pazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós mesmos, mas que a nossa capacidade vem de Deus (2Co 3.5)? Por isso, aquilo que o apóstolo diz deve justamente permanecer certo e firme: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). Porque não há entendimento, nem vontade ajustada ao entendimento e à vontade de Deus, se Cristo não o efetuar em nós, segundo Ele nos ensina: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). 1. Gn 2.7; Gn 3.19; Ec 12.7. 2. Gn 1.26, 27; Ef 4.24; Cl 3.10. 3. Gn 3.16-19; Rm 5.12. 4. Gn 2.17; Ef 2.1; Ef 4.18. 5. Sl 94.11; Rm 3.10; Rm 8.6. 6. Rm 1.20, 21. 7. Ef 5.8. ARTIGO 15 O pecado original Cremos que pela desobediência de Adão o pecado original se estendeu a toda a raça humana.1 Esse pecado é a corrupção de toda a natureza humana2 e um mal hereditário que contamina até mesmo as criancinhas no ventre de suas mães.3 Como raiz, produz no homem toda a sorte de pecados. É, portanto, tão vil e enorme diante de Deus que é suficiente para condenar a raça humana.4 Não é eliminado ou erradicado, nem mesmo pelo ba- tismo, pois o pecado sempre jorra desta corrupção como a água corrente de uma fonte contaminada.5 Mas apesar de tudo isso o pecado original não é imputado para a condenação dos filhos de Deus, mas por Sua graça e misericórdia lhes é perdoado.6 Isso não significa que os crentes podem descansar tranqüilamente em seus pecados, mas que a consciência dessa corrupção mui- tas vezes pode fazê-los gemer, na ansiosa expectativa de serem libertos do corpo dessa morte. A esse respeito, repudiamos o erro dos pelagianos que dizem ser esse pecado apenas uma questão de imitação. 1. Rm 5.12-14, 19. 2. Rm 3.10. 3. Jó 14.4; Sl 51.5; Jo 3.6. 4. Ef 2.3. 5. Rm 7.18, 19. 6. Ef 2.4, 5. ARTIGO 16 A eleição divina Cremos que quando toda a descendência de Adão se pre- cipitou na perdição e na ruína pela transgressão do primeiro homem,1 Deus mostrou-se como realmente é: misericordioso e justo. Misericordioso por socorrer e salvar desta perdição aos que, em Seu conselho eterno e imutável2 Ele elegeu3 por pura bondade em Jesus Cristo nosso Senhor,4 sem levar em conside- ração nenhuma das obras deles.5 Justo por deixar os outros na queda e na perdição nas quais eles mesmos se precipitaram. 1. Rm 3.12. 2. Jo 6.37, 44; Jo 10.29. Jo 17. 2, 9, 12; Jo 18.9. 3. 1Sm 12.22; Sl 65.4; At 13.48; Rm 9.16; Rm 11.5; Tt 1.1. 4. Jo 15.16, 19; Rm 8.29; Ef 1.4, 5. 5. Ml 1.2, 3; Rm 9.11-13; 2Tm 1.9; Tt 3.4, 5. 6. Rm 9.19-22; 1Pe 2.8. ARTIGO 17 O socorro do homem caído Cremos que o nosso Deus gracioso, ao ver que o homem se precipitara na morte física e espiritual e se fizera completa- mente miserável, em Sua maravilhosa sabedoria e bondade saiu em busca dele quando fugiu trêmulo da Sua presença.1 Deus o consolou com a promessa de que lhe daria o Seu Filho, nascido de mulher (Gl 4.4), para esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15) e torná-lo bem-aventurado.2 1. Gn 3.9. 2. Gn 22.18; Is 7.14; Jo 1.14; Jo 5.46; Jo 7.42; At 13.32, 33; Rm 1.2, 3; Gl 3.16; 2Tm 2.8; Hb 7.14. ARTIGO 18 A encarnação do Filho de Deus Confessamos, portanto, que Deus cumpriu a promessa que fizera aos patriarcas pela boca de Seus santos profetas1 quando, no tempo determinado por Ele,2 enviou Seu próprio Filho unigê- nito e eterno ao mundo, que assumiu a forma de servo e nasceu à semelhança de homem (Fp 2.7). Ele verdadeiramente assumiu a natureza humana verdadeira com todas as suas fraquezas,3 sem pecado.4 Foi concebido no ventre da bendita virgem Maria pelo poder do Espírito Santo e não pela ação do homem.5 Para que fosse verdadeiramente homem Ele não apenas assumiu a natu- reza humana quanto ao corpo, mas também uma alma humana verdadeira. Pois, assim como o corpo e a alma estavam perdidos, foi necessário que assumisse os dois para que ambos fossem salvos. Por isso confessamos (contrários à heresia dos Anabatistas que negam que Cristo assumiu a natureza carnal da Sua mãe) que Cristo partilhou da carne e do sangue dos filhos (Hb 2.14). Ele é da descendência de Davi (At 2.30); nascido da descendên- cia de Davi segundo a carne (Rm 1.3); fruto do ventre da virgem Maria (Lc 1.42); nascido de mulher (Gl 4.4); um renovo de Davi (Jr 33.15); rebento do tronco de Jessé (Is 11.1); procedente da tribo de Judá (Hb 7.14); descendente dos judeus segundo a carne (Rm 9.5); da semente de Abraão,6 pois o Filho estava ligado à descendência de Abraão. Por isso Ele tinha de ser igual aos Seus irmãos em todos os aspectos, contudo sem pecado (Hb 2.16, 17; Hb 4.15). Assim Ele é verdadeiramente o nosso Emanuel, isso é, Deus conosco (Mt 1.23). 1. Gn 26.4; 2Sm 7.12-16; Sl 132.11; Lc 1.55; At 13.23. 2. Gl 4.4. 3. 1Tm 2.5; 1Tm 3.16; Hb 2.14. 4. 2Co 5.21; Hb 7.26; 1Pe 2.22. 5. Mt 1.18; Lc 1.35. 6. Gl 3.16. ARTIGO 19 As duas naturezas na única pessoa de Cristo Cremos que, por essa concepção, a pessoa do Filho de Deus está inseparavelmente unida e ligada à natureza humana,1 de modo que não há dois filhos de Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas unidas em uma única pessoa. Cada uma delas mantém as sua características distintas: a Sua natureza Divina permaneceu sempre não-criada, sem começo de dias nem fim de vida (Hb 7.3), preenchendo céu e terra.2 A Sua natureza humana não perdeu as suas características: tem começo de dias e continua criada; é finita e conserva todos os atributos de um corpo verdadeiro.3 No entanto, pela Sua ressurreição, concedeu Ele imortalidade à Sua natureza humana, não havendo modificado a realidade dela,4 pois a nossa salvação e ressurreição dependem também da realidade do Seu corpo.5 Contudo, essas duas naturezas estão tão intimamente unidas em uma única pessoa que não foram separadas nem mesmo por Sua morte. Ao morrer, portanto, Ele rendeu nas mãos do Pai um espírito humano verdadeiro que se apartou do Seu cor- po.6 Entretanto a Sua divindade permaneceu sempre unida à Sua natureza humana, até mesmo quando Ele jazia na sepultura.7 A natureza divina sempre esteve presente nEle, exatamente como quando era uma criancinha, embora por algum tempo não se tivesse manifestado. Por isso confessamos que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: verdadeiro Deus a fim de vencer a morte pelo Seu poder; e verdadeiro homem a fim de morrer por nós segundo as fraquezas da Sua carne. 1. Jo 1.14; Jo 10.30; Rm 9.5; Fp 2.6,7. 2. Mt 28.20. 3. 1Tm 2.5. 4. Mt 26.11; Lc 24.39; Jo 20.25; At 1.3,11; At 3.21; Hb 2.9. 5. 1Co 15.21; Fp 3.21. 6. Mt 27.50. 7 Rm 1.4. ARTIGO 20 A justiça e misericórdia de Deus em Cristo Cremos que Deus, que é perfeitamente misericordioso e justo, enviou o Seu Filho para assumir a mesma natureza em que se cometera a desobediência,1 para fazer satisfação nessa mesma natureza e suportar o castigo do pecado através de Seu sofri- mento e morte mui amargos.2 Deus, assim, manifestou a Sua justiça contra o Seu Filho quando colocou sobre Ele as nossas iniqüidades3 e sobre nós, que éramos culpados e merecedores da condenação eterna, derramou a Sua bondade e misericórdia. Por amor perfeitíssimo Ele entregou o Seu Filho para morrer por nós e o ressuscitou para a nossa justificação,4 a fim de que por Ele possamos obter imortalidade e vida eternal. 1. Rm 8.3. 2. Hb 2.14. 3. Rm 3.25, 26; Rm 8.32. 4. Rm 4.25. ARTIGO 21 A satisfação de Cristo, nosso Sumo Sacerdote Cremos que Jesus Cristo foi confirmado por juramento para ser Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Mel- quisedeque.1 Ele se apresentou em nosso lugar diante de Seu Pai, aplacando-Lhe a ira e satisfazendo-O totalmente2 pela oferta de Si mesmo sobre o madeiro da cruz, onde verteu o Seu precioso sangue para a purificação dos nossos pecados,3 conforme pre- disseram os profetas.4 Pois está escrito: “O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados”;5 “Como cordeiro foi levado ao matadouro”; “Foi contado com os transgressores” (Is 53.5, 7, 12)6 e condenado como um crimi- noso por Pôncio Pilatos, que no entanto havia antes declarado a Sua inocência.7 Ele restituiu o que não havia roubado (Sl 69.4). Ele morreu como o justo pelos injustos (1Pe 3.18).8 Ele sofreu no corpo e na alma, sentindo o castigo terrível causado pelos nossos pecados, e o “Seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.44). Finalmente Ele exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Tudo isso Ele suportou para o perdão dos nossos pecados. Por essa causa dizemos, exatamente como Paulo, que nada sabemos “senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2). Consideramos “tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus” nosso Senhor (Fp 3.8). Nas suas feridas encontramos consolação e não temos necessidade de buscar ou de inventar qualquer outro meio de reconciliação com Deus senão esse único sacrifício, ofertado uma única vez, através do qual os que crêem foram aperfeiçoados para sempre (Hb 10.14).10 Por isso o anjo de Deus O chamou de Jesus, isto é, Salvador, “porque ele salvará o Seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).11 1. Sl 110.4; Hb 7.15-17. 2. Rm 4.25; Rm 5.8, 9; Rm 8.32; Gl 3.13; Cl 2.14; Hb 2.9, 17; Hb 9.11-15. 3. At 2.23; Fp 2.8; 1Tm 1.15; Hb 9.22; 1Pe 1.18, 19; 1Jo 1.7; Ap 7.14. 4. Lc 24.25-27; Rm 3.21; 1Co 15.3. 5. 1Pe 2.24. 6. Mc 15.28. 7. Jo 18.38. 8. Rm 5.6. 9. Sl 22.15. 10. Hb 7.26-28; Hb 9.24-28. 11. Lc 1.31; At 4.12. ARTIGO 22 A nossa justificação pela fé em Cristo Cremos que para podermos obter o verdadeiro conheci- mento desse grande mistério, o Espírito Santo acende em nossos corações uma fé verdadeira.1 Fé que abraça Jesus Cristo com todos os Seus méritos, que se apropria dEle e nada busca além dEle mesmo.2 Pois das duas, uma: ou em Jesus Cristo não há tudo de que precisamos para a nossa salvação, ou tudo se acha nEle e então aquele que possui Jesus Cristo pela fé, tem plena salvação.3 É, portanto, uma terrível blasfêmia afirmar que Cristo não é suficiente, mas que se faz necessário algo além dEle pois resultaria assim que Cristo é apenas um meio Salvador. Por isso, dizemos exata e corretamente como Paulo que somos justificados pela fé, independentemente das obras da lei (Rm 3.28).4 Contudo, não entendemos isto, estritamente falando, com se a própria fé nos justificasse,5 pois ela é apenas o instru- mento com que abraçamos Cristo, justiça nossa. Ele nos imputa todos os Seus méritos e todas as obras santas que tem feito por nós e em nosso lugar.6 Assim, pois, Jesus Cristo é a nossa justiça e a fé é o instrumento que nos mantém com Ele na comunhão de todos os Seus benefícios. Quando estes se tornaram nossos, são mais do que suficientes para nos absolver dos nossos pecados. 1. Jo 16.14; 1Co 2.12; Ef 1.17, 18. 2. Jo 14.6; At 4.12; Gl 2.21. 3. Sl 32.1; Mt 1.21; Lc 1.77; At 13.38, 39; Rm 8.1. 4. Rm 3.19-4.8; Rm 10.4-11; Gl 2.16; Fp 3.9; Tt 3.5. 5. 1Co 4.7. 6. Jr 23.6; Mt 20.28; Rm 8.33; 1Co 1.30, 31; 2Co 5.21; 1Jo 4.10. ARTIGO 23 A nossa justiça diante de Deus Cremos que a nossa bem-aventurança fundamenta-se no perdão dos nossos pecados por causa de Jesus Cristo, e que nisso consiste a nossa justiça diante de Deus,1 segundo nos ensinam Davi e Paulo. Eles declaram que é “bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.6; Sl 32.1). O apóstolo também diz que somos “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).2 Portanto sempre nos apegamos a esse fundamento firme. Damos toda a glória a Deus,3 humilhamo-nos diante dEle e re- conhecemos aquilo que realmente somos. Nada temos que rei- vindicar por causa de nós mesmos nem por mérito nosso,4 mas dependemos e descansamos somente na obediência de Jesus Cristo crucificado.5 Esta obediência é nossa quando cremos nEle.6 Ela é o suficiente para cobrir todas as nossas iniqüidades e, nos conceder a ousadia de nos aproximarmos de Deus, li- vrando as nossas consciências de temor, terror e assombro, de modo a não seguirmos o exemplo do nosso primeiro pai, Adão, que trêmulo tentou se esconder e se cobrir de folhas de figuei- ra.7 Certamente que seríamos consumidos se tivéssemos que aparecer diante de Deus confiados em nós mesmos (por pouco que fosse), ou em qualquer outra criatura (ai de nós!).8 Por isso todos devem dizer com Davi: ó SENHOR, “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum viven- te” (Sl 143.2). 1. 1Jo 2.1. 2. 2Co 5.18, 19; Ef 2.8; 1Tm 2.6. 3. Sl 115.1; Ap 7.10-12. 4. 1Co 4.4; Tg 2.10. 5. At 4.12; Hb 10.20. 6. Rm 4.23-25. 7. Gn 3.7; Sf 3.11; Hb 4.16; 1Jo 4.17-19. 8. Lc 16.15; Fp 3.4-9. ARTIGO 24 A nossa santificação e as boas obras Cremos que esta fé verdadeira operada no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pelo agir do Espírito Santo,1 re- genera-o e torna-o um novo homem;2 faz com que viva uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado.3 Por isso não é verdade que essa fé justificadora o torna indiferente para viver uma vida santa e boa.4 Ao contrário, sem ela ninguém jamais poderia fazer nada por amor a Deus,5 mas somente por amor a si mesmo ou por medo da condenação. É, portanto, impos- sível que essa fé santa seja inoperante no homem, porque não falamos de uma fé vã, mas da que a Escritura chama de “a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6). Esta fé leva o homem a exercitar- se às obras que Deus ordenou em Sua Palavra. As boas obras, que procedem da boa raiz da fé, são boas e aceitáveis à vista de Deus, porque são todas santificadas pela Sua graça. Apesar disso elas não cooperam para a nossa justificação, porque é pela fé em Cristo que somos justificados, antes mesmo de fazermos quaisquer boas obras.6 De outro modo essas obras não pode- riam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa.7 Por isso que praticamos boas obras, não para termos mé- rito; pois, que mérito podemos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que praticamos,8 e não Ele a nós, “por- que Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). Tenhamos sempre em mente o que está escrito: “Assim também vós, depois de haver- des feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Con- tudo, não negamos que Deus recompensa as boas obras,9 mas é pela Sua graça que Ele coroa os Seus dons. Além disso, embora pratiquemos boas obras não basea- mos nelas a nossa salvação. Pois nada podemos fazer, por míni- mo que seja, que não o contaminemos com a nossa carne e que não seja digno de punição.10 Ainda que pudéssemos apresentar uma única boa obra, a mera lembrança de um único pecado bastaria para Deus a rejeitar.11 Assim, estaríamos sempre em dúvida, lançados de uma lado para o outro sem certeza alguma e com as nossas pobres consciências sempre atormentadas se não confiássemos no mérito do sofrimento e da morte do nosso Salvador.12 1. At 16.14; Rm 10.17; 1Co 12.3. 2. Ez 36.26, 27; Jo 1.12, 13; Jo 3.5; Ef 2.4-6; Tt 3.5; 1Pe 1.23. 3. Jo 5.24; Jo 8.36; Rm 6.4-6; 1Jo 3.9. 4. Gl 5.22; Tt 2.12. 5. Jo 15.5; Rm 14.23; 1Tm 1.5; Hb 11.4, 6. 6. Rm 4.5. 7. Mt 7.17. 8. 1Co 1.30, 31. 1Co 4.7; Ef 2.10. 9. Rm 2.6, 7; 1Co 3.14; 2Jo .8; Ap 2.23. 10. Rm 7.21. 11. Tg 2.10. 12. Hc 2.4; Mt 11.28; Rm 10.11. ARTIGO 25 Cristo, o cumprimento da lei Cremos que as cerimônias e os símbolos da lei terminaram com a vinda de Cristo, e que todas as sombras foram cumpri- das,1 de modo que o uso delas deve ser abolido entre os cristãos. Contudo, a verdade e a substância delas permanecem para nós em Jesus Cristo, em quem foram cumpridas.2 No entanto ainda usamos os testemunhos tirados da Lei e dos Profetas, para nos confirmar nas doutrinas do Evangelho e para ordenarmos a nossa vida com toda honradez, conforme a vontade de Deus e para a Sua glória.3 1. Mt 27.51; Rm 10.4; Hb 9.9, 10. 2. Mt 5.7; Gl 3.24; Cl 2.17. 3. Rm 13.8-10; Rm 15.4; 2Pe 1.19; 2Pe 3.2. ARTIGO 26 A intercessão de Cristo Cremos que não temos acesso a Deus senão pelo único Mediador e Advogado, Jesus Cristo, o Justo.2 Com esse propó- sito Ele se tornou homem, unindo as duas naturezas, Divina e humana, para que nós homens não sejamos impedidos mas te- nhamos acesso à Majestade Divina.3 Mas, este Mediador que o Pai constituiu entre Ele e nós, não nos deve amedrontar por Sua grandeza, a ponto de fazer-nos procurar um outro, conforme a nossa imaginação. Pois não há ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que nos ame mais que Jesus Cristo.4 “Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, ... a Si mesmo se es- vaziou tornando-se em semelhança de homem, e assumindo a forma de servo” por nós” (Fp 2.6, 7), e em todas as coisas tornou- se semelhante a Seus irmãos (Hb 2.17). Contudo, se fôssemos procurar um outro intercessor, acaso encontraríamos algum que nos amasse mais do que Aquele que entregou a Sua vida por nós, mesmo quando éramos Seus inimigos (Rm 5.8, 10)? Se tivésse- mos que procurar alguém que tivesse autoridade e poder, quem os teria mais do que Ele, que está assentado à direita do Pai e que tem toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18)? E quem será ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus?6 Foi, portanto, a total falta de confiança que introduziu o costume de desonrar os santos, em vez de honrá-los, ao fazer o que eles mesmos jamais fizeram nem exigiram. Pelo contrário, como registram os seus escritos, sempre rejeitaram tal honra, como era seu dever7. Aqui não se deve alegar que não somos dig- nos, pois não apresentamos as nossas orações em razão de nossa própria dignidade, mas somente pela excelência e a dignidade de Jesus Cristo,8 cuja justiça é a nossa, mediante a fé.9 Por isso, pelo bom motivo de extrair de nós esse medo tolo, ou antes essa falta de confiança, o autor de Hebreus nos diz que convinha a Jesus Cristo que “em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel Sumo Sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer pro- piciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.17, 18). E depois, para nos encorajar mais ainda a procurá-lO, ele nos diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conserve- mos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao tro- no da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.14-16).10 A mesma carta diz: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus .... aproximemo-nos, com sin- cero coração, em plena certeza de fé etc.” (Hb 10.19, 22). Cristo, “no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.24, 25).11 Então, que mais é necessário, visto que o próprio Cristo diz?: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Por que procuraríamos outro advogado, visto que aprouve a Deus dar-nos Seu Filho como o nosso Advogado? Não o abandonemos por um outro que jamais haveremos de encontrar. Pois quando Deus o deu a nós, bem sabia que éramos pecadores. Portanto, segundo o mandamento de Cristo, clamamos ao Pai celestial mediante Cristo, nosso único Mediador,12 como nos foi ensinado na oração do Senhor.13 E temos a certeza de que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em Seu nome (Jo 16.23).14 1. 1Tm 2 5. 2. 1Jo 2.1. 3. Ef 3.12. 4. Mt 11.28; Jo 15.13; Ef 3.19; 1Jo 4.10. 5. Hb 1.3; Hb 8.1. 6. Mt 3.17; Jo 11.42; Ef 1.6. 7. At 10.26; At 14.15. 8 Jr 17.5, 7; At 4.12. 9. 1Co 1.30. 10. Jo 10.9; Ef 2.18; Hb 9.24. 11. Rm 8.34. 12. Hb 13.15. 13. Mt 6.9-13; Lc 11.2- 4. 14. Jo 14.13. ARTIGO 27 A igreja cristã católica ou universal Cremos e professamos uma única igreja católica ou uni- versal,1 que é a santa congregação e assembléia2 dos verdadeiros crentes em Cristo, que aguardam a sua total salvação em Jesus Cristo,3 lavados por Seu sangue e santificados e selados pelo Espírito Santo.4 Essa igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o final, pois Cristo é Rei Eterno que não pode ficar sem sú- ditos.5 Essa santa igreja é preservada por Deus contra o furor do mundo inteiro,6 mesmo que por um tempo pareça, aos olhos do homem, mui pequena e quase extinta.7 Assim, no perigoso reino de Acabe, o Senhor preservou para Si sete mil pessoas que não dobraram os joelhos a Baal.8 Além disso, esta santa igreja não está confinada nem limi- tada a um lugar em particular nem a pessoas específicas, mas está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro.9 Contudo, está in- tegrada e unida, de coração e vontade, em um único e mesmo Espírito, pelo poder da fé.10 1. Gn 22.18; Is 49.6; Ef 2.17-19. 2. Sl 111.1; Jo 10.14, 16; Ef 4.3-6; Hb 12.22, 23. 3. Jl 2.32; At 2.21. 4. Ef 1.13; Ef 4.30. 5. 2Sm 7.16; Sl 89.36; Sl 110.4; Mt 28.18, 20; Lc 1.32. 6. Sl 46.5; Mt 16.18. 7. Is 1.9; 1Pe 3.20; Ap 11.7. 8. 1Rs 19.18; Rm 11.4. 9. Mt 23.8; Jo 4.21-23; Rm 10.12, 13. 10. Sl 119.63; At 4.32; Ef 4.4. ARTIGO 28 O dever de juntar-se à Igreja Cremos que essa santa assembléia e congregação é a assembléia dos remidos e, que fora dela não há salvação;1 por isso ninguém, seja qual for a sua posição ou reputação, deve se retirar dela e contentar-se com sua própria pessoa. Todos, porém, são obrigados a se juntar e a se unir a ela,2 conservando a unidade da Igreja. Devem se submeter à sua instrução e disciplina,3 curvar suas cabeças sob o jugo de Jesus Cristo,4 e servir a edificação dos irmãos,5 conforme os talentos que Deus lhes concedeu como membros do mesmo corpo.6 Para que isso se cumpra eficazmente, é dever de todos os crentes, segundo a Palavra de Deus, se separar dos que não per- tencem à Igreja7 e se juntar a essa assembléia8 em todo lugar onde Deus a tenha estabelecido. Devem fazê-lo mesmo que go- vernos, leis e autoridades lhe sejam contrários, e mesmo que sejam punidos fisicamente ou com a morte.9 Portanto, todo o que se aparta da Igreja ou não se junta a ela contraria à ordenança de Deus. 1. Mt 16.18, 19; At 2.47; Gl 4.26; Ef 5.25-27; Hb 2.11, 12; Hb 12.23. 2. 2Cr 30.8; Jo 17.21; Cl 3.15. 3. Hb 13.17. 4. Mt 11.28-30. 5. Ef 4.12. 6. 1Co 12.7, 27; Ef 4.16. 7. Nm 16.23-26; Is 52.11, 12; At 2.40; Rm 16.17; Ap 18.4. 8. Sl 122.1; Is 2.3; Hb 10.25. 9. At 4.19, 20. ARTIGO 29 As marcas da verdadeira e da falsa igreja Cremos que devemos distinguir, pela Palavra de Deus, com diligência e muito cuidado, qual é a verdadeira igreja, pois todas seitas que há hoje no mundo arrogam para si o nome de igreja.1 Não falamos aqui dos hipócritas que se misturam aos fiéis da igreja, pois embora participem visivelmente da igreja não fazem parte dela.2 Mas falamos do corpo e da comunhão da verdadeira igreja que se deve distinguir daquelas seitas que se dizem igreja. A Igreja verdadeira é reconhecida pelas seguintes marcas: Ela pratica a pura pregação do evangelho;3 mantém a pura admi- nistração dos sacramentos segundo Cristo os instituiu;4 exercita a disciplina na igreja para a correção e punição dos pecados.5 Em síntese, governa a si mesma segundo a pura Palavra de Deus,6 rejeita tudo o que lhe for contrário7 e tem Jesus Cristo como úni- co cabeça.8 Assim se reconhece com certeza a verdadeira Igreja, e ninguém tem o direito de se separar dela. Os que pertencem à igreja devem ser reconhecidos pelas marcas dos cristãos: eles crêem em Jesus Cristo como o úni- co Salvador;9 fogem do pecado e buscam por justiça;10 amam o verdadeiro Deus e o seu próximo11 sem se desviar para a direita nem para a esquerda; e crucificam a carne com as obras delas.12 No entanto ainda permanece neles uma grande fraqueza à qual combatem, pelo Espírito, todos os dias das suas vidas.13 Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e obediência de Jesus Cristo no qual têm a remissão de seus pecados, por meio da fé nEle.14 A falsa igreja, contudo, atribui mais autoridade a si mes- ma e às suas ordenanças do que à Palavra de Deus; não quer se submeter ao jugo de Cristo;15 não administra os sacramentos conforme Cristo ordenou em Sua Palavra, mas acrescenta e sub- trai deles o tanto que lhe convém; baseia-se mais nos homens do que em Jesus Cristo; persegue aos que vivem de maneira santa, segundo a Palavra de Deus, e aos que lhe repreendem os seus pecados, cobiça e idolatrias.16 Pela distinção uma da outra, é fácil conhecer essas duas igrejas. 1. Ap 2.9. 2. Rm 9.6. 3. Gl 1.8; 1Tm 3.15. 4. At 19.3-5; 1Co 11.20-29. 5. Mt 18.15-17; 1Co 5.4, 5, 13; 2Ts 3.6, 14; Tt 3.10. 6. Jo 8.47; Jo 17.20; At 17.11; Ef 2.20; Cl 1.23; 1Tm 6.3. 7. 1Ts 5.21; lTm 6.20; Ap 2.6. 8. Jo 10.14; Ef 5.23; CL 1.18. 9. Jo 1.12; 1Jo 4.2. 10. Rm 6.2; Fp 3.12. 11. 1Jo 4.19-21. 12. Gl 5.24. 13. Rm 7.15; GL 5.17. 14. Rm 7.24, 25; 1Jo 1.7-9. 15. At 4.17, 18; 2Tm 4.3, 4; 2Jo .9. 16. Jo 16.2. ARTIGO 30 O governo da igreja Cremos que a verdadeira igreja deve ser governada confor- me a ordem espiritual que o nosso Senhor nos ensinou em Sua Palavra.1 Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Pa- lavra de Deus e para administrarem os sacramentos;2 deve haver também presbíteros3 e diáconos4 para formarem com os pastores o conselho da igreja. Assim preservam eles a verdadeira religião e zelam para que a sã doutrina siga o seu curso, para que os maus sejam disciplinados de forma espiritual e sejam contidos e também para que os pobres e todos os aflitos sejam socorridos e consolados segundo as suas necessidades.6 Assim tudo será bem feito e com boa ordem quando tais homens fiéis são escolhidos7 segundo a regra que o apóstolo Paulo deu a Timóteo.8 1. At 20.28; Ef 4.11, 12; 1Tm 3.15; Hb 13.20, 21. 2. Lc 1.2; Lc 10.16; Jo 20.23; Rm 10.14; 1Co 4.1; 2Co 5.19, 20; 2Tm 4.2. 3. At 14.23; Tt 1.5. 4. 1Tm 3.8-10. 5. Fp 1.1; 1Tm 4.14. 6. At 6.1-4; Tt 1.7-9. 7. 1Co 4.2. 8. 1Tm 3. ARTIGO 31 Os oficiais da igreja Cremos que os ministros da Palavra de Deus, os presbíte- ros e os diáconos devem ser escolhidos para os seus ofícios me- diante eleição legítima pela igreja, com oração e em boa ordem, como estipula a Palavra de Deus.1 Por isso, cada um deve cuidar para não se intrometer no ofício de modo impróprio; pois deve esperar pelo momento quando ele seja chamado por Deus, para obter o testemunho da sua vocação, por ser certo e seguro que esta é do Senhor.2 Os ministros da Palavra têm igual poder e autoridade onde quer que estejam, pois todos eles são servos de Jesus Cristo,3 o único Bispo universal e o único Cabeça da igre- ja.4 E para que essa sagrada ordenança de Deus não seja violada nem desprezada, instamos a todos para que nutram especial es- tima pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja em razão da obra que realizam,5 e que estejam em paz com eles, o tanto quanto possível, sem murmurações ou contendas. 1. At 1.23, 24; At 6.2, 3. 2. At 13.2; 1Co 12.28; 1Tm 4.14; 1Tm 5.22; Hb 5.4. 3. 2Co 5.20; 1Pe 5.1-4. 4. Mt 23.8, 10; Ef 1.22; Ef 5.23. 5. 1Ts 5.12, 13; 1Tm 5.17; Hb 13.17. ARTIGO 32 A ordem e a disciplina da igreja Cremos que, embora seja util e bom que os governantes da Igreja entre se estabeleçam e conservem determinada ordem para manter o corpo da Igreja, no entanto devem se guardar de desviar-se daquilo que o nosso único Mestre, Cristo, nos orde- nou.1 Por isso rejeitamos a todas as invenções e leis humanas in- troduzidas no culto a Deus que, de qualquer modo, obriguem ou forcem as consciências.2 Só aceitamos aquilo que é apropriado para preservar e promover a harmonia e unidade e para manter tudo em obediência a Deus.3 Para este fim, disciplina e excomu- nhão devem ser exercidas de acordo com a Palavra de Deus.4 1. 1Tm 3.15. 2. Is 29.13; Mt 15.9; Gl 5.1. 3. 1Co 14.33. 4. Mt 16.19; Mt 18.15-18; Rm 16.17; 1Co 5; 1Tm 1.20. ARTIGO 33 Os sacramentos Cremos que o nosso Deus gracioso, atento à nossa insen- sibilidade e fraqueza, ordenou os sacramentos para selar em nós as Suas promessas, para servirem como penhor da Sua boa-von- tade e graça para conosco, e para alimentarem e sustentarem a nossa fé.1 Ele os acrescentou à Palavra do evangelho2 para apre- sentarem melhor diante dos nossos sentidos externos aquilo que Ele nos declara em Sua Palavra e o que faz interiormente em nossos corações; confirmando em nós, assim, a salvação que nos concede. Os sacramentos são os sinais e os selos visíveis de algo interior e invisível, por meio dos quais Deus opera em nós pelo poder do Espírito Santo.3 Por isso, esses sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, porque Jesus Cristo é a verdade deles; sem Cristo, não seriam nada. Além disso, nos contentamos com o número dos sacra- mentos que Cristo, nosso Mestre, nos ordenou: sendo somente dois, a saber, o sacramento do batismo4 e da Santa Ceia de Jesus Cristo.5 1. Gn 17.9-14; Êx 12; Rm 4.11. 2. Mt 28.19; Ef 5.26. 3. Rm 2.28, 29; Cl 2.11, 12. 4. Mt 28.19. 5. Mt 26.26-28; 1Co 11.23-26. ARTIGO 34 O sacramento do batismo Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Rm 10.4), ao derramar o Seu sangue pôs fim a todo e qualquer outro derramamento de sangue que se poderia ou deveria fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a circun- cisão, que envolvia sangue, e instituiu em lugar dela o sacramen- to do batismo.1 Pelo batismo somos recebidos na igreja de Deus e separados de todos as outras pessoas e falsas religiões, para estarmos totalmente comprometidos com Ele,2 de quem carregamos a marca e o emblema, que nos serve como testemunho de que Ele será eternamente o nosso Deus e Pai gracioso. Por isso, Ele ordenou que todos os Seus sejam batizados com água pura, “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito San- to” (Mt 28.19): dando-nos a entender com isso que assim como a água, derramada em nós, lava completamente a sujeira do corpo e assim como a água é vista no corpo do batizado quando derra- mada nele; o sangue de Cristo, pelo Espírito Santo, faz a mesma coisa no interior da alma.3 Ele lava e limpa as nossas almas do pecado4 e nos regenera de filhos da ira para filhos de Deus.5 Isso não é produzido pela água em si mesma6 mas pelo aspergir do precioso sangue do Filho de Deus,7 que é o nosso Mar Verme- lho,8 que precisamos atravessar para escapar da tirania de Faraó — do diabo — para entrarmos na Canaã espiritual. Assim os ministros, por sua parte, dão-nos o sacramento e aquilo que é visível, mas o nosso Senhor nos dá aquilo que o sacramento significa, quer dizer, os dons invisíveis e a graça. O Senhor lava, purifica e limpa as nossas almas de toda imundí- cie e iniqüidade,9 renova os nossos corações e os enche de toda consolação, dá-nos a verdadeira certeza da Sua bondade pater- nal, reveste-nos de nova natureza, e despe-nos da velha natureza com todas as suas obras.10 Cremos, contudo, que aquele que almeja à vida eterna deve ser batizado uma vez com um só batismo.11 O batismo nun- ca deve ser repetido, pois não podemos nascer duas vezes. Além disso, o batismo não nos beneficia apenas quando a água está em nós e quando o recebemos, mas por toda a nossa vida. Por essa causa rejeitamos o erro dos Anabatistas, que não se con- tentam com o batismo recebido uma única vez, e que também condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Cremos que essas crianças devem ser batizadas e seladas com o sinal da aliança, assim como os bebês em Israel eram circuncidados com base nas mesmas promessas que agora são feitas aos nossos filhos.12 De fato, Cristo derramou o Seu sangue para purificar os filhos dos crentes do mesmo modo que o derramou pelos adul- tos.13 Por isso, devem eles receber o sinal e o sacramento daquilo que Cristo fez por eles, assim como o Senhor ordenou na lei que fosse oferecido um cordeiro logo após o nascimento dos filhos,14 que era o sacramento da paixão e morte de Jesus Cristo. Como o batismo tem para os nossos filhos o mesmo significado que a circuncisão tinha para o povo de Israel, Paulo chama o batismo de “circuncisão de Cristo” (Cl 2.11). 1. Cl 2.11. 2. Êx 12.48; 1Pe 2.9. 3. Mt 3.11; 1Co 12.13. 4. At 22.16; Hb 9.14; 1Jo 1.7; Ap 1.5b. 5. Tt 3.5. 6. 1Pe 3.21. 7. Rm 6.3; 1Pe 1.2; 1Pe 2.24. 8. 1Co 10.1-4. 9. 1Co 6.11. Ef 5.26. 10. Rm 6.4; Gl 3.27. 11. Mt 28.19; Ef 4.5. 12. Gn 17. 10-12; Mt 19.14; At 2.39. 13. 1Co 7.14. 14. Lv 12.6. ARTIGO 35 O sacramento da ceia do Senhor Cremos e confessamos que o nosso Salvador Jesus Cristo instituiu o sacramento da Santa Ceia1 para nutrir e sustentar aos que Ele já regenerou e incorporou em Sua família, que é a Sua igreja. Aqueles que nasceram de novo possuem duas vidas dife- rentes.2 Uma delas é física e temporal, recebida no primeiro nas- cimento e é comum a todos os homens; a outra é espiritual e celestial e lhes foi dada no segundo nascimento como resultado da palavra do evangelho,3 na comunhão do corpo de Cristo. Essa vida não é comum a todos os homens, mas somente aos eleitos de Deus. Para a manutenção da vida física e terrena Deus estabeleceu o pão material e terreno. Esse pão é comum a todos, assim como também a vida é comum a todos. Para a manutenção da vida es- piritual e celestial, que os crentes possuem, Ele lhes enviou o pão vivo que desceu do céu (Jo 6.51) que é Jesus Cristo.4 Este nutre e sustenta a vida espiritual dos crentes5 quando é comido por eles, isso é, ao ser apropriado e recebido espiritualmente pela fé.6 Para nos figurar o pão espiritual e celestial, Cristo insti- tuiu para nós o pão visível e terreno como sacramento do Seu corpo e, o vinho como sacramento do Seu sangue.7 Ele nos tes- tifica que tão realmente que tomamos e seguramos em nossas mãos o sacramento, e o comemos e bebemos com as nossas bocas, sustentando assim a nossa vida física, assim também, com certeza recebemos pela fé8 — mão e boca da nossa alma — em nossas almas, para a sustentação da nossa vida espiritu- al, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único salvador. Não há a menor dúvida de que Cristo não nos recomen- dou os Seus sacramentos em vão. Portanto Ele opera em nós tudo aquilo que para nós Ele representa nesses santos sinais. Não entendemos o modo como isso se realiza, exatamente como também não compreendemos as atividades ocultas do Espírito de Deus.9 Contudo, não nos enganamos ao dizermos que o que comemos e bebemos é o corpo verdadeiro e natural, e o sangue verdadeiro de Cristo. Todavia, não comemos com a boca, mas em espírito pela fé. Desse modo Jesus Cristo permanece sem- pre assentado à destra de Deus Seu Pai no céu,10 porém Ele não deixa de nos comunicar a Si mesmo pela fé. Esse banquete é uma mesa espiritual na qual Cristo nos torna participantes de Si mesmo, com todos os seus benefícios, e nos concede a graça de gozar dEle mesmo e dos méritos do Seu sofrimento e morte.11 Ele nutre, fortalece e consola as nossas almas pobres e desoladas pelo comer da Sua carne, e as refresca e renova pelo beber do Seu sangue. Embora os sacramentos estejam unidos com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos.12 O ímpio cer- tamente toma os sacramentos para a condenação dele, mas não recebe a verdade do sacramento, assim como Judas e Simão o mago, receberam o sacramento sem, contudo, receberem a Cris- to, que é aquilo que o sacramento representa.13 Cristo é comuni- cado somente aos crentes.14 Finalmente, recebemos esse santo sacramento na congre- gação do povo de Deus15 com humildade e reverência, enquanto celebramos com ações de graça a lembrança sagrada da morte de Cristo, nosso Salvador, e confessamos a nossa fé e religião cristã.16 Por isso, ninguém pode vir a essa mesa sem cuidadoso auto-exame, para que, ao comer desse pão e beber desse cálice, não coma e beba juízo sobre si mesmo (1Co 10.28, 29). Em re- sumo, o uso desse santo sacramento nos leva a amar fervorosa- mente a nosso Deus e a nosso próximo. Por essa razão rejeitamos como profanação todos os acréscimos e invenções malditas que os homens acrescentaram e misturaram aos sacramentos. De- claramos que devemos estar contentados com a ordenação que Cristo e Seus apóstolos ensinaram e falar disso da mesma ma- neira que eles falaram. 1. Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19, 20; 1Co 11.23-26. 2. Jo 3.5, 6. 3. Jo 5.25. 4. Jo 6.48-51. 5. Jo 6.63; Jo 10.10b. 6. Jo 6.40, 47. 7. Jo 6.55; 1Co 10.16. 8. Ef 3.17. 9. Jo 3.8. 10. Mc 16.19; At 3.21. 11. Rm 8.32; 1Co 10.3, 4. 12. 1Co 2.14. 13. Lc 22.21, 22; At 8.13, 21. 14. Jo 3.36. 15. At 2.42; At 20.7. 16. At 2.46; 1Co 11.26. ARTIGO 36 O governo civil Cremos que o nosso Deus gracioso, por causa da depra- vação do gênero humano, estabeleceu reis, governos e oficiais civis.1 Ele quer que o mundo seja governado por leis e planos de governo,2 para restringir os excessos dos homens e para que tudo transcorra em boa ordem entre eles.3 Para isso colocou Ele a espada na mão das autoridades para castigar os malfeitores e proteger os que praticam o bem (Rm 13.4). Eles têm por ofício não apenas restringir e conservar a boa ordem pública, mas também a proteção da igreja e do seu ministério para que* o reino de Cristo possa vir, a Palavra do evangelho seja pregada em toda a parte4 e Deus seja honrado e servido por todos — como Ele determina em Sua Palavra. Além disso, cada um, independente da sua qualidade, con- dição ou classse é obrigado a submeter-se aos oficiais civis, pa- gar os impostos, respeitá-los e honrá-los, e obedecê-los em tudo aquilo que5 não contrarie a Palavra de Deus.6 Devemos orar por eles para que Deus os dirija em todos os seus caminhos e para que “para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda pieda- de e respeito” (1Tm 2.1, 2). Em razão disso reprovamos os Anabatistas e outros re- beldes, e em geral todos quantos se opõem às autoridades e aos oficiais civis, subvertem a justiça,7 introduzem a comunhão de bens, e perturbam a boa ordem que Deus estabeleceu entre os homens. * As palavras a seguir foram eliminadas nesse ponto, em 1905, pelo Sínodo Geral das Igrejas Reformadas da Holanda (Gereformeerde Kerken in Nederland): “toda idolatria e falso culto devem ser removidos e impedidos, e o reino do anticristo deve ser destruído”. 1. Pv 8.15; Dn 2.21; Jo 19.11; Rm 13.1. 2. Êx 18.20. 3. Dt 1.16; Dt 16.19; Jz 21.25; Sl 82; Jr 21.12; Jr 22.3; 1Pe 2.13, 14. 4. Sl 2; Rm 13.4a; 1Tm 2.1-4. 5. Mt 17.27; Mt 22.21; Rm 13.7; Tt 3.1; 1Pe 2.17. 6. At 4.19; At 5.29. 7. 2Pe 2.10; Jd .8. ARTIGO 37 O juízo final Por fim, cremos, conforme a Palavra de Deus, que ao chegar1 o tempo ordenado pelo Senhor — mas desconhecido por todas as criaturas — e se completar o número dos eleitos,2 o nosso Senhor Jesus Cristo voltará do céu de maneira visí- vel e corporal assim como Ele ascendeu (At 1.11), com grande glória e majestade.4 Ele instalará a si mesmo como o juiz dos vivos e dos mortos5 e porá este antigo mundo em chamas para o purificar.6 E então, todas as pessoas — homens, mulheres e crianças — que existiram no mundo, desde o seu princípio até o seu final, aparecerão pessoalmente diante deste Grande Juiz,7 intimados pela voz do arcanjo e pela trombeta de Deus (1Ts 4.16). Todos os que morreram antes deste dia ressurgirão da ter- ra,8 quando os seus espíritos se reunirem aos corpos com que vi- viam. Os que estiverem vivos não morrerão como os outros, mas serão transformados de corrupção em incorrupção num piscar de olhos.9 Então, se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Ap 20.12) segundo o que fizeram, de bom ou de mal, neste mun- do (2Co 5.10).10 Na verdade, todos neste dia prestarão contas de toda palavra frívola que proferiram (Mt 12.36), as quais o mun- do considera apenas como zombaria e diversão. E os segredos e as hipocrisias dos homens serão revelados publicamente diante dos olhos de todos. Por isso, pensar neste juizo é coisa terrível e apavorante para os ímpios e mal-feitores,11 mas é grande gozo e conforto para o justo e eleito. Para eles completar-se-á a plena redenção e receberão os frutos de seus labores e das angústias que sofreram.12 A todos será manifesta a sua inocência e con- templarão a terrível vingança que Deus trará sobre os ímpios que os perseguiram, oprimiram e atormentaram neste mundo.13 Os ímpios serão condenados pelo testemunho das suas próprias consciências e tornar-se-ão imortais tão-somente para serem atormentados no “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41),15 mas os fiéis e eleitos serão coroa- dos de glória e de honra. O Filho de Deus confessará os seus nomes diante de Deus Seu Pai (Mt 10.32) e dos anjos eleitos (Mt 10.32).16 Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 21.4),17 e a causa deles — no presente, condenada como herética e maligna por tantos juizes e autoridades civis — será reconhe- cida como a causa do Filho de Deus. O Senhor, por graciosa recompensa, lhes fará possuir uma tal glória, que é impossível de ser concebida pelo coração do homem.18 Por isso ansiamos com grande expectativa por aquele grande dia para gozarmos da plenitude das promessas de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor. Amém! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22.10). 1. Mt 24.36; Mt 25.13; 1Ts 5.1, 2. 2. Hb 11. 39, 40; Ap 6.11. 3. Ap 1.7. 4. Mt 24.30; Mt 25.31. 5. Mt 25.31-46; 2Tm 4.1; 1Pe 4.5. 6. 2Pe 3.10-13. 7. Dt 7.9-11; Ap 20.12, 13. 45 O CATECISMO DE HEIDELBERG O Catecismo de Heidelberg, o segundo dos padrões doutrinários das Igrejas Reformadas, foi escrito em Heidelberg a pedido do Eleitor Frederico III, governador, entre 1559 e 1576, da mais influente província alemã, o Palatinado. Esse piedoso príncipe cristão comissionou Zacarias Ursinus, vinte e oito anos de idade e professor de Teologia da Universidade de Heidelberg, e Gaspar Olevianus, vinte e seis anos de idade e pregador da corte de Frederico, para que preparassem um catecismo para instruir os jovens e guiar pastores e mestres. Na preparação do Catecismo, Frederico contou com o conselho e a cooperação de todo o corpo docente de Teologia. O Catecismo de Heidelberg foi adotado pelo Sínodo de Heidelberg e publicado na Alemanha com um prefácio de Frederico III datado de 19 de janeiro de 1563. Uma segunda e terceira edição alemã, com alguns pequenos acréscimos, além de uma tradução latina, foram publicadas em Heidel- berg nesse mesmo ano. Logo cedo o Catecismo foi divido em cinqüenta e duas seções para que cada uma delas pudesse ser explicada às igrejas a cada domingo do ano. O Catecismo de Heidelberg tornou-se ampla e favoravelmente conhecido nos Países Baixos quase imediatamente após sair das prensas, principalmente pelos esforços de Pedro Dathenus, que o traduziu para o holandês e o acrescentou à sua versão do Saltério de Genebra, publicando-o em 1566. No mesmo ano Pedro Gabriel deu o exemplo, explicando-o à sua congregação em Amsterdã nos sermões das tardes de domingo. Os Sínodos Nacionais do século dezesseis o adotou como uma das Formas de Unidade, requerendo dos seus oficiais eclesiásticos que o subscrevessem e que os seus ministros o explicassem às igrejas. Essas exigências foram fortemente enfatizadas pelo grande Sínodo de Dort de 1618/1619.O Catecismo de Heidelberg tem sido traduzido em muitas línguas e é o mais influente e o mais geralmente aceito dos di- versos catecismos dos dias da Reforma. CATECISMO DE HEIDELBERG Dia do Senhor 1 P.1. Qual é o seu único consolo na vida e na morte? R. Que não pertenço a mim mesmo,1 mas pertenço de corpo e alma, tanto na vida quanto na morte,2 ao meu fiel Salvador Jesus Cristo.3 Ele pagou completamente todos os meus pecados com o Seu sangue precioso4 e libertou-me de todo o domínio do diabo.5 Ele também me guarda de tal maneira6 que sem a vontade do meu Pai celeste nem um fio de cabelo pode cair da minha cabeça;7 na verdade, todas as coisas cooperam para a minha salvação.8 Por isso, pelo Seu Espírito Santo, Ele também me assegura a vida eterna9 e faz-me disposto e pronto de coração para viver para Ele de agora em diante.10 1. 1Co 6.19, 20. 2. Rm 14.7-9. 3. 1Co 3.23; Tt 2.14. 4. 1Pe 1.18, 19; 1Jo 1.7; 2.2. 5. Jo 8.34-36; Hb 2.14, 15; 1Jo 3.8. 6. Jo 6.39, 40; 10.27-30; 2Ts 3.3; 1Pe 1.5. 7. Mt 10.29-31; Lc 21:16-18. 8. Rm 8.28. 9. Rm 8.15, 16; 2Co 1.21, 22; 5.5; Ef 1.13, 14. 10. Rm 8:14 P.2. O que é que você precisa saber para viver e morrer nessa consolação? R. Primeiro, como são grandes meus pecados e miséria;1 segundo, de que modo sou liberto de todos os meus pecados e miséria;2 terceiro, de que modo devo ser grato a Deus por uma tal libertação.3 1. Rm 3.9, 10; 1Jo 1:10. 2. Jo 17.3; At 4.12; 10.43. 3. Mt 5.16; Rm 6.13; Ef 5.8-10; 1Pe 2.9, 10. O Catecismo de Heidelberg Parte I NOSSOS PECADOS E MISÉRIA Dia do Senhor 2 P.3. Como é que você sabe dos seus pecados e miséria? R. Pela lei de Deus.1 1. Rm 3.20; 7.7-25. P.4. O que a lei de Deus exige de nós? R. É isso o que Cristo nos ensina resumidamente em Mateus 22.37-40: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.1 Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas2”. 1. Dt 6.5. 2. Lv 19.18. P.5. Você consegue guardar tudo isso perfeitamente? R. Não.1 Sou, por natureza, inclinado a odiar a Deus e ao meu próximo.2 1. Rm 3.10, 23; 1Jo 1.8, 10. 2. Gn 6.5; 8.21; Jr 17.9; Rm 7.23; 8.7; Ef 2.3; Tt 3.3. Dia do Senhor 3 P.6. Então, Deus criou o homem assim tão mau e perverso? R. Não, pelo contrário, Deus criou o homem bom1 e à Sua imagem,2 isso é, em verdadeira justiça e santidade,3 de modo que ele pudesse conhecer corretamente a Deus, o seu Criador,4 amá-lO de coração, e viver com Ele em eterna felicidade para O louvar e glorificar.5 1. Gn 1.31. 2. Gn 1.26, 27. 3. Ef 4.24. 4. Cl 3.10 5. Sl 8. 52 P.7. De onde veio, então, a natureza corrompida do homem? R. Da queda e desobediência dos nossos primeiros pais, Adão e Eva, no Paraíso.1 Ali a nossa natureza tornou-se corrupta2 de tal modo que somos todos concebidos e nascidos em pecado.3 1. Gn 3. 2. Rm 5.12, 18, 19. 3. Sl 51.5. P.8. Mas, somos tão corruptos que não somos capazes de fazer bem algum e somos inclinados a todo o mal? R. Sim,1 a menos que sejamos gerados novamente pelo Espírito de Deus.2 1. Gn 6.5; 8.21; Jó 14.4; Is 53.6. 2. Jo 3.3-5. Dia do Senhor 4 P.9. Mas, Deus não age injustamente com o homem ao exigir em Sua lei aquilo que o homem não consegue cumprir? R. Não, pois Deus criou o homem de tal forma que ele era capaz de a cumprir.1 Mas o homem, sob a instigação do diabo,2 em desobediência deliberada,3 privou a si mesmo e a todos os seus descendentes destes dons.4 1. Gn 1.31. 2. Gn 3.13; Jo 8.44; 1Tm 2.13, 14. 3. Gn 3.6. 4. rm 5.12, 28, 19. P.10. Permitiria Deus que uma tal desobediência e apostasia ficasse sem castigo? R. Certamente que não, pois tanto o nosso pecado original quanto os nossos pecados presentes O deixam terrivelmente irado. Por isso Ele os castigará com justo juízo agora e eternamente,1 conforme declarou:2 “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticálas” (Gl 3.10). 1. Gn 2.17; Ex 34.7; Sl 5.4-6; 7.11; Na 1.2; Rm 1.18; 5.12; Ef 5.6 Hb 9.27. 2. 27.26. 53 P.11. Mas Deus não é também misericordioso? R. Deus é verdadeiramente misericordioso,1 mas também é justo.2 A Sua justiça requer que o pecado cometido contra a Sua suprema majestade seja castigado também com a pena mais severa, quer dizer, com o eterno castigo do corpo e da alma.3 1. Ex 20.6; 34.6, 7; Sl 103.8, 9. 2. Ex 20.5; 34.7; Dt 7.9-11; Sl 5.4-6; Hb 10.30, 31. 3. Mt 25.45, 46. Parte II NOSSA SALVAÇÃO Dia do Senhor 5 P.12. Se pelo justo julgamento de Deus merecemos tanto o castigo temporal quanto o eterno, como, então, poderemos escapar desta punição para sermos novamente recebidos em graça? R. Deus requer que a Sua justiça seja satisfeita.1 Por isso, nós mesmos devemos satisfazer essa justiça completamente, ou um outro por nós.2 1. Ex 20.5; 23.7; Rm 2:1-11. 2. Is 53.11; Rm 8.3, 4. P.13. Podemos, nós mesmos, satisfazer essa justiça? R. Certamente que não. Pelo contrário, todos os dias aumentamos a nossa dívida.1 1. Sl 130.3; Mt 6.12; Rm 2.4, 5. P.14. Qualquer mera criatura pode satisfazê-la por nós? R. Não. Em primeiro lugar, Deus não vai castigar uma outra criatura pelo pecado que o homem cometeu.1 Além disso, não há criatura que possa suportar o peso da ira eterna de Deus contra o pecado, nem libertar outros dessa ira.2 1. Ez 18.4, 20; Hb 2.14-18. 2. Sl 130.3; Na 1.6. P.15. Que tipo de mediador e libertador temos que buscar? R. Alguém que seja homem verdadeiro1 e justo,2 e mais pode- roso que todas as criaturas; isso é, alguém que seja ao mesmo tempo Deus verdadeiro.3 1. 1Co 15.21; Hb 2.17. 2. Is 53.9; 2Co 5.21; Hb 7.26. 3. Is 7.14; 9.6; Jr 23.6; Jo 1.1; Rm 8.3, 4. Dia do Senhor 6 P.16. Por que tem de ser um homem verdadeiro e justo? R. Tem de ser homem verdadeiro, pois a justiça de Deus exige que a mesma natureza humana que pecou pague pelo pecado.1 Tem de ser homem justo pois alguém que, por natureza, já é pecador, não pode pagar pelos pecados dos outros.2 1. Rm 5.12, 15; 1Co 15.21; Hb 2.14-16. 2. Hb 7.26, 27; 1Pe 3.18. P.17. Por que ele tem de ser, ao mesmo tempo, Deus verdadeiro? R. Ele tem de ser Deus verdadeiro para que, pelo poder da Sua natureza Divina,1 possa suportar em sua natureza humana o peso da ira de Deus2 e, conquistar e restituir para nós a justiça e a vida.3 1.Is 9.6. 2. Dt 4.24; Na 1.6; Sl 130.3. 3. Is 53.5, 11; Jo 3.16; 2Co 5.21. P.18. Mas, que Mediador é esse que é, ao mesmo tempo, Deus verdadeiro e homem verdadeiro e justo? R. O nosso Senhor Jesus Cristo,1 “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1.30). 1. Mt 1.21-23; Lc 2.11; 1Tm 2.5; 3.16. P.19. Como você sabe disso? R. Pelo santo evangelho, revelado pela primeira vez no Paraíso pelo próprio Deus.1 O qual o fez proclamar depois pelos patriarcas2 e profetas,3 e prefigurar, como sombras, pelos sacrifícios e outras cerimônias da lei.4 Fazendo-o, por fim, ser cumprido por meio do Seu único Filho.5 1. Gn 3.15. 2. Gn 12.3; 22.18; 49.10. 3. Is 53; Jr 23.5, 6; Mc 7.18-20; At 10.43; Hb 1.1 4. Lv 1-7; Jo 5.46; Hb 10.1-10. 5. Rm 10.4; Gl 4.4, 5; Cl 2.17. Dia do Senhor 7 P.20. Então, todos os homens foram salvos por Cristo, exatamente como por meio de Adão todos pereceram? R. Não.1Só estão salvos os que, pela verdadeira fé, foram enxertados em Cristo e aceitaram todos os Seus benefícios.2 1. Mt 7 .14; Jo 1.12; 3.16, 18, 36; Rm 11.16-21. P.21. O que é a verdadeira fé? R. A verdadeira fé é a convicção com que aceito como verdade tudo aquilo que Deus nos revelou em Sua Palavra.1 É também a firme certeza2 de que Deus garantiu — não só aos outros como também a mim3 — perdão de pecados, justiça eterna, e salvação4 por pura graça e somente pelos méritos de Cristo.5 O Espírito Santo realiza essa fé em meu coração por meio do evangelho.6 1. Jo 17.3, 17; Hb 11.1-3; Tg 2.19. 2. Rm 4.18-21; 5.1; 10.10; Hb 4.16. 3. Gl 2.20 4. Rm 1.17; Hb 10.10. 5. Rm 3.20-26; Gl 2.16; Ef 2.8-10. 6. At 16.14; Rm1.16; 10.17; 1Co 1.21. P.22. Então, no que o cristão tem de acreditar? R. Em tudo que nos está prometido no evangelho,1 e que nos são ensinados resumidamente pelo artigos da nossa fé cristã universal e indubitável. 1. Mt 28.19; Jo 20.30, 31. P.23. Que artigos são esses? R. 1. Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra. 2. em Jesus Cristo, Seu unigênito Filho, nosso Senhor, 3. o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; 4. padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morte e sepultado; desceu ao inferno; 5. ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; 6. subiu ao céu; está assentado à mão direita de Deus Pai Todo-poderoso, 7. de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. 8. Creio no Espírito Santo; 9. na santa Igreja universal; na comunhão dos santos; 10. na remissão dos pecados; 11. na ressurreição do corpo; 12. na vida eterna. Dia do Senhor 8 P.24. Como se dividem esses artigos? R. Em três partes. — a primeira é sobre Deus o Pai e a nossa criação; — a segunda é sobre Deus o Filho e a nossa redenção;— a terceira é sobre Deus o Espírito Santo e a nossa santificação. P.25. Por que é que você fala em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; visto que só existe um único Deus? 1 R. Porque o próprio Deus se revelou de tal maneira em Sua Palavra2 que essas três Pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. 1. Dt 6.4; Is 44.6; 45.5; 1Co 8.4, 6. 2. Gn 1.2, 3; Is 61.1; 63.8-10; Mt 3.16, 17; 28.18, 19; Lc 4.18; Jo 14.26; 15.26; 2Co 13.14; Gl 4.6; Tt 3.5, 6. Deus Pai e a Nossa Criação Dia do Senhor 9 P.26. Em que você crê quando diz: “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”? R. Creio que o eterno Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, que criou do nada o céu e a terra e tudo o que neles há,1 e também os sustenta e governa por Seu conselho e providência eternos,2 é o meu Deus e o meu Pai, por causa do Seu Filho Cristo.3 Creio nEle tão completamente que não tenho nenhuma dúvida de que Ele me suprirá de tudo que é necessário ao corpo e à alma,4 e que também converterá em bem para mim toda a adversidade que me enviar nessa vida conturbada.5 Ele assim pode fazer porque é Deus Todo-Poderoso,6 mas o quer fazer, porque é Pai Fiel.7 1. Gn 1; 2; Ex 20.11; Jó 38; 39; Sl 33.6; Is 44.24; At 4.24; 14.15. 2. Sl 104.27-30; Mt 6.30; 10.29; Ef 1.11. 3. Jo 1.12, 13; Rm 8.15, 16; Gl 4.4-7; Ef 1.5. 4. Sl 55.22; Mt 6.25, 26; Lc 12.22-31. 5. Rm 8.28. 6. Gn 18.14; Rm 8.31-39. 7. Mt 6.32, 33; 7.9-11. Dia do Senhor 10 P.27. O que você entende por “Providência de Deus”? R. A providência de Deus é o Seu onipotente e onipresente poder,1 por meio do qual, com as Sua mãos, Ele sustenta continuamente o céu e a terra e todas as criaturas,2 governando-os de tal modo que ervas e plantas, chuva e seca, abundância e escassez, comida e bebida, saúde e doença, riqueza e pobreza,3 todas as coisas na verdade, não nos vêm por acaso4 mas procedem da Sua mão paternal.5 1. Jr 23.23, 24; At 17.24-28. 2. Hb 1.3 3. Jr 5.24; At 14.15-17; Jo 9.3; Pv 22.2. 4. Pv 16.33. 5. Mt 10.29. P.28. Que benefício há em sabermos que Deus criou todas as coisas e que continuamente as sustenta pela Sua providência? R. Podemos ser pacientes na adversidade,1 agradecidos na prosperidade2 e podemos, quanto ao futuro, confiar firmemente em nosso Deus e Pai fiel, porque criatura alguma poderá nos separar do Seu amor;3 pois todas elas estão de tal modo em Sua mão que sem a Sua vontade, elas não podem nem mesmo se mover.4 1. Jó 1.21, 22; Sl 39.10; Tg 1.3 2. Dt 8.10; 1Ts 5.18. 3. Sl 55.22; Rm 5.3-5; 8.38, 39. 4. Jó 1.12; 2.6; Pv 21.1; At 17.24-28. Deus Filho e a Nossa Redenção Dia do Senhor 11 P.29. Por que razão é o Filho de Deus chamado de Jesus, que quer dizer, Salvador? R. Porque Ele nos salva de todos os nossos pecados,1 e porque em ninguém mais devemos buscar ou podemos encontrar salvação.2 1. Mt 1.21; Hb 7.25. 1. Is 43.11; Jo 15.4, 5; At 4.11, 12; 1Tm 2.5. P.30. Aqueles que buscam com fervor a sua salvação ou bem-estar nos santos, em si mesmos ou em outra coisa qualquer, também crêem no único Salvador Jesus? R. Não. Embora gloriem-se nEle com palavras, eles na verdade negam a Jesus como o único Salvador.1 Pois das duas coisas, só uma é verdadeira: ou Jesus é um Salvador incompleto, ou aqueles que pela verdadeira fé aceitam esse Salvador têm que achar nEle tudo que é necessário para a sua salvação.2 1. 1Co 1.12, 13; Gl 5.4 2. Cl 1.19, 20; 2.10; 1Jo 1.7. Dia do Senhor 12 P.31. Por que razão é Ele chamado de Cristo, que quer dizer, Ungido? R. Porque Ele foi ordenado por Deus o Pai, e ungido com o Espírito Santo,1 para ser o nosso supremo Profeta e Mestre,2 que nos revelou completamente o propósito secreto e a vontade de Deus quanto à nossa redenção;3 nosso único Sumo Sacerdote4 o qual por um único sacrifício do Seu corpo nos remiu,5 e intercede continuamente por nós diante do Pai;6 e nosso Rei eterno,7 que nos governa pela Sua Palavra e por Seu Espírito, e que nos defende e preserva na redenção que para nós conquistou.8 1. Sl 45.7 (Hb 1.9); Is 61.1 (Lc 4.18); Lc 3.21, 22. 2. Dt 18.15 (At 3.22) 3. Jo 1.18; 15.15. 4. Sl 110.4 (Hb 7.17). 5. Hb 9.12; 10.11-14. 6. Rm 8.34; Hb 9.24; 1Jo 2.1. 7. Zc 9.9 (Mt 21.5); Lc 1.33. 8. Mt 28.18-20; Jo 10.28. Ap 12.10, 11. P.32. Por que é que você é chamado de cristão? R. Porque, pela fé, sou membro de Cristo e por isso partilho da Sua unção,2 para poder como profeta confessar o Seu nome;3 como sacerdote apresentar a mim mesmo como sacrifício vivo de gratidão a Ele;4 como rei, de livre e boa consciência, combater o pecado e o diabo nessa vida5 e no porvir reinar eternamente com Ele sobre todas as criaturas.6 1. 1Co 12.12-27. 2. Jl 2.28 (At 2.17); 1Jo 2.27. 3. Mt 10.32; Rm 10.9, 10; Hb 13.15. 4. Rm 12.1; 1Pe 2.5, 9. 5. Gl 5.16, 17; Ef 6.11; 1Tm 1.18, 19. 6. Mt 25.34; 2Tm 2.12. Dia do Senhor 13 P.33. Por que é Ele chamado de “Filho unigênito” de Deus, se nós também somos filhos de Deus? R. Porque somente Cristo é o eterno e natural Filho de Deus.1 Nós, contudo, somos filhos de Deus por adoção, pela graça, por causa de Cristo.2 1. Jo 1.1-3, 14, 18; 3.16; Rm 8.32; Hb 1; 1Jo 4.9. 2. Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl 4.6; Ef 1.5, 6. P.34. Por você O chama de “nosso Senhor”? R. Porque Ele nos comprou e nos resgatou, o corpo e a alma,1 de todos os nossos pecados — não com ouro nem prata, mas com o Seu precioso sangue2 — e nos libertou de todo o domínio do diabo para nos tornar Sua possessão.3 1. 1Co 6.20; 1Tm 2.5, 6. 2. 1Pe 1.18, 19. 3. Cl 1.13, 14; Hb 2.14, 15. Dia do Senhor 14 P.35. Que confessa você quando diz que Cristo: “foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria”? R. O eterno Filho de Deus, o qual é e permanece Deus verdadeiro e eterno,1 tomou sobre Si a verdadeira natureza humana da carne e do sangue da virgem Maria,2 pela operação do Espírito Santo.3 Por isso, Ele é também a verdadeira semente de Davi,4 semelhante a Seus irmãos em tudo,5 porém, sem pecado.6 1. Jo 1.1; 10.30-36; Rm 1.3; 9.5; Cl 1.15-17; 1Jo 5.20. 2. Mt 1.18-23; Jo 1.14; Gl 4.4; Hb 2.14. 3. Lc 1.35 4. 2 Sm 7.12-16; Sl 132.11; Mt 1.1; Lc 1.32; Rm 1.3. 5. Fl 2.7; Hb 2.17. 6. Hb 4.15; 7.26, 27. P.36. Que benefício você recebe de Cristo ter sido concebido e nascido sem pecado? R. Ele é o nosso Mediador,1 e com a Sua inocência e perfeita santidade cobre aos olhos de Deus o meu pecado, no qual fui concebido e nascido.2 1. 1Tm 2.5, 6; Hb 9.13-15. 2. Rm 8.3, 4; 2Co 5.21; Gl 4.4, 5; 1Pe 1.18, 19. Dia do Senhor 15 P.37. O que você confessa quando diz que Ele “padeceu”? R. Durante todo o tempo em que viveu sobre a terra, e especialmente no final, Cristo suportou no corpo e na alma a ira de Deus contra o pecado de toda a raça humana.1 Assim, por Seu sofrimento, como o único sacrifício de expiação,2 Ele redimiu o nosso corpo e a nossa alma da condenação eterna3 e conquistou para nós a graça de Deus, a justiça e a vida eterna.4 1. Is 53; 1Tm 2.6; 1Pe 2.24; 3.18. 2. Rm 3.25; 1Co 5.7; Ef 5.2; Hb 10.14; 1Jo 2.2; 4.10. 3. Rm 8.1-4; Gl 3.13; Cl 1.13; Hb 9.12; 1Pe 1.18, 19. 4. Jo 3.16; Rm 3.24-26; 2Co 5.21; Hb 9.15. P.38. Por que Ele “padeceu sob” o julgamento de “Pôncio Pilatos?” R. Embora inocente, Cristo foi condenado por um juiz terreno,1 e assim Ele nos livrou do severo juízo de Deus que haveria de cair sobre nós.2 1. Lc 23.13-24; Jo 19.4, 12-16. 2. Is 53.4, 5; 2Co 5.21; Gl 3.13. P.39. Há algum sentido especial em Cristo ter sido crucificado e não ter morrido de outro modo? R. Sim. Por causa disso tenho a certeza de que Ele levou sobre Si a maldição que estava sobre mim, pois quem era crucificado era maldito de Deus.1 1. Dt 21.23; Gl 3.13. 62 Dia do Senhor 16 P.40. Por que foi necessário que Cristo se humilhasse até à morte? R. Por causa da justiça e da verdade de Deus1 a satisfação pelos nossos pecados não poderia ocorrer de outra forma senão pela morte do Filho de Deus.2 1. Gn 2.17. 2. Rm 8.3; Fl 2.8; Hb 2.9, 14, 15. P.41. Por que foi Ele “sepultado”? R. O Seu sepultamento testifica que Ele realmente morreu.1 1. Is 53.9; Jo 19.38-42; At 13.29; 1Co 15.3, 4. P.42. Se Cristo morreu por nós, por que ainda temos que morrer? R. A nossa morte não é o pagamento pelos nossos pecados,1 mas ela põe fim aos nossos pecados e é a entrada para a vida eterna.2 1. Mc 8.37; 2. Jo 5.24; Rm 7.24, 25; Fp 1.23. P.43. Que outros benefícios recebemos do sacrifício e morte de Cristo na cruz? R. Pela morte de Cristo a nossa velha natureza é crucificada, morta e sepultada com Ele,1 para que os desejos malignos da carne não reinem mais sobre nós2 e possamos nos ofertar a Ele como sacrifício de gratidão.3 1. Rm 6.5-11; Cl 2.11-12. 2. Rm 6.12-14. 3. Rm 12.1; Ef 5.1, 2. P.44. Por que razão se acrescenta: “desceu ao inferno”? R. A angústia, a dor, o terror e a agonia indizíveis que Cristo suportou em todos os Seus sofrimentos1 — especialmente na cruz — dão-me a certeza e a consolação de que, por maiores que sejam as minhas tristezas e tentações, Ele me livrou da angústia e do tormento do inferno.2 1. Sl 18.5, 6; 116.3; Mt 26.36-46; 27.45, 46; Hb 5.7-10. 2. Is 53. Dia do Senhor 17 P.45. Como somos favorecidos com a ressurreição de Cristo? R. Primeiro: pela ressurreição Ele venceu a morte, para nos tornar participantes da justiça que Ele conquistou para nós pela Sua morte.1 Segundo: pelo Seu poder nós também somos ressuscitados para uma vida nova.2 Terceiro: a ressurreição de Cristo é, para nós, a garantia da nossa ressurreição gloriosa.3 1. Rm 4.25; 1Co 15.16-20; 1Pe 1.3-5. 2. Rm 6.5-11; Ef 2.4-6; Cl 3.1-4. 3. Rm 8.11; 1Co 15.12-23; Fl 3.20, 21. Dia do Senhor 18 P.46. O que você confessa quando diz que Cristo “subiu ao céu”? R. Que Cristo, à vista dos Seus discípulos, foi levado da terra ao céu,1 e que lá está para o nosso benefício2 até que venha novamente para julgar os vivos e os mortos.3 1. Mc 16.19; Lc 24.50, 51; At 1.9-11. 2. Rm 8.34; Hb 4.14; 7.23-25; 9.24. 3. Mt 24.30; At 1.11. P.47. Quer dizer, então, que Cristo não está conosco até a consumação dos séculos, conforme Ele nos havia prometido? 1 R. Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Segundo Sua natureza humana, Ele não está mais na terra,2 mas segundo a Sua natureza divindade, majestade, graça e Espírito, Ele jamais se ausentou de nós.3 1 Mt 28.20. 2. Mt 26.11; Jo 16.28; 17.11; At 3.19-21; Hb 8.4. 3. Mt 28.18-20; Jo 14.16-19; 16.13. P.48. Mas, se a natureza humana não estiver presente onde quer que a natureza Divina esteja, não estariam as duas naturezas de Cristo separadas uma da outra? R. De maneira nenhuma, pois a Sua Divindade é ilimitada e está presente em toda parte.1 Por isso, conclui-se que apesar da Sua natureza Divina ultrapassar a natureza humana que Ele assumiu, ela está dentro dessa natureza humana e a ela permanece unida como pessoa.2 1. Jr 23.23, 24; At 7.48, 49. 2. Jo 1.14; 3.13; Cl 2.9. P.49. De que modo somos abençoados com a ascensão de Cristo ao céu? R. Primeiro: Ele é o nosso Advogado no céu diante do Pai.1 Segundo: temos a nossa carne no céu como a garantia segura de que Ele, o nosso Cabeça, também nos levará para Si, como membros Seus.2 Terceiro: Ele nos enviou o Seu Espírito como garantia,3 pelo poder do qual buscamos as coisas do alto — onde Cristo está assentado à direita de Deus — e não as que são da terra.4 1. Rm 8.34; 1Jo 2.1. 2. Jo 14.2; 17.24; Ef 2.4-6. 3. Jo 14.16; At 2.33; 2Co 1.21, 22; 5.5; Ef 1.13,14 4. Cl 3.1-4. Dia do Senhor 19 P.50. Por que se acrescentou “está assentado à mão direita de Deus”? R. Cristo ascendeu ao céu para manifestar-se lá como o Cabeça da Sua igreja,1 por meio de quem o Pai governa todas as coisas.2 1. Ef 1.20-23; Cl 1.18. 2. Mt 28.18; Jo 5.22, 23. P.51. Que benefício tem para nós esta glória de Cristo, o nosso Cabeça? R. Primeiro: pelo Seu Espírito Santo Ele derrama sobre nós, Seus membros, os dons celestiais.1 Segundo: pelo Seu poder Ele nos defende e preserva de to- dos os inimigos.2 1. At 2.33; Ef 4.7-12. 2. Sl 2.9; 110.1, 2; Jo 10.27-30; Ap 19.11-16. P.52. Que consolo lhe dá o fato de que Cristo “há de vir para julgar os vivos e os mortos”? R. Que em todas as minhas aflições e perseguições eu de cabeça erguida e cheio de ânimo espero vir do céu, como juiz, Aquele mesmo que antes se submeteu ao juízo de Deus por minha causa, e removeu de sobre mim toda a maldição.1 Ela lançará todos os Seus e meus inimigos na condenação eterna, mas levará para Si mesmo, para o gozo e glória celestiais, a mim e a todos os Seus escolhidos.2 1. Lc 21.28; Rm 8.22-25; Fl 3.20, 21; Tt 2.13, 14. 2. Mt 25.31-46; 1Ts 4.16, 17; 2Ts 1.6-10. Deus Espírito Santo e a Nossa Santificação Dia do Senhor 20 P.53. O que você crê sobre o Espírito Santo? R. Primeiro: Creio que Ele é verdadeiro e eterno Deus, juntamente com o Pai e o Filho.1 Segundo: Creio que Ele foi dado também a mim2 para — pela verdadeira fé — me tornar participante de Cristo e de todos os Seus benefícios,3 para me consolar4 e para permanecer comigo para sempre.5 1. Gn 1.1, 2; Mt 28.19; At 5.3, 4; 1Co 3.16. 2. 1Co 6.19; 2Co 1.21, 22; Gl 4.6; Ef 1.13. 3. Gl 3.14; 1Pe 1.2. 4. Jo 15.26; At 9.31. 5. Jo 14.16, 17; 1Pe 4.14. Dia do Senhor 21 P.54. O que você crê sobre a “santa Igreja universal ” de Cristo? R. Creio que o Filho de Deus,1 desde o começo até o fim do mundo,2 reúne para Si mesmo,3 de entre todo o gênero humano,4 uma igreja eleita para a vida eterna5 a qual protege e preserva na unidade da verdadeira fé6 pelo Seu Espírito e pela Sua Palavra.7 E creio que eu sou8 e serei para sempre um membro vivo dela.9 1. Jo 10.11; At 20.28; Ef 4.11-13; Cl 1.18. 2. Is 59.21; 1Co 11.26. 3. Sl 129.1-5; Mt 16.18; Jo 10.28-30. 4.Gn 26.4; Ap 5.9. 5.Rm 8.29; Ef 1.3-14. 6. At 2.42-47; Ef 4.1-6. 7. Rm 1.16; 10.14-17; Ef 5.26. 8. 1Jo 3.14, 19-21. 9. Sl 23.6; Jo 10.27, 28; 1Co 1.4-9; 1Pe 1.3-5. P.55. O que você crê sobre a “comunhão dos santos”? R. Primeiro: creio que todos os crentes, juntos e cada um em particular, como membros de Cristo, têm comunhão com Ele e participam de todos os Seus tesouros e dons.1 Segundo: creio que cada um têm o dever de usar os seus dons com disposição e alegria para o benefício e o bem-estar dos outros membros.2 1. Rm 8.32; 1Co 6.17; 12.4-7, 12, 13; 1Jo 1.3 2. Rm 12.4-8; 1Co 12.20-27; 13.1-7; Fl 2.4-8. P.56. O que você crê sobre a “remissão dos pecados”? R. Creio que Deus, por causa da satisfação que Cristo realizou, não se lembrará mais dos meus pecados1 nem da minha natu- reza pecaminosa, contra a qual devo lutar durante toda a mi- nha vida,2 mas me concederá graciosamente a justiça de Cristo, para que eu jamais entre em condenação.3 1. Sl 103.3, 4, 10, 12; Mq 7.18, 19; 2Co 5.18-21; 1Jo 1.7; 2.2. 2. Rm 7.21-25. 3. Jo 3.17, 18; 5.24; Rm 8.1, 2. Dia do Senhor 22 P.57. Que consolação lhe traz a “ressurreição do corpo”? R. Que depois dessa vida, não apenas a minha alma será levada imediatamente para Cristo, meu Cabeça,1 mas que também essa minha carne, ressuscitada pelo poder de Cristo, será reunida à minha alma e feita à semelhança do corpo glorioso de Cristo.2 1. Lc 16.22; 23.43; Fl 1.21-23. 2. Jó 19.25, 26; 1Co 15.20, 42-46, 54; Fl 3.21; 1Jo 3.2. P.58. Que consolação lhe traz o artigo sobre a “vida eterna”? R. Já agora sinto em meu coração o princípio do gozo eterno,1 pois depois dessa vida obterei a perfeita bem-aventurança que o olho jamais viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração huma- no pode conceber. Uma bem-aventurança para se louvar a Deus eternamente.2 1. Jo 17.3; Rm 14.17; 2Co 5.2, 3. 2. Jo17.24; 1Co 2.9. A Nossa Justificação Dia do Senhor 23 P.59. Que proveito há para você que agora crê nisso? R. O proveito é que em Cristo sou justo diante de Deus e herdeiro da vida eterna.1 1. Hc 2.4; Jo 3.36; Rm 1.17; 5.1, 2. P.60. Como é que você é justo diante de Deus? R. Somente pela verdadeira fé em Jesus Cristo.1 Embora a minha consciência me acuse de haver pecado gravamente contra os mandamentos de Deus, sem jamais haver obedecido a todos eles,2 e de ainda ser inclinado a todo o mal,3 Deus, no entanto, sem que houvesse em mim nenhum mérito próprio,4 somente pela Sua graça,5 imputa-me a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo.6 Se tão-somente aceitar esse dom crendo fielmente com o coração,7 Ele me concede isso como se eu jamais tivesse tido ou cometido nenhum pecado, e como se eu mesmo tivesse cumpri- do toda a obediência que Cristo cumpriu por mim.8 1. Rm 3.21-28; Gl 2.16; Ef 2.8, 9; Fl 3.8-11. 2. 3.9, 10. 3. Rm 7.23. 4. Dt 9.6; Ez 36.22; Tt 3.4, 5. 5. Rm 3.24; Ef 2.8. 6. Rm 4.3-5; 2Co 5.17-19; 1Jo 2.1, 2. 7. Jo 3.18; At 16.30, 31; Rm 3.22. 8. Rm 4.24, 25; 2Co 5.21. P.61. Por quê você diz que é justo somente pela fé? R. Eu o digo não porque sou agradável a Deus graças ao valor da minha fé, pois somente a satisfação, a justiça e santidade de Cristo é a minha justiça diante de Deus.1 É somente pela fé que posso receber e fazer dessa justiça a minha própria justiça.2 1. 1Co 1.30, 31; 2.2. 2. Rm10.10; 1Jo 5.10-12. Dia do Senhor 24 P.62. Mas, por que as nossas boas obras não podem ser a nossa justiça diante de Deus, ou pelo menos parte dessa justiça? R. Porque a justiça que pode subsistir diante do juizo de Deus deve ser absolutamente perfeita e totalmente de acordo com a Sua lei,1 enquanto até mesmo as nossas melhores obras nesta vida são todas imperfeitas e contaminadas com o pecado.2 1. Dt 27.26; Gl 3.10. 2. Is 64.6. P.63. Se as nossas boas obras não merecem nada, por que Deus promete recompensá-las nesta vida e na futura?1 R. Essa recompensa não é por mérito, mas é um dom de graça.2 1. Mt 5.12; Hb 11.6. 2. Lc 17.10; 2 Tm 4.7, 8. P.64. Esse ensinamento não torna as pessoas descuidadas e ímpias? R. Não. É impossível que os que são enxertados em Cristo pela verdadeira fé não produzam fruto de gratidão.1 1. Mt 7.18; Lc 6.43-45; Jo 15.5. A Palavra e os Sacramentos Dia do Senhor 25 P.65. Visto que somente a fé é o que nos torna participantes de Cristo e de todos os Seus benefícios, de onde vem essa fé? R. Vem do Espírito Santo,1 que a opera em nossos corações pela pregação do evangelho,2 e a fortalece pelo uso dos sacramentos.3 1. Jo 3.5; 1Co 2.10-14; Ef 2.8; Fl 1.29. 2. Rm 10.17; 1Pe 1.23-25. 3. Mt 28.19, 20; 1Co 10.16. P.66. O que são sacramentos? R. Os sacramentos são sinais e selos santos e visíveis. Foram instituídos por Deus para que pelo uso deles Ele pudesse, o mais claramente possível, nos declarar e selar a promessa do evangelho.1 E esta é a promessa: que Deus nos concede graciosamente perdão de pecados e vida eterna por causa dos sacrifícios de Cristo ofertado na cruz.2 1. Gn 17.11; Dt 30.6; Rm 4.11. 2. Mt 26.27, 28; At 2.38; Hb 10.10. P.67. Então, tanto a Palavra quanto os sacramentos têm por objetivo direcionar a nossa fé para o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, como a única base para a nossa salvação? R. Sim, de fato. O Espírito Santo nos ensina no Evangelho e nos garante pelos sacramentos que toda a nossa salvação baseia-se no sacrifício único de Cristo por nós na cruz.1 1. Rm 6.3; 1Co 11.26; Gl 3.27. 70 P.68. Quantos sacramentos Cristo instituiu na nova aliança? R. Dois: O santo batismo e a santa ceia.1 1. Mt 28.19, 20; 1Co 11.23-26. O Santo Batismo Dia do Senhor 26 P.69. Como o santo batismo lhe faz saber e lhe assegura que o único sacrifício de Cristo na cruz lhe beneficia? R. Do seguinte modo: Cristo instituiu esse lavar exterior1 e deu com ele a promessa de que, tão certo quanto a água remove a sujeira do corpo, assim também o Seu sangue e Espírito removem a impureza da minha alma, isto é, todos os meus pecados.2 1. Mt 28.19. 2. Mt 3.11; Mc 16.16; Jo 1.33; At 2.38; Rm 6.3, 4; 1Pe 3.21. P.70. Que significa ser lavado com o sangue e o Espírito de Cristo? R. Ser lavado com o sangue de Cristo significa receber de Deus o perdão de pecados, por meio da graça, por causa do sangue de Cristo derramado por nós em Seu sacrifício na cruz.1 Ser lavado com o Seu Espírito significa ser renovado pelo Espírito Santo e santificado para sermos membros de Cristo, para que morramos mais e mais para o pecado e vivamos uma vida santa e irrepreensível.2 1. Ez 36.25; Zc 13.1; Ef 1.7; Hb 12.24; 1Pe 1.2; Ap 1.5; 7.14. 2. Jo 3.5-8; Rm 6.4; 1Co 6.11; Cl 2.11, 12. P.71. Onde Cristo prometeu que nos lavaria com o Seu sangue e Espírito tão certo quanto somos lavados com a água do batismo? R. Na instituição do batismo, onde Ele afirma: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando- os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).“Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.16). Essa promessa se repete onde a Escritura chama o batismo de lavar regenerador e de purificação dos pecados (Tt 3.5; At 22.16). Dia do Senhor 27 P.72. Então, esse lavar exterior com água por si mesmo remove os pecados? R. Não, somente o sangue de Jesus Cristo e o Espírito Santo nos purificam de todo o pecado.1 1. Mt 3.11; 1Pe 3.21; 1 Jo 1.7. P.73. Então, por que o Espírito Santo chama o batismo de “lavar regenerador” e de “purificação de pecados”? R. Deus fala assim por uma razão importante. Ele nos quer ensinar que o sangue e o Espírito de Cristo removem os nossos pecados assim como a água remove a sujeira do corpo.1 Porém, ainda mais importante, Ele nos quer assegurar por meio dessa garantia e sinal divinos que somos tão verdadeiramente purificados espiritualmente dos nossos pecados, assim como somos fisicamente lavados com a água.2 1. 1Co 6.11; Ap 1.5; 7-14. 2. Mt 16.16; At 2.38; Rm 6.3, 4; Gl 3.27. P.74. As crianças pequenas devem ser batizadas? R. Sim. As crianças, assim como os adultos, pertencem à aliança e à igreja de Deus.1 Através do sangue de Cristo lhes são prometidos, da mesma forma que aos adultos, a redenção do pecado e o Espírito Santo, que opera a fé.2 Assim as crianças, por meio do batismo como sinal da aliança, devem ser enxertadas na igreja de Cristo e distinguidas dos filhos dos incrédulos.3 Na velha aliança isso era feito pela circuncisão,4 que, na nova aliança, foi substituída pela instituição do batismo.5 1. Gn 17.7; Mt 19.14. 2. Sl 22.10; Is 44.1-3; At 2.38, 39; 16.31. 3. At 10.47; 1Co 7.14. 4. Gn 17.9-14. 5. Cl 2.11-13. A Santa Ceia Dia do Senhor 28 P.75. Como a santa ceia lhe faz saber e lhe assegura que você tem parte no único sacrifício de Cristo na cruz e de todos os Seus dons? R. Do seguinte modo: Cristo ordenou a mim e a todos os crentes que em Sua memória comêssemos desse pão partido e bebêssemos desse cálice. Juntamente com esse mandamento Ele deu essas promessas:1 Primeira: tão certo como vejo com os meus olhos o pão do Senhor partido por mim e o Seu cálice dado a mim, assim também foi o Seu corpo ofertado por mim e o Seu sangue derramado por mim na cruz. Segunda: tão certamente quanto recebo das mãos do ministro e provo com a minha boca o pão e o cálice do Senhor como si- nais seguros do corpo e do sangue de Cristo, assim também Ele mesmo, com o Seu corpo crucificado e o Seu sangue derramado, alimenta e nutre a minha alma para a vida eterna. 1. Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19, 20; 1Co 11.23-25. P.76. O que significa comer o corpo crucificado de Cristo e beber o Seu sangue derramado? R. Primeiro: aceitar de todo coração todo o sofrimento e morte de Cristo, e assim receber o perdão dos pecados e a vida eterna.1 Segundo: ser unido cada vez mais ao santo corpo de Cristo pelo Espírito Santo que vive tanto nEle quanto em nós.2 Portanto, embora Cristo esteja no céu3 e nós estejamos na terra, somos carne da Sua carne e osso dos Seus ossos4 e vivemos eternamente e somos governados por um único Espírito, assim como os membros do nosso corpo o são por uma única alma.5 1. Jo 6.35, 40, 40-54. 2. Jo 6.55, 56; 1Co 12.13. 3. At 1.9-11; 3.21; 1Co 11.26; Cl 3.1. 4. 1Co 6.15, 17; Ef 5.29, 30; 1Jo 4.13. 5. Jo 6.56-58; 15.1-6; Ef 4.15, 16; 1Jo 3.24. P.77. Onde foi que Cristo prometeu que Ele quer alimentar e refrigerar os crentes com o Seu corpo e sangue tão certamente quanto eles comem desse pão partido e bebem desse cálice? R. Na instituição da Ceia do Senhor: “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Co 11.23-26). Paulo repete essa promessa onde diz: “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão” (1Co 10.16, 17). Dia do Senhor 29 P.78. Então, o pão e o vinho são transformados no corpo e no sangue reais de Cristo? R. Não. Do mesmo modo que a água do batismo não se transforma no sangue de Cristo nem é a própria purificação dos pecados, mas é simplesmente um sinal e uma garantia disso da parte de Deus,1 assim também o pão na Ceia do Senhor não se torna no próprio corpo de Cristo,2 embora seja chamado de corpo de Cristo3 conforme a natureza e o uso dos sacramentos.4 1. Ef 5.26; Tt 3.5. 2. Mt 26.26-29. 3. 1Co 10.16, 17; 11.26-28. 4. Gn 17.10, 11; Ex 12.11, 13; 1Co 10.3, 4; 1Pe 3.21. P.79. Por que, então, Cristo chama o pão de “Seu corpo” e o cálice de “Seu sangue”, ou de a “nova aliança no Seu sangue”, e por que Paulo fala da comunhão do corpo e do sangue de Cristo? R. Cristo fala dessa maneira por um motivo importante: Ele quer nos ensinar pela Sua ceia que do mesmo modo como o pão e o vinho nos sustentam a vida temporal, assim também o Seu corpo crucificado e o Seu sangue derramado são o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida das nossas almas para a vida eterna.1 E, ainda mais, Ele nos quer assegurar por esse sinal e garantia visíveis, primeiramente, que pela operação do Espírito Santo nós participamos do Seu verdadeiro corpo e sangue tão certo quanto recebemos com a nossa boca esses santos sinais em memória dEle;2 e em segundo lugar, que todo o Seu sofrimento e obediência são tão certamente nos- sos como se nós mesmos tivéssemos sofrido e pago pelos nossos pecados.3 1. Jo 6.51, 55. 2. 1Co 10.16, 17; 11.26. 3. Rm 6.5-11. Dia do Senhor 30 P.80. Qual é a diferença entre a Ceia do Senhor e a missa do papa? R. A Ceia do Senhor nos testifica, primeiramente, que temos o perdão completo de todos os nossos pecados pelo único sacrifício de Jesus Cristo, que Ele mesmo realizou na cruz de uma vez por todas;1 em segundo lugar,que pelo Espírito Santo somos enxertados em Cristo,2 o qual está agora no céu em Seu corpo verdadeiro à mão direita do Pai,3 e é onde Ele quer ser adorado.4 A missa, no entanto, ensina primeiro que nem os vivos nem os mortos têm o perdão de pecados por meio do sofrimento de Cristo se Ele não for ainda sacrificado diariamente em favor deles pelos sacerdotes; e em segundo lugar, que Cristo está presente corporalmente na forma do pão e do vinho, e neles deve ser adorado. A missa, portanto, é basicamente nada mais que a negação do único sacrifício e sofrimento de Jesus Cristo, e é uma idolatria maldita. 1. Mt 26.28; Jo 10.30; Hb 7.27; 9.12, 25, 26; 10..10-18. 2. 1Co 6.17; 10.16, 17. 3. Jo 20.17; At 7.55, 56; Hb 1.3; 8.1. 4. Jo 4.21-24; Fp 3.20; Cl 3.1; 1Ts 1.10. P.81. Quem deve vir à mesa do Senhor? R. Aqueles que, em verdade, estão descontentes consigo mesmos por causa dos seus pecados e que, mesmo assim, confiam que eles lhes foram perdoados e que o mal que ainda resta neles está coberto pelo sofrimento e morte de Cristo, e que também desejam fortalecer a sua fé e corrigir as suas vidas, cada vez mais. Mas os hipócritas e os que não se arrependem comem e bebem juízo para si mesmos.1 1. 1Co 10.19-22; 11.26-32. P.82. Esses que por sua confissão e vida demonstram que são incrédulos e ímpios devem ser admitidos à ceia do Senhor? R. Não, porque a aliança de Deus seria profanada e a Sua ira se acenderia contra toda a congregação.1 Por isso, segundo o mandamento de Cristo a Seus apóstolos, a igreja de Cristo tem o dever de excluir tais pessoas pelas chaves do reino do céu, até que corrijam as suas vidas. 1. Sl 50.16; Is 1.11-17; 1Co 11.17-34. 76 Dia do Senhor 31 P.83. O que são as chaves do reino do céu? R. A pregação do santo evangelho e a disciplina eclesiástica. É por esses dois meios que o reino do céu se abre para os que crêem, e se fecha para os incrédulos.1 1. Mt 16.19; Jo 20. 21-23. P.84. Como se abre e se fecha o reino do céu pela pregação do evangelho? R. De acordo com o mandamento de Cristo, o reino do céu se abre quando se proclama e se testifica de público a todo o crente — individual ou coletivamente — que Deus perdoou de fato a todos os seus pecados por causa dos méritos de Cristo, sempre que aceitam a promessa do evangelho com fé verdadeira. O reino do céu se fecha quando se proclama e se testifica a todo os incrédulos e hipócritas que, enquanto não se arrependerem, a ira de Deus e a condenação eterna repousam sobre eles. Segundo esse testemunho do evangelho, Deus os julgará tanto nessa quanto na vida porvir.1 1. Mt 16.19; Jo 3.31-36; 20.21-23. P.85. Como se fecha e se abre o reino do céu pela disciplina eclesiástica? R. De acordo com o mandamento de Cristo, aqueles que se chamam de cristãos mas que se mostram não-cristãos na doutrina ou na vida devem ser, em primeiro lugar e de modo fraternal, admoestado mais de uma vez. Se não abandonarem a seus erros nem à sua impiedade, de- vem ser denunciados à igreja, isto é aos presbíteros. Se também não derem ouvidos às admoestações deles, serão proibidos de participar dos sacramentos e excluídos da congregação cristã pelos presbíteros e do reino de Cristo pelo próprio Deus.1 Serão novamente recebidos como membros de Cristo e da igreja quando prometerem e demonstrarem arrependimento real.2 1. Mt 18.15-20; 1Co 5.3-5; 11-13; 2Ts 3.14, 15. 2. Lc 15.20-24; 2Co 2.6-11. Parte III A NOSSA GRATIDÃO Dia do Senhor 32 P.86. Se fomos libertados da nossa miséria somente pela graça através de Cristo, sem nenhum mérito nosso, por que então devemos praticar boas obras? R. Por que Cristo, tendo nos remido pelo Seu sangue, também nos renova por Seu Espírito Santo à Sua imagem para que, com toda a nossa vida, mostremo-nos gratos a Deus por Seus benefícios1 e para que Ele seja louvado por nós.2 Além disso, para que tenhamos a certeza da nossa fé por causa dos seus frutos,3 e que pelo novo viver piedoso possamos ganhar os nossos próximos para Cristo.4 1. Rm 6.13; 12.1, 2; 1Pe 2.5-10. 2. Mt 5.16; 1Co 6.19, 20. 3. Mt 7.17, 18; Gl 5.22-24; 2Pe 1.10, 11. 4. Mt 5.14-16; Rm 14.17-19; 1Pe 2.12; 3.1, 2. P.87. Podem ser salvos aqueles que não abandonam o modo de viver ingrato e impenitente e não se convertem a Deus? R. Não, de modo nenhum. A Escritura diz que nenhum impuro, idólatra, adúltero, ladrão, avarento, bêbado, maldizente, assaltante ou semelhante herdará o reino do céu.1 1. 1Co 6.9, 10; Gl 5.19-21; Ef 5.5, 6; Jo 3.14. Dia do Senhor 33 P.88. O que é o verdadeiro arrependimento ou conversão do homem? R. É a morte da velha natureza e a ressurreição da nova natureza.1 1. Rm 6.1-11; 1Co 5.7; 2Co 5.17; Ef 4.22-24; Cl 3.5-10. 78 P.89. O que é a morte da velha natureza? R. É a profunda e sincera tristeza por termos ofendido a Deus com os nossos pecados, e o abominar e fugir desses pecados cada vez mais.1 1. Sl 51.3, 4, 17; Jl 2.12, 13; Rm 8.12, 13; 2Co 7.10. P.90. O que é a ressurreição da nova natureza? R. É a alegria sincera em Deus por Cristo,1 e o amor e o deleite de viver segundo a vontade de Deus em todas as boas obras.2 1. Sl 51.8, 12; Is 57.15; Rm 5.1; 14.17. 2. Rm 6.10, 11; Gl 2.20. P.91. Mas, o que são as boas obras? R. Somente as que são feitas pela verdadeira fé,1 em conformidade com a lei de Deus2 e para a Sua glória,3 e não aquelas que se baseiam na nossa própria opinião ou em preceitos de homens.4 1. Jo 15.5; Rm 14.23; Hb 11.6. 2. Lv 18.4; 1Sm 15.22; Ef 11.6. 3. 1Co 10.31. 4. Dt 12.32; Is 29.13; Ez 10.18, 19; Mt 15.7-9. Os Dez Mandamentos Dia do Senhor 34 P.92. O que diz a lei de Deus? R. “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 1. Não terás outros deuses diante de mim. 2. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. 3. Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, por- que o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 4. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou. 5. Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá. 6. Não matarás. 7. Não adulterarás. 8. Não furtarás. 9. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. 10. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”.1 1. Ex 20.1-17; Dt 5.6-21. P.93. Como estão divididos estes mandamentos? R. Em duas partes. A primeira nos ensina como viver com relação a Deus; a segunda, que deveres temos para com o nosso próximo.1 1. Mt 22.37-40. P.94. Que exige o SENHOR no primeiro mandamento? R. Que, por amor a minha salvação, devo evitar e fugir de toda idolatria,1 feitiçaria, superstição2 e invocação a santos ou a outras criaturas.3 E que devo reconhecer corretamente ao único e verdadeiro Deus,4 confiar somente nEle,5 submeter-me a Ele em toda humil- dade6 e paciência,7 só dEle esperar todo o bem,8 e que devo O amar,9 temer10 e honrar11 com todo o meu coração. Em resumo: é preferível repudiar a todas as criaturas a fazer qualquer coisa, mínima que seja, contra a Sua vontade.12 1. 1Co 6.9, 10; 10.5-14; 1Jo 5.21. 2. Lv 19.31; Dt 18.9-12. 3. Mt 4.10; Ap 19.10; 22.8, 9. 4. Jo 17.3. 5. Jr 17.5, 7. 6. 1Pe 5.5, 6. 7. Rm 5.3, 4; 1Co 10.10; Fp 2.14; Cl 1.11; Hb 10.36. 8. Sl 104.27, 28; Is 45.7; Tg 1.17. 9. Dt 6.5; (Mt 22.37). 10. Dt 6.2; Sl 111.10; Pv 1.7; 9.10; Mt 10.28; 1Pe 1.17. 11. Dt 6.13; (Mt 4.10); Dt 10.20. 12. Mt 5.29, 30; 10.37-39; At 5.29. P.95. O que é idolatria? R. Idolatria é ter ou inventar algo em que colocar a nossa confiança em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus que se revelou em Sua Palavra.1 1. 1Cr 16.26; Gl 4.8, 9; Ef 5.5; Fp 3.19. Dia do Senhor 35 P.96. Que exige Deus no segundo mandamento? R. Que não façamos a imagem de Deus em hipótese alguma,1 nem O adoremos de nenhum outro modo diferente do que nos ordenou em Sua Palavra.2 1. Dt 4.15-19; Is 40.18-25; At 17.29; Rm 1.23. 2. Lv 10.1-7; Dt 12.30; 1Sm 15.22, 23; Mt 15.9; Jo 4.23, 24. P.97. Então, não podemos fazer nenhum tipo de imagem? R. Deus não pode nem deve ser visivelmente representado de nenhuma maneira. As criaturas podem ser representadas, mas Deus nos proíbe fazer ou ter imagens delas para adorá-las ou para servir a Deus por meio delas.1 1. Ex 34.13, 14, 17; Nm 33.52; 2Rs 18.4, 5; Is 40.25. P.98. Quer dizer que não se pode tolerar as imagens nas igrejas como “livros para os leigos”? R. Não. Pois não devemos querer ser mais sábios do que o próprio Deus. Ele quer que o Seu povo seja ensinado não por meio de ídolos mudos1 mas pela pregação viva da Sua Palavra.2 1. Jr 10.8; Hc 2.18-20. Rm 10.14, 15, 17; 2 Tm 3.16, 17; 2Pe 1.19. Dia do Senhor 36 P.99. O que se exige no terceiro mandamento? R. Que não blasfememos nem façamos mau uso o Nome de Deus por maldição,1 perjúrio2 ou votos desnecessários,3 e que não par- ticipemos, por omissão silenciosa, desses terríveis pecados.4 Antes devemos usar o santo nome de Deus somente com temor e reverência,5 para que possamos confessá-lO corretamen- te,6 invocá-lO,7 e O glorificar com todas as nossas palavras e obras.8 1. Lv 24.10-17. 2. Lv 19.12. 3. Mt 5.37; Tg 5.12. 4. Lv 5.1; Pv 29.24. 5. Sl 99.1-5; Is 45.23; Jr 4.2. 6. Mt 10.32, 33; Rm 10.9, 10. 7. Sl 50.14, 15. 1Tm 2.8. 8. Rm 2.24; Cl 3.17; 1Tm 6.1. P.100. Será que blasfemar o Nome de Deus por juramentos e maldições é um pecado tão grande que Deus se ira também contra aqueles que não impedem nem proíbem isso o tanto quanto podem? R. Certamente que sim.1 Porque nenhum pecado é maior nem provoca mais a ira de Deus do que blasfemar o Seu Nome. É por isso que Ele ordenou que esse pecado fosse punido com a morte.2 1. Lv 5.1. 2. Lv 24.16. 82 Dia do Senhor 37 P.101. Mas será que podemos, de modo piedoso, fazer juramentos e votos em Nome de Deus? R. Sim, quando o governo o exige de seus súditos, ou quando a necessidade o exige para que se guarde e se promova a fidelidade e a verdade, para a glória de Deus e o bem do nosso próximo. Esse tipo de juramento tem por base a Palavra de Deus1 e foi assim utilizado da maneira correta pelos santos do Velho e do Novo Testamentos.2 1. Dt 6.13; 10.20; Jr 4.1, 2; Hb 6.16. 2. Gn 21.24; 31-53; Js 9.15; 1Sm 24.22; 1Rs 1.29, 30; Rm 1.9; 2Co 1.23. P.102. Podemos também jurar pelos santos ou por outras criaturas? R. Não. Um juramento legítimo é uma invocação a Deus, para que Ele, o único que conhece o coração, sirva como testemunha da verdade e que me castigue se eu jurar falsamente.1 Nenhuma criatura é digna de uma tal honra.2 1. Rm 9.1; 2Co 1.23. 2. Mt 5.34-37; 23.16-22; Tg 5.12. Dia do Senhor 38 P.103. O que exige Deus no quarto mandamento? R. Primeiro, que o ministério do evangelho e as escolas cris- tãs sejam mantidas1 e que eu, especialmente no dia de descanso, seja diligente em ir à igreja de Deus2 para ouvir à Palavra de Deus,3 participar dos sacramentos,4 para invocar publicamente ao Senhor 5 e para praticar a caridade cristã para com os necessitados. 6 Segundo, para que em todos os dias da minha vida eu cesse as minhas más obras, deixe o Senhor operar em mim por Seu Espírito Santo, e assim começar nesta vida o descanso eterno.7 1. Dt 6.4-9; 20-25; 1Co 9.13, 14; 2Tm 2.2; 3.13-17; Tt 1.5. 2. Dt 12.5-12; Sl 40.9, 10; 68.26; At 2.42-47; Hb 10.23-25. 3. Rm 10.14-17; 1Co 14.26-33; 1Tm 4.13. 4. 1Co 11.23, 24. 5. Cl 3.16; 1Tm 2.1. 6. Sl 50.14; 1Co 16.2; 2Co 8; 9. 7. Is 66.23; Hb 4.9-11. Dia do Senhor 39 P.104. O que exige Deus no quinto mandamento? R. Que eu demonstre toda honra, amor e fidelidade a meu pai e à minha mãe, e a todos os meus superiores; que eu me submeta devidamente às suas boas instrução e disciplina1 e que também seja paciente com as suas fraquezas e defeitos,2 pois é a vontade de Deus nos governar pelas mãos deles.3 1. Ex 21.17; Pv 1.8; 4.1; Rm 13.1, 2; Ef 5.21, 22; 6.1-9; Cl 3.18-4.1. 2. Pv 20.20; 23.22; 1Pe 2.18. 3. Mt 22.21, Rm 13.1-8; Ef 6.1-9; Cl 3.18-21. Dia do Senhor 40 P.105. O que exige Deus no sexto mandamento? R. Que eu não devo desonrar, odiar, injuriar nem matar o meu próximo por pensamentos, palavras, ou gestos e muito menos por ações, por mim mesmo ou através de outros;1 antes, devo fazer morrer todo desejo de vingança.2 Além disso, não devo me fazer mal nem me expor levianamente ao perigo.3 Por isso também o governo empunha a espada para impedir homicídios.4 1. Gn 9.6; Lv 19.17, 18; Mt 5.21, 22; 26.52. 2. Pv 25.21, 22; Mt 18.35; Rm 12.19; Ef 4.26. 3. Mt 4.7; 26.52; Rm 13.11-14. 4. Gn 9.6; Ex 21.14; Rm 13.4. P.106. Mas, esse mandamento fala somente de matar? R. Ao nos proibir de matar Deus nos ensina que detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança1 e que Ele considera tudo isso como homicídio.2 1. Pv 14.30; Rm 1.29; 12.19; Gl 5.19-21; Tg 1.20; 1Jo 2.9-11. 2. 1Jo 3.15. 84 P.107. Então, basta que não matemos o nosso próximo dessa maneira? R. Não. Deus ao condenar a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança nos ordena a amar os nossos inimigos como a nós mesmos,1 a demonstrar paciência, paz, mansidão, misericórdia e amizade para com ele,2 a protegê-lo do mal o tanto que pudermos e a fa- zer o bem até mesmo aos nossos inimigos.3 1. Mt 7.12; 22.39; Rm 12.10. 2. Mt 5.5; Lc 6.36; Rm 12.10, 18; Gl 6.1, 2; Ef 4.2; Cl 3.12; 1Pe 3.8. 3. Ex 23.4, 5; Mt 5.44, 45; Rm 12.20. Dia do Senhor 41 P.108. O que nos ensina o sétimo mandamento? R. Que toda a impureza sexual é amaldiçoada por Deus.1 Por isso devemos abominá-la de todo coração2 e viver vidas puras e disciplinadas, tanto dentro quanto fora do santo matrimônio.3 1. Lv 18.30; Ef 5.3-5. 2. Jd 22, 23. 3. 1Co 7.1-9; 1Ts 4.3-8; Hb 13.4. P.109. Neste mandamento, Deus só proíbe o adultério e pecados vergonhosos semelhantes? R. Desde que somos, corpo e alma, templos do Espírito Santo, é a vontade de Deus que nos conservemos puros e santos. Por isso Ele proíbe todas as ações impuras, gesticulações, palavras, pensamentos, desejos,1 e tudo aquilo que possa nos induzir à impureza.2 1. Mt 5.27-29; 1Co 6.18-20; Ef 5.3, 4. 2. 1Co 15.33; Ef 5.18. Dia do Senhor 42 P.110. O que proíbe Deus no oitavo mandamento? R. Deus não apenas proíbe o roubo e o furto que as autoridades punem1 mas também os esquemas e ciladas malignos como falsos pesos e falsas medidas, negócio enganoso, dinheiro falsificado e usura;2 não devemos defraudar o nosso próximo de maneira nenhuma, nem pela força nem pela aparência de direito.3 Além disso Deus proíbe toda a avareza4 e todo o abuso e desperdício de Suas dádivas.5 1. Ex 22.1; 1Co 5.9, 10; 6.9, 10. 2. Dt 25.13-16; Sl 15.5; Pv 11.1; 12.22; Ez 45.9-12; Lc 6.35. 3. Mq 6.9-11; Lc 3.14; Tg 5.1-6. 4. Lc 12.15; Ef 5.5. 5. Pv 21.20; 23.20, 21; Lc 16.10-13. P.111. O que exige Deus de você nesse mandamento? R. Que eu promova o bem do meu próximo sempre que for lícito e possível; que eu o trate do mesmo modo que desejaria ser tratado pelos outros e que trabalhe fielmente para ter condições de dar aos necessitados.1 1. Is 58.5-10; Mt 7.12; Gl 6.9, 10; Ef 4.28. Dia do Senhor 43 P.112. O que se exige no nono mandamento? R. Que eu não devo levantar falso testemunho contra ninguém, nem distorcer as palavras de ninguém, não fazer fofoca nem difamar, não condenar nem me ajuntar com ninguém para condenar a outrem precipitadamente e sem o ter ouvido.1 Antes devo repudiar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus.2 No tribunal ou em qualquer outro lugar eu devo amar à verdade,3 dizê-la e confessá-la com honestidade e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo.4 1. Sl 15; Pv 19.5, 9; 21.28; Mt 7.1; Lc 6.37; Rm 1.28-32. 2. Lv 19.11, 12; Pv 12.22; 13.5; Jo 8.44; Ap 21.8. 3. 1Co 13.6; Ef 4.25. 4. 1Pe 3.8, 9; 4.8. Dia do Senhor 44 P.113. O que exige de nós o décimo mandamento? R. Que nem o mais leve pensamento ou desejo contrário a quais-quer mandamentos de Deus jamais deveriam se levantar em nosso coração. Antes, devemos sempre detestar de todo coração a todo o pecado e, nos deleitar em toda a justiça.1 1. Sl 19.7-14; 139.23, 24; Rm 7.7, 8. P.114. Mas os que se converteram a Deus são capazes de guardar esses mandamentos perfeitamente? R. Não. Pois até mesmo os mais santos nessa vida só têm um leve começo dessa obediência.1 Mesmo assim, eles começam a viver — com sincero fervor e propósito —não apenas segundo alguns mandamentos de Deus, mas conforme todos eles.2 1. Ec 7.20; Rm 7.14, 15; 1Co 13.9; 1Jo 1.8 2. Sl 1.1, 2; Rm 7.22-25; Fp 3.12-16. P.115. Se nessa vida ninguém consegue obedecer perfeitamente os Dez Mandamentos, por que Deus manda que sejam pregados com tanto rigor? R. Primeiro, para que ao longo das nossas vidas possamos cada vez mais estar conscientes da nossa natureza pecaminosa, e assim buscarmos com mais fervor o perdão dos pecados e a justiça de Cristo.1 Segundo, para que, ao orarmos a Deus pela graça do Espírito Santo, jamais deixemos de batalhar para sermos cada vez mais renovados à imagem de Deus, até que após esta vida alcancemos o alvo da perfeição.2 1. Sl 32.5; Rm 3.19-26; 7.7, 24, 25; 1Jo 1.9. 2. 1Co 9.24; Fp 3.12-14; 1Jo 3.1-3. A Oração Dia do Senhor 4 P.116. Por que a oração é necessária aos cristãos? R. Porque a oração é a parte mais importante da gratidão que Deus exige de nós.1 Além disso, Deus só concederá a Sua graça e o Espírito San- to àqueles que, constante e sinceramente, Lhe pedem esses dons e O agradecem por eles.2 1. Sl 50.14, 15; 116.12-19; 1Ts 6.16-18. 2. Mt 7.7, 8; Lc 11.9-13. P.117. O que é preciso para que nossa oração agrade a Deus e por Ele seja ouvida? R. Primeiro, devemos invocar de coração apenas o único e ver- dadeiro Deus — que se revelou em Sua Palavra — por tudo aquilo que Ele nos ordenou orar.1 Segundo, devemos ter plena consciência da nossa necessida- de e miséria, para que possamos nos humilhar diante de Deus.2 Terceiro, devemos descansar no fundamento inabalável — do qual não somos merecedores — de que Deus com certeza ouvirá às nossas orações por causa de Cristo, nosso Senhor, conforme Ele nos prometeu na Sua Palavra.3 1. Sl 145.18-20; Jo 4.22-24; Rm 8.26, 27; Tg 1.5; 1Jo 5.14, 15 ; Ap 19.10. 2. 2Cr 7.14; 20.12; Sl 2.11; 34.18; 62.8; Is 66.2; Ap 4. 3. Dn 9.17-19; Mt 7.8; Jo 14.13, 14; 16.23; Rm 10.13; Tg 1.6. P.118. O que foi que Deus ordenou que Lhe pedíssemos? R. Tudo aquilo que necessitamos para nossos corpos e almas, conforme à oração que o próprio Cristo, nosso Senhor, nos en- sinou.1 1. Mt 6.33; Tg 1.17. P.119. Qual é a oração do Senhor? R. “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!”1 1. Mt 6.9-13; Lc 11.2-4. Dia do Senhor 46 P.120. Por que Cristo ordenou nos dirigir a Deus como o “Pai nosso”? R. Para despertar em nós, logo no início da nossa oração, a reverência filial e confiante em Deus que deve ser básica à nossa oração. Deus, por meio de Cristo, tornou-se o nosso Pai, e se os nos- sos pais não nos negam as coisas terrenas, muito menos nos negará Deus aquilo que Lhe pedirmos pela fé.1 1. Mt 7.9-11; Lc 11.11-13. P.121. Por que se acrescentou “que estás nos céu”? R. Essas palavras nos ensinam a não pensar na majestade de Deus de modo terreno,1 e a esperar do Seu poder infinito tudo aquilo que necessitamos para os nossos corpos e almas.2 1. Jr 23.23, 24; At 17.24, 25. 2. Mt 6.25-34; Rm 8.31, 32. Dia do Senhor 47 P.122. Qual é a primeira petição? R. “Santificado seja o teu nome”. Isto é: Que nos concedas, antes de mais nada, que possamos Te conhecer da maneira correta,1 e que Te santifiquemos, glorifiquemos e louvemos em todas as Tuas obras, das quais brilham o Teu poder infinito, sabedoria, bondade, justiça, misericórdia e verdade.2 Também que nos concedas que dirijamos toda a nossa vida — ou pensamentos, palavras e ações — de tal maneira que o Teu nome não seja blasfemado por nossa causa, mas que seja sempre honrado e glorificado.3 1. Jr 9.23, 24; 31.33, 34; Mt 16.17; Jo 17.3. 2. Ex 34.5-8; Sl 145; Jr 32.16-20; Lc 1.46-55, 68-75; Rm 11.33-36. 3. Sl 115.1; Mt 5.16. Dia do Senhor 48 P.123. Qual é a segunda petição? R. “Venha o teu reino”. Isto é: Que nos governes pela Tua Palavra e Espírito de tal modo que nos submetamos a Ti1 cada vez mais. Que protejas e faças crescer a Tua igreja.2 Que destruas as obras do diabo, todo poder que se levante contra Ti e toda conspiração contra a Tua Palavra.3 Que faças todas essas coisas até que venha a plenitude do Teu reino, em que serás tudo em todos.4 1. Sl 119.5, 105; 143.10; Mt 6.33. 2. Sl 51.18; 122.6-9; Mt 16.18; At 2.42-47. 3. Rm 16.20; 1Jo 3.8. 4. Rm 8.22, 23; 1Co 15.28; Ap 22.17, 20. Dia do Senhor 49 P.124. Qual é a terceira petição? R. “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. Isto é: Que nós e todos os homens renunciemos à nossa própria vontade, e sem murmuração obedeçamos à Tua vontade, a única que é boa.1 Também que concedas que todos cumpram os deveres de seus ofícios e vocações2 tão espontânea e fielmente como os anjos no céu.3 1. Mt 7.21; 16.24-26; Lc 22.42; Rm 12.1, 2; Tt 2.11, 12. 2. 1Co 7.17-24; Ef 6.5-9. 3. Sl 103.20, 21. Dia do Senhor 50 P.125. Qual é a quarta petição? R. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Isto é: Que supras todas as nossas necessidades físicas1 para que re- conheçamos que Tu és a única fonte de todo o bem,2 e que — sem a Tua bênção — nem o nosso cuidado, nem o nosso labor nem mesmo os Teus dons, podem nos fazer bem algum.3 E, portanto, que não depositemos a nossa confiança em nenhuma criatura, mas somente em Ti.4 1. Sl 104.27-30; 145.15, 16; Mt 6.25-34. 2. At 14.17; 17.25; Tg 1.17. 3. Dt 8.3; Sl 37.16; 127.1, 2; 1Co 15.58. 4. Sl 55.22; 62; 146; Jr 17.5-8; Hb 13.5, 6. Dia do Senhor 51 P.126. Qual é a quinta petição? R. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”. Isto é: Que, por causa do sangue de Cristo, não nos imputes, pecadores desgraçados que somos, nenhuma das nossas transgressões nem o mal que ainda persiste em nós,1 e que também encontremos em nós essa evidência da Tua graça: que estamos plenamente determinados de todo o coração a perdoar nosso próximo.2 1. Sl 51.1-7; 143.2; Rm 8.1; 1Jo 2.1, 2. 2. Mt 6.14, 15; 18.21-35. Dia do Senhor 52 P.127. Qual é a sexta petição? R. “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal”. Isto é: Que somos tão fracos em nós mesmos que não podemos per- manecer firmes por um momento sequer.1 Além disso, os nossos inimigos declarados — o diabo,2 o mundo3 e a nossa própria carne4 — não cessam de nos atacar. Queiras, portanto, sustentar-nos e fortalecer-nos pelo poder do Teu Espírito Santo, para que não sejamos derrotados nessa batalha espiritual,5 mas que sempre resistamos a nossos inimi- gos, até que alcancemos finalmente a vitória total.6 1. Sl 103.14-16; Jo 15.1-5. 2. 2Co 11.14; Ef 6.10-13; 1Pe 5.8. 3. Jo 15.18-21. 4. Rm 7.13; Gl 5.17. 5. Mt 10.19, 20; 26.41; Mc 13.33; Rm 5.3-5. 6. 1Co 10.13; 1Ts 3.13; 5.23. P.128. Com é que você conclui a sua oração? R. “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre”. Isto é: Tudo isso Te pedimos porque, como nosso Rei com poder sobre todas as coisas, tanto queres quanto podes nos dar tudo o que é bom,1 e por essa causa não nós, mas o Teu santo Nome é digno de receber toda a glória para sempre.2 1. Rm 10.11-13; 2Pe 2.9. 2. Sl 115.1; Jr 33.8, 9; Jo 14.13. P.129. O que significa a palavra “Amém”? R. Amém significa: é verdadeiro e certo. Pois é mais certo e verdadeiro que Deus ouviu a minha oração, do que o sentimento que tenho em meu coração de desejar isso dEle.1 1. Is 65.24; 2Co 1.20; 2Tm 2.13. Cânones de Dort O terceiro dos padrões doutrinários das Igrejas Reformadas é Os Cânones de Dort, também chamado de Os Cinco Artigos Con- tra os Remonstrantes. Os Cânones são exposições doutrinárias que foram adotadas pelo grande Sínodo Reformado de Dort de 1618/1619. Esse Sínodo teve dimensão internacional, pois não se compunha apenas de delegados das igrejas Reformadas dos Países Baixos; vinte e sete representantes de igrejas estrangei- ras também participaram dele. O Sínodo de Dort foi convocado em vista de uma séria perturbação no seio das igrejas Reformadas causada pelo sur- gimento e propagação do Arminianísmo. Armínio, Professor de Teologia da Universidade de Leyden, e seus seguidores desviaram-se da fé Reformada quanto ao que alegavam em cinco importantes pontos. Ensinavam a eleição condicional tendo por base a previsão da fé, a expiação universal, a de- pravação parcial, a graça resistível e a possibilidade de cair da graça. Tais posições foram rejeitadas pelo Sínodo e as percep- ções opostas materializaram-se naquilo que é hoje chamado de Os Cânones de Dort, ou de Os Cinco Artigos Contra os Re- monstrantes. Nesses Cânones o Sínodo fixou a doutrina Refor- mada dos seguintes pontos, a saber, a eleição incondicional, a expiação definida, a depravação total, a graça irresistível e a perseverança dos santos. Cada Cânone consiste de uma parte positiva e de outra negativa. A primeira é uma exposição da doutrina Reformada referente à questão, e a última é a refutação do erro arminiano correspondente. Embora, quanto à forma há apenas quatro capí- tulos, causados pela união da terceira e quarta seções em uma única, é certo falarmos em cinco Cânones; o terceiro capítulo é sempre designado como Capítulo III/IV. Requer-se de todos os oficiais eclesiásticos das Igrejas Reformadas que subscrevam aos Cânones, como também à Confissão Belga e ao Catecismo de Heidelberg. OS CÂNONES DE DORT Primeiro Capítulo da Doutrina: A Eleição e a Reprovação Divinas Artigo 1 — Toda a humanidade é condenável diante de Deus Como todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição e merecem a morte eterna, Deus não teria feito injustiça a ninguém se tivesse resolvido deixar toda a raça humana no pecado e debaixo da maldição, e condená-la por causa do seu pecado, de acordo com estas palavras do apóstolo: “para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus ... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.19, 23) e “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Rm 5.12; Rm 3.19, 23; Rm 6.23. Artigo 2 — O envio do Filho de Deus Mas nisso se manifestou o amor de Deus, em que Ele enviou ao mundo o Seu Filho Unigênito, “para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. 1Jo 4.9; Jo 3.16. Artigo 3 — A pregação do Evangelho Assim, para que os homens sejam conduzidos à fé, Deus misericordiosamente enviou arautos da mais bem-aventurada mensagem a quem Ele quer e quando Ele quer. Pelo ministério deles os homens são chamados ao arrependimento e à fé no Cristo crucificado. Pois, “Como, porém, invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão nAquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?”. Is 52.7; 1Co 1.23, 24; Rm 10.14, 15. Artigo 4 — Um duplo resultado A ira de Deus permanece sobre os que não crêem neste Evangelho. Mas aqueles que o recebem e abraçam a Jesus o Salvador com uma fé verdadeira e viva são libertados por Ele da ira de Deus e da destruição, e presenteados com a vida eterna. Jo 3.36; Mc 16.16; Rm 10.9. Artigo 5 — A causa da incredulidade e a fonte da fé A causa ou a culpa dessa incredulidade, assim como a de todos os outros pecados, não está em Deus de modo nenhum, mas antes, no homem. No entanto, a fé em Jesus Cristo e a salvação através dEle é a livre dádiva de Deus, como está escrito: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”. Semelhantemente, “Porque vos foi concedida a graça ... de crerdes nEle”. Hb 4.6; Ef 2.8; Fp 1.29. Artigo 6 — O decreto eterno de Deus Procede do decreto eterno de Deus conceder, no tempo devido, o dom da fé a alguns e não, a outros. Pois Ele conhece todas as Suas obras desde a eternidade, e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por mais duros que sejam, e os inclina a crer; entretanto, segundo o Seu justo juízo, ele deixa os não-eleitos em sua própria malignidade e dureza. E aqui, especialmente, nos é revelada a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa distinção entre homens igualmente merecedores de condenação, que é o decreto da eleição e da reprovação, revelado na Palavra de Deus. Embora os homens perversos, impuros e volúveis o distorçam para a própria destruição deles, esse mesmo decreto proporciona consolação indizível às almas santas e tementes a Deus. • At 13.48; 1Pe 2.8; Ef 1.11. Artigo 7 — Definição da Eleição A eleição é o propósito imutável de Deus pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, segundo o soberano beneplácito da Sua vontade e por pura graça, escolheu para a salvação em Cristo — de entre toda a raça humana, caída pela própria culpa do estado original de integridade no pecado e na perdição — um número definido de pessoas específicas, em nada melhores nem mais dignas que as outras, porém envolvidas na mesma miséria dos demais. Também desde a eternidade, Ele constituiu a Cristo como o Mediador e o Cabeça de todos os eleitos e o fundamento da salvação. Assim decretou dar a Cristo os que haveriam de ser salvos e chamá-los e trazê-los eficazmente à Sua comunhão pela Sua Palavra e Espírito. Ele decretou conceder-lhes a fé verdadeira em Cristo, os justificar, os santificar e por fim — depois de os ter preservado poderosamente na comunhão do Seu Filho — os glorificar, para a demonstração da Sua misericórdia e o louvor da riqueza da Sua graça gloriosa. Como está escrito: Deus nos escolheu em Cristo “antes da fundação do mundo, para sermos santos e ir- repreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. E em outro lugar: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. • Ef 1.4,11; Jo 17.2, 12, 14; Jo 6.37, 44; 1Co 1.9; Ef 1.4-6; Rm 8.30. Artigo 8 — Um único decreto de eleição Não há vários decretos de eleição, mas um único e mesmo decreto para todos os que hão de ser salvos, tanto debaixo do Velho quanto do Novo Testamento. Porque a Escritura declara que o beneplácito, o propósito e o conselho da vontade de Deus é único. Segundo este propósito Ele nos escolheu desde a eternidade tanto para a graça quanto para a glória, tanto para a salvação e para o caminho da salvação — o qual preparou para que andássemos nele. • Dt 7.7; 9.6; Ef 1.4, 5; 2.10. Artigo 9 — A eleição não se baseia em fé prevista Tal eleição não se baseia em fé prevista, em obediência da fé, santidade ou de qualquer outra boa qualidade ou disposição que seja a causa ou a condição necessária aos homens para serem eleitos; os homens, todavia, são eleitos para a fé, para a obediência da fé, para a santidade etc. A eleição é, portanto, a fonte de todas as virtudes salvadoras de onde emana a fé, a santidade e os outros dons salvadores, e por fim a própria vida eterna, como frutos e efeitos da eleição. É isso o que o apóstolo ensina quando diz: “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, (não porque fôssemos santos, mas) para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”. • Rm 8.30; Ef 1.4. 100 Artigo 10 — A eleição baseia-se no beneplácito de Deus A causa dessa eleição graciosa é tão-somente o beneplácito de Deus, o qual não consiste de haver Deus escolhido de entre todas as condições possíveis umas certas qualidades ou ações dos homens como requisito para a salvação; mas consiste em que Ele, de entre a multidão dos pecadores, adotou para Sua possessão certas pessoas. Pois está escrito: “ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal ... e já fora dito a ela (a Rebeca): O mais velho será servo do mais moço”. E também: “todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú”. E ainda: “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. • Rm 9.11-13; Gn 25.23; Ml 1.2, 3; At 13.48. Artigo 11 — A eleição é imutável Como o próprio Deus é infinitamente sábio, imutável, onisciente e onipotente, assim também a Sua eleição não pode ser desfeita, refeita, alterada, revogada nem anulada; tampouco podem os eleitos ser rejeitados, nem o número deles diminuído. • Jo 6.37; 10.28. Artigo 12 — A certeza da eleição Os eleitos recebem no tempo oportuno — ainda que em vários graus e diferentes modos — a certeza da sua eterna e imutá- vel eleição para a salvação. Eles, todavia, não a obtêm quando curiosamente investigam as coisas ocultas e profundas de Deus, mas quando observam em si mesmos, com alegria espiritual e santo deleite, os infalíveis frutos da eleição indicados na Pala- vra de Deus — como a fé verdadeira em Cristo, o temor filial a Deus, a piedosa tristeza pelos seus pecados, e a fome e a sede de justiça. • Dt 29.29; 1Co 2.10, 11; 2Co 13.5; 7.10; Mt 5.6. Artigo 13 — O valor desta certeza A consciência e a certeza da eleição fornecem aos filhos de Deus maior motivo para se humilharem diariamente diante de dEle, para adorarem a profundidade das Suas misericórdias, para se purificarem e para amarem fervorosamente Àquele que os amou primeiro de modo tão grandioso. Contudo absolutamente não é verdade que a doutrina da eleição e o meditar nela os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou os rendam falsamente seguros. No justo juízo de Deus isso normalmente ocorre aos que supõem atrevidamente ter a graça da eleição, ou que dela falam de modo leviano e jactancioso, mas que se recu- sam a andar nos caminhos dos eleitos. • 1Jo 3.3; 4.19. Artigo 14 — Como se deve ensinar a eleição A doutrina da eleição divina, segundo o mui sábio conselho de Deus, foi pregada pelos profetas, pelo próprio Cristo e pelos apóstolos, tanto debaixo do Velho Testamento quanto do Novo Testamento, sendo então registrada por escrito nas Sagradas Es- crituras. Assim, também hoje, essa doutrina deve ser ensinada na igreja de Deus — para qual ela foi particularmente destinada — em tempo e lugar apropriados, com espírito criterioso, de modo reverente e santo, sem curiosa investigação nos caminhos do Altíssimo, para a glória do santíssimo nome de Deus, e para a viva consolação do Seu povo. • At 20.27; Jó 36.23-26; Rm 11.33; 12.3; 1Co 4.6. 102 Artigo 15 — A descrição da reprovação As Sagradas Escrituras mostram e nos recomendam esta graça eterna e imerecida da nossa eleição, especialmente quando além disso declara que nem todos os homens são eleitos, mas que alguns não são eleitos, ou foram preteridos na eleição eterna de Deus. Deus, pelo seu beneplácito mui soberano, justo, irrepreensível e imutável, decretou deixá-los na miséria comum em que eles se lançaram por sua própria culpa e não lhes concedeu a fé salvadora, nem a graça da conversão. Para mostrar a Sua justiça, Deus os deixou em seus próprios caminhos e debaixo do Seu justo juízo, decretando, por fim, os condenar e punir eternamente, não apenas pela incredulidade deles, mas também por causa de todos os seus outros pecados. Este é o decreto da reprovação, o qual não faz de Deus o autor do pecado (o só pensar isso é blasfêmia!), antes o revela como o terrível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado. • At 14.16. Artigo 16 — Como reagir à doutrina da reprovação Alguns não ainda discernem claramente em se mesmos uma fé viva em Cristo, nem confiança firme no coração, nem boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso, eles usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Eles não devem se assustar quando se fala da reprovação, nem devem se incluir entre os reprovados. Pelo contrário, devem continu- ar a usar esses meios com diligência, a almejar com fervor um tempo de graça mais abundante e a esperá-lo com reverência e humildade. Há também outros que desejam se converter a Deus com seriedade, tão somente para O agradar e para serem libertos do corpo da morte, contudo não conseguem chegar até onde gosta- riam no caminho da piedade e da fé. Essas pessoas não deveriam ter tanto medo da doutrina da reprovação, pois Deus, que é mi- sericordioso, prometeu que não esmagará a cana quebrada e não apagará o pavil que fumega. Há ainda outros que desprezam a Deus e ao Senhor Jesus Cristo e que se entregam completamente aos cuidados do mundo e às concupiscências da carne. Para esses, a doutrina da repro- vação é mesmo apavorante, pois não se voltam para Deus com seriedade. • Tg 2.26; 2Co 1.12; Rm 5.11; Fp 3.3; Rm 7.24; Is 42.3; Mt 12.20; 13.22; Hb 12.29. Artigo 17 — Os filhos de crentes que morrem na infância Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base na Sua Palavra, que declara que os filhos dos crentes são santos, não por natureza, mas em virtude do aliança da graça do qual participam juntamente com os seus pais. Por essa causa, pais tementes a Deus não devem duvidar da eleição e da salvação daqueles seus filhos a quem Deus chamou desta vida ainda na infância. • Gn 17.7; Is 59.21; At 2.39; 1Co 7.14. Artigo 18 — Não protesto, mas sim adoração Aos que se queixam da graça da eleição imerecida e da severidade da reprovação justa, replicamos com as palavras do apóstolo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!”, e com essas palavras do nosso Salvador: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu?”. Nós, porém, adorando com reverência estes mistérios, exclamamos com o apóstolo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”. • Jó 34.34-37; Rm 9.20; Mt 20.15; Rm 11.33-36. Rejeição de Erros Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da eleição e da reprovação, o Sínodo condena e rejeita os seguintes erros: Erro 1 — O completo e total decreto da eleição para a salvação é a vontade de Deus de salvar aos que irão crer e perseverar na fé e na obediência. Quanto a esse decreto, nada mais que isso foi revelado pela Palavra de Deus. Refutação — Esse erro é um engano e contradiz claramente à Escritura que declara não somente que Deus irá salvar aos que crêem mas também que Ele, desde a eternidade, escolheu pessoas específicas. No tempo oportuno ele concede a esses eleitos, em detrimento de outros, a fé em Cristo e a perseverança. “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo” (Jo 17.6). “E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor” (Ef 1.4). Erro 2 — Há vários tipos de eleição divina para a vida eterna. Uma é geral e indefinida, a outra é específica e definida. Esta última, por sua vez, pode ser: incompleta, revogável, duvidosa e condicional, ou então: completa, irrevogável, cabal e absoluta. Da mesma maneira que há uma eleição para a fé e, uma outra para a salvação. Assim, a eleição pode ser para a fé justificadora sem contudo ser definitiva para a salvação. Refutação — Tudo isso é invenção da mente humana sem ne- nhuma base na Escritura. Isso corrompe a doutrina da eleição e rompe a corrente de ouro da nossa salvação: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Erro 3 — O beneplácito e o propósito de Deus do qual a Escri- tura fala na doutrina da eleição não é que Ele escolheu especifi- camente algumas pessoas e outras não, mas que de entre todas as condições possíveis (assim como as obras da lei) Ele escolheu e selecionou o ato de fé — que não tem nenhum mérito em si mesmo — e também a imperfeita obediência da fé, para que fossem condição de salvação. Em Sua graça Ele quis considerar essa fé como obediência perfeita e digna da recompensa da vida eterna. Refutação — Esse erro ofensivo rouba toda a eficácia do bene- plácito de Deus e dos méritos de Cristo, empurra as pessoas para longe da verdade da justificação pela graça e da simplicidade da Escritura; além de contradizer a palavra do apóstolo: “[Deus] nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a Sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9). Erro 4 — A eleição para a fé depende das seguintes condições: o homem deve fazer uso da luz da natureza do modo apropriado, deve ser piedoso, humilde, manso e qualificado para a vida eterna. Refutação — Se isso fosse verdade a eleição dependeria do homem. Isso assemelha-se ao ensinamento de Pelágio e choca-se diretamente com ensinamento do apóstolo em Efésios 2.3-9: “entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mos- trar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Erro 5 — A eleição incompleta e não-definitiva de pessoas específicas para a salvação dá-se com base na presciência da fé, da conversão, da santidade, da piedade que começaram ou existiram por algum tempo. A eleição completa e definitiva, no entanto, ocorreu por causa da presciência da perseverança na fé, da conversão, da santidade e da piedade até o fim. Esse é o mérito gracioso e evangélico pelo que o eleito é mais digno do que o não eleito. Por isso, a fé, a obediência da fé, a santidade, a piedade e a perseverança não são frutos da imutável eleição para a glória. Antes, são as condições e as causas necessárias requeridas e sabidas de antemão como concretizadas naqueles que serão eleitos integralmente. Refutação — Esse erro milita contra toda a Escritura, que constantemente nos incute o seguinte: A Eleição é motivada “não por obras, mas por Aquele que chama” (Rm 9.11); “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48); “assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele” (Ef 1.4); “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). “se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6); “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). Erro 6 — Nem toda eleição para a salvação é imutável. Alguns dos eleitos podem e até mesmo perecem eternamente a despeito de qualquer decreto de Deus. Refutação — Esse erro grosseiro torna Deus mutável, destrói a consolação que os crentes têm na firmeza da sua eleição e con- tradiz a Sagrada Escritura: O eleito não pode ser desviado, Mt 24.24; “E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu” (Jo 6.39). “E aos que predesti- nou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses tam- bém justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Erro 7 — Nesta vida não há fruto, consciência ou certeza da imutável eleição para a glória, exceto a que se baseia numa condição mutável e incerta. Refutação — Falar de uma certeza incerta não é apenas absurdo mas é também contrário à experiência dos crentes. Sendo conscientes da sua eleição, eles se gloriem com os apóstolos nesse favor de Deus (Efésios 1); eles se regozijem com os discípulos de Cristo, por terem os seus nomes escritos no céu (Lucas 10.20); e eles levantem a consciência da eleição contra os dardos inflamados do maligno, quando exclamam: “Quem intentará acusa- ção contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33). Erro 8 — Deus não decidiu, simplesmente com base em sua justa vontade, deixar nenhuma pessoa na queda de Adão e no estado comum de pecado e condenação, nem decidiu preterir ninguém na concessão da graça necessária para fé e conversão. Refutação — A Escritura, no entanto, declara: “tem Ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem Lhe apraz” (Rm 9.18). Afirma também: “a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido” (Mt 13.11). E ainda: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.25, 26). Erro 9 — Deus envia o Evangelho a um povo mais que a um outro, não meramente e somente por causa do bom propósito de sua vontade, mas por ser este melhor e mais digno que o outro, ao qual o Evangelho não é comunicado. Refutação — Moisés nega isso quando fala ao povo de Israel, como se vê a seguir: “Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR, teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente o SENHOR se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê” (Dt 10.14, 15). E Cristo diz: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza” (Mt 11.21). Segundo Capítulo da Doutrina: A Morte de Cristo e a Redenção do Homem Através Dela Artigo 1 — O castigo que a justiça de Deus exige Deus não é apenas supremamente misericordioso, mas também é supremamente justo. E conforme Ele mesmo revelou em Sua Palavra, a Sua justiça exige que os nossos pecados, cometidos contra a Sua infinita majestade, sejam castigados não apenas nessa era, mas também na era porvir, tanto no corpo quanto na alma. Não podemos escapar desse castigo se a justiça de Deus não for satisfeita. • Êx 34.6, 7; Rm 5.16; Gl 3.10. Artigo 2 — A satisfação cumprida por Cristo Nós, contudo, não podemos cumprir essa satisfação e nos livrar por nós mesmos da ira de Deus. Por isso Deus, em Sua infinita misericórdia nos deu o Seu filho unigênito como o nosso fiador. Por nós ou em nosso lugar Ele foi feito pecado e maldito na cruz para que pudesse, em nosso favor, satisfazer a Deus. • Rm 5.8; 2Co 5.21; Gl 3.13. Artigo 3 — O valor infinito da morte de Cristo A morte do Filho de Deus é o único e o mais perfeito sacrifício e satisfação pelos pecados; tem valor e mérito infinitos; é abundante o suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro. • Hb 9.26, 28; 10.14; 1Jo 2.2. Artigo 4 — Por que a Sua morte tem valor infinito A morte do Filho de Deus tem tão grande valor e mérito porque Aquele que se submeteu a ela não é apenas o homem perfeito e verdadeiro, mas é também o filho unigênito de Deus, da mesma essência eterna e infinita com o Pai e o Espírito Santo. O nosso Salvador tinha que ter tais qualificações. Além disso, essa morte tem tão grande valor e mérito porque foi acompanhada da cons- ciência da ira e da maldição de Deus que, pelos nossos pecados, somos merecedores. • Hb 4.15; 7.26; 1Jo 4.9; Mt 27.46. Artigo 5 — A proclamação universal do evangelho A promessa do evangelho é que todo aquele que crer em Cristo crucificado não perecerá, mas tem a vida eterna. Esta promessa deve ser anunciada e proclamada universalmente sem nenhuma discriminação a todos os povos e homens, aos quais Deus em Seu beneplácito envia o evangelho juntamente com o mandamento de que se arrependam e creiam. • Jo 3.16; 1Co 1.23; Mt 28.19; At 2.38; 16.31. Artigo 6 — Por que alguns não crêem No entanto, muitos dos que foram chamados pelo evangelho não se arrependem nem crêem em Cristo mas perecem na increduli- dade. Isso não decorre por haver alguma defeito ou insuficiência no sacrifício de Cristo na cruz, mas pela própria culpa deles. • Mt 22.14; Sl 95.11; Hb 4.6. Artigo 7 — Por que outros crêem Mas aqueles que verdadeiramente crêem e pela morte de Cristo são libertos e salvos dos seus pecados e da perdição, recebem esse benefício apenas por causa da graça de Deus que lhes é dada em Cristo, desde a eternidade. Deus não deve tal graça a ninguém. • 2Co 5.18; Ef 2.8, 9. Artigo 8 — A eficácia da morte de Cristo Pois este foi o soberano conselho de Deus o Pai que a eficácia salvadora e vivificante da preciosíssima morte do Seu Filho se estendesse a todos os eleitos. Foi da Sua graciosíssima vontade e intento conceder a fé justificadora apenas a eles e assim trazerlhes infalivelmente a salvação. Isto é: Quis Deus que Cristo pelo sangue da cruz (pelo qual Ele confirmou a nova aliança) redimisse eficazmente de todo povo, tribo, nação e língua todos aqueles — e somente aqueles — que desde a eternidade foram eleitos para a salvação e Lhe foram dados pelo Pai. Ainda quis Deus que Cristo lhes desse a fé, a qual, juntamente com outros dons salvadores do Espírito Santo, Ele lhes adquiriu pela Sua morte, para que pelo Seu sangue pudesse purificá-los de todos os seus pecados — tanto do pecado original quanto dos pecados re- ais cometidos antes e depois da fé — e para os guardar fielmente até o fim e finalmente os apresentar a Si mesmo em glória sem nenhuma mácula ou ruga. • Jo 17.9; Ef 5.25-27; Lc 22.20; Hb 8.6; Ap 5.9; Fp 1.29; 1Jo 1.7; Jn 10.28; Ef 5.27. Artigo 9 — O cumprimento do conselho de Deus Esse conselho, que procede do amor eterno de Deus pelos eleitos, tem sido poderosamente cumprido desde a fundação do mundo até o momento presente, e continuará ainda a ser cumprido, ainda que as “portas do inferno” tentem frustrá-lo inutilmente. No tempo oportuno os eleitos serão ajuntados em uma união, e sempre existirá uma igreja de crentes fundada no sangue de Cristo. Essa igreja amá-Lo-á firmemente e servi-Lo-á fielmente como seu salvador (o qual como noivo derramou a Sua vida na cruz pela Sua noiva) e celebrará os seus louvores aqui e por toda a eternidade. • Mt 16.18; Jo 11.52; 1Rs 19.18; Ef 5.25. Rejeição de Erros Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da morte de Cristo e da redenção do homem pela Sua morte, o Sínodo condena e rejeita os seguintes erros: Erro 1 — Deus Pai ordenou a morte do Seu Filho na cruz sem que houvesse um decreto específico e definitivo para a salvação de ninguém. Aquilo que Cristo adquiriu pela Sua morte poderia ser necessário, proveitoso e valioso, e poderia permanecer em todas as sua partes completo, perfeito e intacto, mesmo que a redenção adquirida por Ele jamais fosse aplicada a ninguém. Refutação — Tal doutrina ofende a sabedoria de Deus e aos méritos de Jesus Cristo e é contrária à Escritura. Pois o nosso Salvador diz: “dou a minha vida pelas ovelhas ... eu as conheço” (Jo 10.15, 27). E o profeta Isaías, referindo-se ao Salvador, diz: “quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos” (Is 53.10). Por fim, esse erro contradiz o artigo de fé que se refere à igreja cristã universal. Erro 2 — O propósito da morte de Cristo não foi que Ele confirmasse o novo pacto de graça pelo Seu sangue, mas tão-somente que adquirisse para o Pai o mero direito de estabelecer uma vez mais com o homem a aliança que Lhe agradasse, fosse ela de graça ou de obras. Refutação — Isso milita contra a Escritura que ensina que Cristo se tornou o Fiador e o Mediador de uma superior aliança, isso é, de uma nova aliança; ensina também que um testamento só passa a vigorar com a morte (Hb 7.22, 9:15, 17). Erro 3 — Cristo, por meio da Sua satisfação, na verdade não mereceu para ninguém nem a salvação mesma nem a fé pela qual é possível se apropriar eficazmente dessa satisfação de Cristo para a salvação. Ele conquistou para o Pai apenas a autoridade ou a vontade perfeita de tratar novamente com o homem e de prescrever novas condições conforme a Sua vontade. Depende entretanto do livre arbítrio do homem para preencher estas condições. Seria possível, portanto, que ou nenhum ou todos os homens preenchessem tais condições. Refutação — Aqueles que ensinam esse erro desprezam a morte de Cristo, não reconhecem de maneira nenhuma o mais importante fruto ou benefício dela, e trazem novamente do inferno o erro pelagiano. Erro 4 — A nova aliança da graça que Deus o Pai fez com ho- mem, pela mediação da morte de Cristo, não consiste em que somos justificados diante de Deus e salvos pela fé, visto que aceita o mérito de Cristo. Mas consiste no fato de que Deus re- vogou a exigência da perfeita obediência à lei e que considera a própria fé e a obediência da fé, embora imperfeitas, como a perfeita obediência à lei e Ele, graciosamente, as considera dignas da recompensa da vida eterna. Refutação — Essa doutrina contradiz a Escritura: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm 3.24, 25). Aqueles que ensinam essa erro proclamam, como fizera o ímpio Socinus, uma nova e estranha justificação do homem diante de Deus, contrário ao consenso de toda a igreja. Erro 5 — Todos os homens foram aceitos no estado de reconciliação e na graça da aliança, de sorte que ninguém está sujeito à condenação nem será condenado por causa do pecado original. Todos estão livres da culpa do pecado original. Refutação — Essa opinião conflita com a Escritura que ensina que somos, “por natureza, filhos da ira” (Ef 2.3). Erro 6 — Deus, por Seu lado, deseja conceder igualmente a todos os benefícios adquiridos pela morte de Cristo. Alguns, no entanto, obtêm o perdão dos pecados e a vida eterna e outros não. Essa distinção depende do próprio livre arbítrio deles, que se associa à graça que é oferecida sem distinção, e não depende do dom especial de misericórdia que neles opera com tanto poder a fim de que eles, ao contrário dos outros, apliquem essa graça a si mesmos. Refutação — Aqueles que ensinam isso, fazem mal uso da diferença que há entre a aquisição e a aplicação da salvação e confundem as mentes dos imprudentes e inexperientes. Embora simulem apresentar essa distinção de modo correto, procuram infiltrar na mente das pessoas o veneno pernicioso do pelagianismo. Erro 7 — Cristo não podia nem precisava morrer, e não morreu por aqueles a quem Deus amou sobremaneira e a quem elegeu para a vida eterna, pois os tais não necessitavam da Sua morte. Refutação — Essa doutrina contradiz o apóstolo que declara: O “Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). Semelhantemente: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu” (Rm 8.33, 34), isto é, por eles. E o Salvador assim nos assegura: “dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.15). E ainda: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.12, 13). Terceiro e Quarto Capítulos da Doutrina: A Corrupção do Homem, a sua Conversão a Deus e o Modo como isso Ocorre Artigo 1 — O resultado da queda No princípio o homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com o verdadeiro e total conhecimento do Seu criador e de todas as coisas espirituais. A sua vontade e o seu coração eram retos; todos os seus sentimentos, puros; o homem era, portanto, completamente santo. Mas ao rebelar-se contra Deus pela instigação do diabo e pelo próprio livre-arbítrio, ele se privou desses dons excelentes e em lugar deles trouxe sobre si cegueira, trevas terríveis; vão e perverso juízo em sua mente; malignidade, rebelião e obstinação em sua vontade e coração; além de impureza em todos os seus sentimentos. • Gn 1.26, 27; Gn 3.1-7; Ef 4.17-19. Artigo 2 — A propagação da corrupção Depois da queda o homem se tornou corrompido e como pai corrompido gerou filhos corrompidos. Assim a corrupção, de acordo com o justo juízo de Deus, propagou-se de Adão a todos os seus descendentes — à exceção de Cristo somente — não por imitação, como afirmavam os antigos pelagianos, mas pela propagação de uma natureza pervertida. • Jó 14.4; Sl 51.7; Rm 5.12; Hb 4.15. Artigo 3 — A total incapacidade do homem Portanto todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer bem salvador, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador não desejam nem poderão retornar a Deus, nem corrigir a sua natureza depravada ou se preparar para essa correção. • Ef 2.1, 3; Jo 8.34; Rm 6.16, 17; Jo 3.3-6; Tt 3.5. Artigo 4 — A insuficiência da luz da natureza É certo que depois da queda restou no homem um pouco da luz natural pela qual ainda lhe ficou alguma noção de Deus, das coisas naturais, da diferença entre o honrável e o vergonhoso, e dá mostras de alguma consideração pela virtude e pela ordem exterior. Mas está tão longe de chegar ao conhecimento salvador de Deus e da verdadeira conversão por meio dessa luz da natureza que nem mesmo a usa do modo apropriado nas questões naturais e civis. Antes, não importa o que seja esta luz, o homem a polui completamente de várias formas e a suprime pela sua injustiça, tornando-se assim inescusável diante de Deus. • Rm 1.19, 20; 2.14, 15; 1.18, 20. Artigo 5 — A insuficiência da lei Aquilo que se afirma da luz da natureza também é válido para os Dez Mandamentos dados por Deus através de Moisés, particu- larmente aos judeus. Embora a lei revele a grandeza do pecado e convença cada vez mais o homem da sua culpa, ainda assim não lhe aponta a cura nem lhe dá poder para se erguer e sair das suas misérias. Antes, enfraquecida pela carne, a lei deixa o transgressor debaixo de maldição. Por essa causa, o homem não pode obter a graça salvadora através da lei. • Rm 3.19, 20; 7:10.13; 8.3; 2Co 3.6, 7. Artigo 6 — A necessidade do evangelho Portanto, aquilo que nem a luz da natureza nem a lei pode fazer, Deus realiza pelo poder do Espírito Santo através da palavra ou ministério da reconciliação: o evangelho do Messias, pelo qual agradou a Deus salvar aos que crêem tanto na antiga quanto da nova dispensação. • 2Co 5.18, 19; 1Co 1.21. Artigo 7 — Por que o evangelho é enviado a uns e não a outros Na velha dispensação Deus revelou a uns poucos esse mistério da Sua vontade. Na nova dispensação, no entanto, Ele não con- siderou os povos de modo diferente e o revelou a um número muito maior de pessoas. Não se deve atribuir a causa dessa dis- tribuição do evangelho ao mérito de um povo sobre o outro, nem ao melhor uso da luz da natureza, mas ao beneplácito soberano e ao amor imerecido de Deus. Por essa causa, nós, a quem se concedeu uma tão grande graça, superior e contrária a tudo o que merecemos, devemos reconhecê-la de coração humilde e grato. Mas, quanto àqueles a quem tal graça não é dada, devemos ado- rar com o apóstolo a severidade e a justiça dos juízos de Deus, sem de modo algum investigá-los inquisitiva e curiosamente. • Ef 1.9; 2:14; Cl 3.11; Rm 2.11; Mt 11.26; Rm 11.22, 23; Ap 16.7; Dt 29.29. Artigo 8 — A sincera chamada do Evangelho Tantos quantos são chamados pelo Evangelho, sinceramente o são, pois Deus séria e sinceramente revela em Sua Palavra aquilo que lhe agrada, a saber: que todos os que são chamados venham a Ele. Ele também promete verdadeiramente o descanso para as suas almas e a vida eterna a todo o que a Ele vierem e crerem. • Is 55.1; Mt 22.4; Ap 22.17; Jo 6.37; Mt 11.28, 29. Artigo 9 — Por que alguns dos que são chamados não vêm Não é culpa do Evangelho — nem do Cristo oferecido pelo Evangelho, nem de Deus, que os chama pelo Evangelho e quem até mesmo lhes concede vários dons — que muitos dos que são chamados pelo ministério do Evangelho não vêm nem são con- vertidos. A culpa está neles mesmos. Alguns deles não se impor- tam com a palavra da vida nem a aceitam. Outros de fato a re- cebem, mas não a aceitam em seus corações, e logo retrocedem depois que desaparece a alegria de uma fé temporária. Há ainda daqueles que sufocam a semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e dos prazeres desse mundo e que não produzem nenhum fruto. É esse o ensino do nosso Salvador na parábola da semeadura em Mateus 13. • Mt 11.20-24; 22:1-8; 23:37. Artigo 10 — Por que outros que são chamados vêm Outros que são chamados pelo ministério do Evangelho vêm e são convertidos. Não se deve atribuir isso ao homem, como se ele, por causa do seu livre-arbítrio, fosse superior àqueles que receberam graça igual ou suficiente para a fé ou conversão (como afirma a arrogante heresia de Pelágio). Deve-se atribuir isso a Deus, pois foi Ele quem escolheu os Seus em Cristo desde a eternidade e os chama eficazmente no tempo; concede-lhes a fé e o arrependimento; livra-os do poder das trevas e os transfere para o reino do Seu Filho. Tudo isso Ele faz para que eles possam declarar os maravilhosos feitos dAquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz, e para que não se gloriem em si mesmos, mas no Senhor — segundo o testemunho dos apóstolos em diversas partes da Escritura. • Rm 9.16; Cl 1.13; Gl 1.4; 1Pe 2.9; 1Co 1.31; 2Co 10.17; Ef 2.8, 9. Artigo 11 — Como Deus realiza a conversão Deus realiza o Seu beneplácito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da seguinte maneira: Ele cuida para que o evangelho lhes seja pregado e ilumina poderosamente as suas mentes pelo Espírito Santo de sorte que possam compreender e discernir corretamente as coisas do Espírito de Deus. Pela operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, Ele também penetra até os recantos mais íntimos do homem, abre os corações fechados e abranda os endurecidos, circuncida o que era incircunciso e infunde novas qualidades na vontade: faz viver a vontade outrora morta; a que era má, converte em boa; a indisposta, em solícita; a rebelde, em obediente. Ele muda e fortalece de tal maneira essa vontade que, assim como uma árvore boa, seja capaz de produzir o fruto das boas obras. • Hb 6.4, 5; 1Co 2.10-14; Hb 4.12; At 16.14; Dt 30.6; Ez 11.19; 36.26; Mt 7.18. Artigo 12 — A regeneração é obra de Deus somente Esta conversão é aquela regeneração, nova criação, ressurgir dos mortos vivificação, tão exaltada nas Escrituras, a qual Deus opera em nós a despeito de nós. Essa regeneração, contudo, não se realiza de modo algum pelo ensino exterior, pela persuasão moral ou por um modo tal de operação que, após ter Deus feito a Sua parte, fica a critério do homem o regenerar-se ou não, o converter-se ou não. É, portanto, claramente uma obra sobrenatural, poderosíssima, e ao mesmo tempo a mais deleitosa, maravilhosa, misteriosa e indizível. Segundo a Escritura, inspirada pelo Autor dessa obra, a regeneração não é inferior em poder à criação ou à ressurreição dos mortos. Por essa razão todos aqueles em cujos corações Deus opera desse modo maravilhoso são com certeza, infalível e eficazmente regenerados e crêem de fato. A vontade assim restaurada não é apenas alvo da ação e da restauração de Deus, mas, sob o agir de Deus, ela também age. Assim, por essa causa, diz-se com justiça que o homem crê e se arrepende mediante a graça que recebeu. • Jo 3.3; 2Co 4.6; 5:17; Ef 5.14; Jo 5.25; Rm 4.17; Fp 2.13. Artigo 13 — A regeneração é incompreensível Na vida presente, não é possível aos que crêem compreenderem totalmente o modo como Deus realiza esta obra. Contudo, lhes é suficiente conhecer e sentir que por essa graça de Deus eles crêem de coração e amam o Seu Salvador. • Jo 3.8; Rm 10.9. Artigo 14 — Fé: um dom de Deus A fé, portanto, é um dom de Deus, não porque é apenas oferecida por Deus ao livre-arbítrio do homem, mas porque é de fato conferida ao homem, implantada e infundida nele. Também não é um dom no sentido de que Deus confere apenas a capacidade para crer, e aguarda do livre-arbítrio do homem a autorização para crer ou o ato de crer. É, antes, um dom no sentido de que é Ele quem efetua no homem tanto o querer quanto o realizar; quem verdadeiramente faz tudo em todos; quem realiza no homem tanto a vontade de crer quanto o ato de crer. • Ef 2.8; Fp 3.13. Artigo 15 — A atitude correta quanto à graça imerecida de Deus Deus não deve tal graça a ninguém. O que poderia Deus dever ao homem? Quem foi que primeiro deu a Ele, para ser por Ele ressarcido? Que poderia Deus dever a quem nada tem, a não ser pecado e falsidade? Portanto, aquele que recebe essa graça deve e rende eternamente ação de graças somente a Deus. Mas quem não recebe essa graça, não tem o menor interesse por essas coisas espirituais e está satisfeito com o que possui, ou ufana-se com falsa segurança de ter aquilo que não possui. Além disso, quanto aos que professam externamente a sua fé e corrigem as suas vidas devemos julgar e falar da forma mais favorável, segundo o exem- plo dos apóstolos, pois não conhecemos o íntimo recôndito do coração; quanto aos que ainda não foram chamados, devemos orar a Deus em favor deles — pois Deus é quem chama à existência às coisas que não existem; quanto a nós, não devemos jamais nos vangloriar, como se nos colocássemos acima dos outros. • Rm 11.35; Am 6.1; Jr 7.4; Rm 14.10; 4:17; 1Co 4.7. Artigo 16 — A vontade do homem não é eliminada, mas é vivificada O homem, pela sua queda, não deixou de ser homem dotado de inteligência e vontade. O pecado que impregnou toda a raça humana não privou o homem da sua natureza humana, mas trouxe sobre ele a depravação e a morte espiritual. Assim também a graça divina da regeneração não atua sobre os homens como se fossem máquinas ou robôs; não elimina a vontade e as suas propriedades, nem a coage violentamente, mas torna-a espiritualmente viva, sara-a, corrige-a e, a um só tempo agradável e poderosamente, submete-a. O resultado é que onde antes domi- nava totalmente a rebelião e a resistência da carne, agora, pelo Espírito, começa a prevalecer uma pronta e sincera obediência, que é a verdadeira renovação e libertação espiritual da nossa vontade. E se o Maravilhoso Autor de todo o bem não tivesse nos conduzido dessa maneira, o homem não teria a menor esperança de erguer-se da sua queda mediante o seu livre-arbítrio, o qual, quando ela ainda estava de pé, o lançou na perdição. • Rm 8.2; Ef 2.1; Sl 51.12; Fp 2.13. Artigo 17 — O uso dos meios A ação onipotente de Deus pela qual Ele produz e sustenta a nossa vida natural, não exclui, antes requer, o uso de meios através dos quais Ele quis exercer o Seu poder, segundo a Sua infinita sabedo- ria e bondade. Assim também a mencionada ação sobrenatural de Deus mediante a qual Ele nos regenera, não exclui nem cancela de jeito nenhum o uso do Evangelho que o sapientíssimo Deus ordenou para ser a semente da regeneração e o alimento da alma. Por esta razão os apóstolos e os mestres que os sucederam ensina- ram reverentemente ao povo sobre a graça de Deus, para a glória dEle e para a vergonha de toda a soberba. Ao mesmo tempo não descuidaram de guardar o povo por meio das santas admoestações do Evangelho, debaixo da administração da Palavra, dos sacramentos e da disciplina. Portanto, os que hoje instruem ou são instruídos na igreja não devem ousar tentar a Deus separando aquilo que Ele pelo Seu beneplácito quis unir inseparavelmente. Assim, a graça é concedida mediante admoestações, e quanto mais pron- tamente cumprirmos com o nosso dever, tanto mais esse favor de Deus, que é quem opera em nós, manifesta-se naturalmente em sua glória fazendo a Sua obra prosperar da melhor maneira. A Deus somente seja dada a glória eternamente, tanto pelos meios quanto pelos seus frutos e eficácia da salvação. Amém. • Is 55.10, 11; 1Co 1.21; Tg 1.18; 1Pe 1.23, 25; 2.2; At 2.42; 2Co 5.11-21; 2Tm 4.2; Rm 10.14-17; Jd 24, 25. Rejeição de Erros Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da corrupção do homem e a sua conversão a Deus, o Sínodo rejeita os seguintes erros: Erro 1 — É impróprio dizer que o pecado original em si seja suficiente para condenar toda a raça humana ou para merecer castigo temporal e eterno. Refutação — Isso contradiz as palavras do apóstolo quando ele declara: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pe- cado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12). E no versículo 16: “o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação”. Também em Rm 6.23: “o salário do pecado é a morte”. Erro 2 — Os dons espirituais ou as boas qualidades e virtudes — tais como a bondade, a santidade e a justiça — não podiam fazer parte da vontade do homem quando no princípio foi criado, e por isso não podiam ser separadas da sua vontade quando ele caiu. Refutação — Esse erro é contrário à descrição da imagem de Deus que o apóstolo dá em Efésios 4.24, ao associá-la à justiça e à santidade, as quais pertencem — sem a menor dúvida — à vontade. Erro 3 — Na morte espiritual os dons espirituais não se separam da vontade do homem, porque a vontade em si jamais se cor- rompeu, estando apenas impedida pela escuridão da mente e o descontrole das paixões. Se esses obstáculos forem removidos a vontade poderá exercitar toda a sua capacidade inata. A vontade é em si mesma capaz de querer e de escolher, ou não, todo tipo de bem que lhe for apresentado. Refutação — Isso é uma inovação e um erro que tende a exaltar a capacidade do livre-arbítrio, contrário àquilo que o profeta Jeremias declara no capítulo 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto”. E contrário ao que Paulo escreveu em : “entre os quais (os filhos da ira) também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (Ef 2.3). Erro 4 — O homem não-regenerado não está realmente nem completamente morto em pecados, nem privado de toda capacidade para realizar o bem espiritual. Ele ainda é capaz de sentir fome e sede de justiça e de vida, e de oferecer o sacrifício de um espírito contrito e quebrantado que agrada a Deus. Refutação — Essas declarações conflitam com o claro testemu- nho da Escritura: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vos- sos delitos e pecados” (Ef 2.1, 5). E: “era continuamente mau todo desígnio do coração do homem” (Gn 6.5 e 8.21). Além disso, somente os regenerados e os bem-aventurados é que têm fome e sede de libertação da miséria e da vida, e oferecem a Deus o sacrifício de um espírito quebrantado (Sl 51.19 e Mt 5.6). Erro 5 — O homem corrompido e natural bem pode usar da graça comum (que para os Arminianos é a luz da natureza) ou dos dons ainda remanescentes nele depois da queda, e pode conquistar gradualmente pelo bom uso que faz deles uma graça maior, isto é, a graça evangélica ou salvadora, e a salvação em si mesma. Deste modo, Deus, por Sua vez, mostra-se pronto a revelar Cristo a todo homem, porque a todos Ele administra, suficiente e eficazmente, os meios necessários para que conheçam a Cristo, pela fé e arrependimento. Refutação — Não apenas a experiência de todas as eras mas também a Escritura testificam que isso é falso. “Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos” (Sl 147.19, 20). “o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos” (At 14.16). E Paulo e os seus companheiros foram “impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.6, 7). Erro 6 — Na verdadeira conversão do homem, Deus não pode lhe infundir na vontade nenhuma nova natureza, capacidade ou dom. Por causa disso a fé, pela qual somos convertidos a princípio e por que somos chamados de crentes, não é uma qualidade nem um dom concedido por Deus, mas apenas um ato do homem. Não pode ser chamada de dom, exceto se for quanto à capacidade de se alcançar essa fé. Refutação — Esse ensino contradiz as Sagradas Escrituras que declaram que Deus infunde as novas naturezas da fé, da obediência e da consciência do Seu amor em nossos corações: “Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jr 31.33). E: “derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca” (Is 44.3). E: “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5). Isso também conflita com a prática permanente da igreja, que ora pela boca do profeta: “converte-me, e serei convertido” (Jr 31.18). Erro 7 — A graça pela qual somos convertidos a Deus não passa de um aviso gentil. Esse modo de avisar é o mais nobre modo do homem se converter e está em máxima harmonia com a sua natureza. Não há razão para que tal graça persuasiva não seja suficiente para tornar espiritual o homem natural. Na verdade, Deus não opera o consentimento da vontade senão mediante essa persuasão moral. O poder da operação divina é superior à operação de Satanás, pois Deus promete bens eternos, e Satanás apenas bens temporais. Refutação — Isso é pelagianismo puro e contrário a toda a Es- critura, a qual ensina, além dessa persuasão moral, um outro modo mais poderoso e divino de ação do Espírito Santo na con- versão do homem: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.26). Erro 8 — Na regeneração do homem Deus não faz uso dos poderes da Sua onipotência para, de modo forçoso e infalível, submeter a vontade humana à fé e à conversão. Ainda que se- jam consumadas todas as obras da graça que Deus emprega para converter o homem, ainda que Deus tenha a intenção e a vontade de regenerar o homem, mesmo assim, ele ainda poderá resistir a Deus e ao Espírito Santo — e de fato assim o faz geralmente — de modo a impedir completamente a sua regeneração. Portan- to, ainda está no poder do homem ser ou não regenerado. Refutação — Isso não é outra coisa senão negar toda a eficácia da graça de Deus na nossa conversão, e sujeitar a ação do Deus Onipotente à vontade do homem. É contrário aos apóstolos que ensinam “que cremos, segundo a eficácia da força do Seu poder” (Ef 1.19), que oram “para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé” (2Ts 1.11), e declaram que “pelo Seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (2Pe 1.3). Erro 9 — A graça e o livre-arbítrio são causas parciais que operam juntamente o começo da conversão. A graça não vem antes da atuação da vontade, na ordem seqüencial dessas causas. Deus não auxilia eficazmente a vontade do homem para que chegue à conversão, senão até que essa vontade se mobilize e determine fazê-lo. Refutação — A igreja antiga há muito condenou essa doutrina dos pelagianos conforme as palavras do apóstolo: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16). Também: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?” (1Co 4.7). E ainda: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2.13). Quinto Capítulo da Doutrina: A Perseverança dos Santos Artigo 1 — Os regenerados não estão livres do pecado inte- rior Aqueles que, de acordo com o seu propósito, Deus chama à co- munhão do Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e regenera pelo Seu Espírito Santo, Ele certamente os livra do domínio e da escravidão do pecado. Mas nesta vida, Ele não os livra total- mente da carne e do corpo do pecado. • Jo 8.34; Rm 6.17; 7.21-24. Artigo 2 — Os pecados diários da fraqueza Por essa causa ocorrem os pecados diários das fraquezas e há imperfeições até mesmo nas melhores obras dos santos. Para eles essas coisas são motivo permanente para se humilharem diante de Deus, para se refugiarem no Cristo crucificado, para mortificarem a carne cada vez mais mediante o Espírito de oração e através de santos exercícios de piedade, e para ansiarem e se esforçarem pelo alvo da perfeição até que finalmente, livres do corpo dessa morte, reinem com o Cordeiro de Deus no céu. • 1Jo 1.8; Cl 3.5; 1Tm 4.7; Fp 3.12, 14; Ap 5.6, 10. Artigo 3 — Deus preserva os que são Seus Por causa desses resquícios do pecado que ainda restam no ín- timo e também por causa das tentações do mundo e de Satanás, os convertidos não conseguiriam perseverar nessa graça se dei- xados às suas próprias forças. Mas Deus é fiel e os confirma mi- sericordiosamente na graça que, de uma vez por todas, lhes foi outorgada e os preserva poderosamente nela até o fim. • Rm 7.20; 1Co 10.13; 1Pe 1.5. Artigo 4 — Os santos estão sujeitos a cair em pecados graves Embora o poder de Deus, pelo qual Ele confirma e preserva os verdadeiros crentes na graça, seja tão grande que não pode ser vencido pela carne, os convertidos, contudo, nem sempre são guiados e dirigidos por Deus de sorte que não possam, em certas circunstâncias particulares e pela própria culpa deles, se desviar da direção da graça e serem seduzidos pela carne e se rendam à sua concupiscência. Por isso eles devem orar e vigiar constantemente para que não caiam em tentação. Quando não vigiam nem oram, eles não somente podem ser levados — pela carne, pelo mundo e por Satanás — a cometer sérios e atrozes pecados, mas, algumas vezes, podem ser levados a isso pela justa permissão de Deus. É o que demonstra a lastimável queda de Davi, de Pedro e de outros santos, descritas nas Escrituras. • Ef 1.19; Mt 26.41; 1Ts 5.6, 17; 2Sm 11; Mt 26. Artigo 5 — As conseqüências desses graves pecados Eles, no entanto, por causa desses pecados grosseiros ofendem profundamente a Deus, tornam-se culpados de morte, entriste- cem o Espírito Santo, suspendem o exercício da fé, ferem gravamente as suas consciências, e algumas vezes perdem o senso do favor de Deus — até que voltem ao reto caminho sinceramente arrependidos e a face paternal de Deus volte a brilhar sobre eles. • 2Sm 12; Ef 4.30; Sl 32.3-5; Nm 6.25. Artigo 6 — Deus não permitirá que os Seus eleitos se percam Pois Deus, que é rico em misericórdia, segundo o Seu propósito imutável de eleição, não retira completamente o Seu Espírito Santo dos que lhe pertencem, mesmo na sua deplorável queda. Tampouco permite que se afundem tanto a ponto de caírem da graça da adoção e do estado de justificação ou, que cometam o pecado para a morte — isto é, o pecado contra o Espírito Santo — e que, totalmente abandonados por Ele, se lancem na ruína eterna. • Ef 1.11; 2.4; Sl 51.13; Gl 4.5; 1Jo 5.16-18; Mt 12.31, 32. Artigo 7 — Deus renovará os Seus eleitos para o arrependimento Pois Deus, em primeiro lugar, preserva neles durante a queda, a Sua semente imperecível de regeneração para que ela não morra e seja lançada fora. Além disso, através da Sua Palavra e do Seu Espírito Ele certamente e eficazmente os renova para o arrepen- dimento. O resultado é que se afligem de coração com uma tristeza espiritual pelos pecados que cometeram; buscam e obtêm pela fé, com o coração contrito, o perdão no sangue do Mediador; experimentam novamente o favor de um Deus reconciliado e adoram as Suas misericórdias e fidelidade; daí em diante passam a desenvolver mais diligentemente a própria salvação com temor e tremor. • 1Pe 1.23; 1Jo 3.9; 2Co 7.10; Sl 32.5; 51.19; Fp 2.12. Artigo 8 — A graça do triuno Deus preserva Assim, não é pelos seus próprios méritos ou força, mas pela imerecida misericórdia de Deus, que eles não se desviam totalmente da fé e da graça nem permanecem caídos para se perderem totalmente no final. Quanto a eles, isto facilmente poderia acontecer e aconteceria sem dúvida. Mas quanto a Deus, não há a menor possibilidade de que isso aconteça, pois o Seu conselho não pode ser mudado; a Sua promessa não pode falhar; o chamado segundo o Seu propósito não pode ser revogado; o mérito, a intercessão e a proteção de Cristo não podem ser anuladas; e o selar do Espírito Santo não pode ser frustrado nem destruído. • Sl 33.11; Hb 6.17; Rm 8.30, 34; 9.11; Lc 22.32; Ef 1.13. Artigo 9 — A certeza dessa preservação Os próprios crentes podem ter a plena certeza da preservação do eleito para a salvação e da perseverança dos verdadeiros crentes na fé. E estão de fato convictos segundo a medida da fé de cada um deles, pela qual crêem firmemente que são e que permane- cerão membros verdadeiros e vivos da igreja e que possuem o perdão dos pecados e a vida eterna. • Rm 8.31-39; 2Tm 4.8, 18. Artigo 10 — A fonte dessa certeza Tal certeza não procede de alguma revelação particular além ou fora da Palavra, mas da fé nas promessas de Deus, que Ele revelou abundantemente em Sua Palavra para a nossa consolação; procede do testemunho do Espírito Santo que testifica com o nosso espírito que somos filhos e herdeiros de Deus; e finalmente, da busca incessante e séria por uma consciência limpa e de boas obras. Se os eleitos de Deus não tivessem neste mundo a sólida consolação da obtenção da vitória e da garantia infalível da glória eterna, eles seriam os mais miseráveis de todos os homens. • Rm 8.16-17; 1Jo 3.1, 2; At 24.16; Rm 8.37; 1Co 15.19. Artigo 11 — Nem sempre se sente esta certeza A Escritura, no entanto, testifica que os crentes enquanto nessa vida têm que lutar contra várias dúvidas da carne e, sujeitos a fortes tentações, nem sempre sentem essa segurança da fé nem a certeza da perseverança. Mas Deus, que é o Pai de toda a con- solação, não permitirá que sejam tentados além das suas forças, mas com a tentação proverá também o meio de escape, e pelo Espírito Santo fará ressurgir neles a certeza da perseverança. • 2Co 1.3; 1Co 10.13. Artigo 12 — Esta certeza é um estímulo à piedade Esta certeza de perseverança, longe de tornar os crentes verda- deiros em orgulhosos e acomodados, é antes a verdadeira raiz da humildade, da reverência filial, da piedade genuína, da re- sistência em todo combate, das orações fervorosas, da perseve- rança no sofrimento e na confissão da verdade, e da duradoura alegria em Deus. Além disso, a reflexão sobre esses benefício é para eles um incentivo à séria e constante prática da gratidão e das boas-obras, como evidencia o testemunho da Escritura e os exemplos dos santos. • Rm 12.1; Sl 56.12, 13; 116.12; Tt 2.11-14; 1Jo 3.3. Artigo 13 — Esta certeza não leva à negligência A confiança renovada não leva aqueles que foram restaurados, depois de haverem caído, à falta de zelo nem à negligência da piedade; antes produz neles um cuidado ainda maior em obser- var os caminhos do Senhor, que Ele preparou de antemão. Eles guardam esses caminhos para que ao andar neles conservem a certeza da sua própria perseverança; para que a face do seu Deus gracioso não se retire deles mais uma vez, por abusarem da Sua bondade paternal; para não caírem em maior angústia espiritual. De fato, para os que temem a Deus a contemplação da Sua face é mais doce do que a vida, e o privar-se dela é mais amargo do que a morte. • 2Co 7.10; Ef 2.10; Sl 63.4; Is 64.7; Jr 33.5. Artigo 14 — O uso dos meios de graça na perseverança Assim como aprouve a Deus começar essa obra de graça em nós pela pregação do Evangelho, assim Ele a mantém, Ele a conti- nua e Ele a aperfeiçoa em nós pelo ouvir e pela leitura da Sua Palavra, pela meditação nela, pelas suas exortações, ameaças e promessas, e pelo uso dos sacramentos. • Dt 6.20-25; 2Tm 3.16, 17; At 2.42. Artigo 15 — Esta doutrina é odiada por Satanás, mas é amada pela igreja Esta doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes e santos, assim como a convicção que têm dela, Deus revelou abundantemente em Sua Palavra para a glória do Seu nome e consolação dos piedosos. Ele é quem a imprime nos corações dos crentes. É algo que a carne não compreende, que Satanás odeia, que o mundo zomba, que os ignorantes e os hipócritas ultrajam e que os heréticos atacam. A Noiva de Cristo, por outro lado, sempre amou mui ternamente esta doutrina e sempre a defendeu firme- mente como a um tesouro de valor inestimável; e Deus, contra quem não vale conselho nem força alguma prevalece, cuidará para que ela continue a fazer assim. A esse Deus somente —Pai, Filho e Espírito Santo — seja a honra e a glória para sempre. Amém. • Ap 14.12; Ef 5.32; Sl 33.10, 11; 1Pe 5.10, 11. Rejeição de Erros Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da perseveran- ça dos santos,o Sínodo rejeita os seguintes erros: Erro 1 — A perseverança dos verdadeiros crentes não é fruto da eleição nem um dom de Deus obtido pela morte de Cristo, mas é uma condição da nova aliança que o homem tem a obrigação de cumprir pelo seu livre-arbítrio antes da sua assim chamada eleição e justificação decisivas. Refutação — A Sagrada Escritura testifica que a perseverança segue-se à eleição e é concedida ao eleito pela virtude da morte, ressurreição e intercessão de Cristo: “mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Rm 11.7). E também: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o en- tregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os elietos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8.32-35). Erro 2 — Deus verdadeiramente supri o crente de força suficiente para perseverar, e está pronto para preservá-la nele se ele cumprir suas obrigações. Mas mesmo estando prontas todas aquelas coisas necessárias à perseverança na fé, e que Deus usa- rá para preservar a fé, ainda assim sempre depende do arbítrio do homem perseverar, ou não, na fé. Refutação — Tal idéia é pelagianismo puro e simples. Embora pretenda tornar os homens livres, ela os torna ladrões da honra de Deus. Ela conflita com o coerente ensinamento do Evangelho que retira do homem todo motivo de vanglória e atribui todo o mérito desse benefício somente à graça de Deus. Ela é também contrária ao testemunho do apóstolo: É Deus quem “também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 1.8). Erro 3 — Os crentes verdadeiramente regenerados não apenas podem cair completa e definitivamente da fé justificadora, e tam- bém da graça e da salvação, como de fato não raramente caem e se perdem eternamente. Refutação — Essa opinião anula a graça da justificação e da regeneração e da sua contínua preservação por meio de Cristo, e contraria as palavras claras do apóstolo Paulo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.8, 9); contraria o apóstolo João: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9); e contraria também as palavras de Jesus Cristo: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10.28, 29). Erro 4 — Crentes verdadeiramente regenerados podem cometer o pecado que leva à morte, isto é, o pecado contra o Espírito Santo. Refutação — O mesmo apóstolo João, depois de haver falado daqueles que cometem o pecado que leva à morte e de proibir que se ore por eles (1Jo 5.16-17), acrescenta imediatamente (v.18): “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado (isto é, neste tipo específico de pecado); antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca”. Erro 5 — Sem uma revelação especial, jamais podemos ter nes- ta vida a certeza da perseverança futura. Refutação — Essa doutrina arranca nesta vida a segurança con- soladora dos verdadeiros crentes, e introduz novamente na igre- ja as dúvidas dos seguidores do Papa. As Sagradas Escrituras, no entanto, deduzem sempre esta certeza, não de uma revelação extraordinária e especial, mas das marcas peculiares dos filhos de Deus e das inabaláveis promessas de Deus. Assim o apóstolo Paulo declara especialmente que nada em toda a criação “poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39). E João escreve: “aquele que guarda os Seus mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele. E nisto conhe- cemos que Ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu” (1Jo 3.24). Erro 6 — Pela sua própria natureza a doutrina da certeza da per- severança e da salvação causa falsa segurança e é prejudicial àpiedade, à moral, à oração, e a todos os outros santos exercícios. Antes, pelo contrário, é louvável duvidar dessa certeza. Refutação — Esse erro desconhece o poder eficaz da graça de Deus e a operação do Espírito Santo que habita em nós. Ele con- tradiz o apóstolo João que ensina o oposto com essas palavras explícitas: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1Jo 3.2, 3). Além disso esse erro é refutado pelo exemplo dos santos, tanto do Velho quanto do Novo Testamentos, que, embora convictos da sua per- severança e salvação, não obstante continuaram em oração e em outros exercícios de piedade. Erro 7 — A fé daqueles que creram apenas por um tempo não di- fere da fé justificadora e salvadora, senão quanto à sua duração. Refutação — O próprio Cristo em Mateus 13.20-23 e Lucas 8.13-15 aponta explicitamente, além dessa duração, uma tripla diferença entre os que crêem apenas por um momento e os ver- dadeiros crentes. Ele declara que aqueles receberam a semente em solo rochoso, e que estes a receberam em solo bom; que aqueles não possuem raízes, mas que estes possuem uma raiz bem firme; que aqueles não possuem frutos, mas que estes os produzem em várias medidas, constante e firmemente. Erro 8 — Não é absurdo que alguém, tendo perdido a sua pri- meira regeneração, seja novamente e até frequentemente nasci- do de novo. Refutação — Essa doutrina nega que a semente de Deus, pela qual nascemos de novo, seja imperecível, e contraria o testemunho do apóstolo Pedro: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível” (1Pe 1.23). Erro 9 — Cristo jamais orou em nenhuma parte para que os crentes perseverassem infalivelmente na fé. Refutação — Isso contradiz o próprio Cristo, que disse: “Eu, porém, roguei por ti (Simão), para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.32). Também contraria o apóstolo João o qual declara que Cristo não orou penas pelos apóstolos, mas também por todos aqueles que viessem a crer pela palavra deles: “Pai santo, guarda-os em teu nome”, e: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.11, 15, 20). Conclusão Esta é a declaração clara, simples e sincera da doutrina ortodoxa quanto aos Cinco Artigos de Fé disputados nos Paises Baixos; e esta é a rejeição dos erros pelos quais as igrejas foram perturbadas, por algum tempo. O Sínodo julga que as presentes declarações e rejeições estão de acordo com a Palavra de Deus e com as confissões das Igrejas Reformadas. Tornando-se, por isso, evidente que alguns agiram de modo demasiado imprópria e contrário a toda a verdade, equidade e amor, desejando persuadir o povo do seguinte: 1. Que a doutrina das Igrejas Reformadas no tocante à pre- destinação e aos demais pontos relacionados a ela, por seu caráter e tendência, desvia os corações dos homens de toda a piedade e religião; 2. Que ela é um ópio para a carne, ministrado pelo diabo, bem como uma fortaleza para Satanás onde, à espreita de to- dos, fere multidões e atinge mortalmente a muitos com os dardos tanto do desespero quanto da falsa segurança; 3. Que faz de Deus o autor do pecado e um tirano injusto e hipócrita; e que nada é senão um renovado Estoicismo, Maniqueísmo, Libertinismo e Islamismo; 4. Que leva à negligência espiritual ao fazer as pessoas cre- rem que nada pode impedir a salvação dos eleitos, não impor- tando como vivam, e que, por essa causa, eles podem cometer em segurança os crimes mais atrozes. Por outro lado, ela nada pode fazer em favor da salvação dos reprovados, nem mesmo que eles tivessem realizado todas as obras dos santos; 5. Que a mesma doutrina ensina que Deus predestinou e criou a maior parte da humanidade para a condenação eterna, por um mero ato arbitrário da sua vontade, sem levar em con- sideração nenhum pecado; 6. Que da mesma maneira por que a eleição é a fonte e a causa da fé e das boas obras, a reprovação é a causa da incre- dulidade e da impiedade; 7. Que muitos filhos inocentes de pais crentes são arrancados do seio de suas mães e lançados de modo tirânico no inferno, de tal sorte que nem o sangue de Cristo, nem o batismo, nem as orações da igreja no ato do batismo lhes podem ser de qualquer proveito. E ainda há muitos outros ensinamentos desse tipo que as Igrejas Reformadas não apenas não confessam mas que até mesmo detestam de todo o coração. Este Sínodo de Dort, portanto, conclama em nome do Senhor a todos quantos piedosamente invocam o nosso Salva- dor Jesus Cristo, que não julguem a fé das Igrejas Reformadas a partir de calúnias ajuntadas daqui e dali; nem tampouco pelas declarações pessoais de alguns mestres, modernos ou antigos, muitas vezes citados em má-fé, ou tirados do contexto e explicados de modo contrário ao seu verdadeiro sentido. Mas deve-se julgar a fé das Igrejas Reformadas pelas Confissões públicas dessas igrejas e pela presente explanação da doutrina ortodoxa, confirmada pelo consenso unânime e individual dos membros de todo o Sínodo. Além disso, o Sínodo adverte aos próprios caluniado- res que considerem quão severo é o julgamento de Deus que aguarda aos que dão falso testemunho contra tantas igrejas e suas Confissões, que conturbam a consciência dos fracos e que tentam colocar sob suspeita, aos olhos de muitos, a comunidade dos verdadeiros crentes. Finalmente, este Sínodo exorta a todos os co-ministros do evangelho de Cristo a se conduzirem em santo temor e reve- rência diante de Deus quando lidarem com esta doutrina em es- colas e igrejas. Que ao ensiná-la, tanto pela palavra falada quan- to escrita, devem procurar a glória do nome de Deus, a santidade de vida e a consolação das almas aflitas. Seus pensamentos e palavras sobre a doutrina devem estar em concordância com a Escritura, segundo a analogia da fé. E devem se abster de usar todas aquelas expressões que ultrapassam os limites do verda- deiro sentido das Escrituras Sagradas para não dar aos frívolos sofistas uma boa oportunidade de caluniar ou zombar da doutri- na das Igrejas Reformadas. Que o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que está assentado à destra do Pai e concede os seus dons aos homens, nos santifique na verdade; que Ele traga à verdade os que dela se desviaram; que silencie os caluniadores da sã doutrina e supra os fiéis ministros da Sua Palavra com o Espírito de sabedoria e dis- cernimento, para que tudo aquilo que falarem seja para a glória de Deus e a edificação dos seus ouvintes. Amém. Confissão da Guanabara Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Calvinismo João Calvino Bases históricas: Cristianismo Agostinho de Hipona Reforma Marcos: A Institutio Christianæ Religionis de Calvino Os Cinco Solas Cinco Pontos (TULIP) Princípio regulador Confissões de fé Influências: Teodoro de Beza Sínodo de Dort Teologia puritana Karl Barth Igrejas: Reformadas Presbiterianas Congregacionais A Confissão de Fé da Guanabara foi o primeiro escrito protestante no Brasil e de todo o Continente Americano. Índice [esconder] • 1 História • 2 A Confissão • 3 Bibliografia • 4 Ligações externas [editar] História A Confissão foi redigida para responder aos questionamentos de Nicolas Durand de Villegagnon, apelidado pelo pastor Pierre Richier, em 1561, de "Caim das Américas". O documento foi redigido em cerca de doze horas numa prisão na ilha de Serigipe (atual Ilha de Villegagnon), por Jean du Bordel, (ou Bourdel), com o auxílio de Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon. Contém dezessete artigos, refletindo a doutrina calvinista. Após a sua finalização, os seus autores foram executados. Não está claro se Jacques le Balleur teve envolvimento na redação da Confissão, já que a data exata de sua fuga não é conhecida. A Confissão de Fé da Guanabara foi redigida depois de 4 de Janeiro e antes de 9 de Fevereiro; a data exata costuma ser referida como sendo 17 de Janeiro de 1558. A sua história é relatada no capítulo "Tragédia na Guanabara", de autoria ainda não desvendada, mas supostamente escrito por Jean de Léry. Outras teses indicam o nome do pastor Pierre Richier e o do próprio Jean Crespin, editor de livros, como possíveis autores; a autoria de Léry é fundamentada, entre outros, por Frank Lestringant - e publicado no livro História dos Mártires, de Jean Crespin. [editar] A Confissão "Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegagnon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo:" I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem. Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente. II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis. III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo, nos ensinam. IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem. E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra. V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração. Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: "Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste". O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios. Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: "Este pão é meu corpo". Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: "este é o sinal e a figura do meu corpo". S. Agostinho diz: "O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo." Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai. Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas. VI. Cremos que, se fosse necessário pôr água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência. E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamentando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente. VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer. VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal. IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus. De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus. X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem. Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: "Tua perdição é de ti, ó Israel". Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito. Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: "Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar". O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência. A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele. XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia. Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: "recebei o Santo Espírito;" depois acrescenta: "Se perdoardes a alguém os seus pecados", etc. Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor. XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence. No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares. XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho. XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto. XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos. E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: "Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias". Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: 'Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado'. As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade." Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência. XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte. Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras. XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos. Esta é a resposta que damos aos artigo por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. Assim seja. Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon." [editar] Bibliografia • Paulo Anglada, Sola Scriptura. A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998. [editar] Ligações externas